Torcer por Tzipi Livni
18 de setembro de 2008O resultado da eleição foi extremamente apertado, mas confirmou o prognóstico de que a ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, ganharia a corrida. Ainda que não com 10% ou até 12% de vantagem sobre o seu principal concorrente, o ministro dos Transportes, Shaul Mofaz, mas apenas 1%.
Traduzindo em números concretos: Livni obteve 431 votos a mais que Mofaz. O suficiente para iniciar o processo de formação de um novo governo, mas capaz também de dificultar este trabalho e até mesmo de colocar em questão a transição no primeiro escalão do governo de Israel.
Não é de forma injusta que Israel se vangloria de ser a única verdadeira democracia na região. Mas esta é a segunda vez consecutiva que uma troca de comando político não se dá por eleições gerais. Em janeiro de 2006, quando o primeiro-ministro Ariel Sharon – eleito nas urnas – caiu em coma, o governo passou para as mãos do seu vice, Ehud Olmert.
Quando a pressão sobre Olmert por causa das acusações de corrupção tornou-se insuportável, o Kadima convocou eleições para escolher sua nova liderança: na prática, 74 mil filiados deveriam decidir quais rumos Israel seguiria. Pouco mais da metade – 55% – fizeram uso desse direito.
Motivo suficiente para o Partido Trabalhista, comandado pelo ministro da Defesa, Ehud Barak, defender a realização de eleições gerais apenas algumas horas após a divulgação dos resultados da eleição partidária: o povo é quem precisa decidir os rumos de Israel. E o povo, acredita Barak, se decidirá pelos trabalhistas.
Só faltava essa! Se fossem convocadas novas eleições gerais, elas aconteceriam no mínimo apenas em março do próximo ano, e até lá Israel estaria ocupado com uma campanha eleitoral. E nada mais aconteceria no país.
Isso afetaria principalmente os – não exatamente bem-sucedidos – esforços para a resolução do conflito com os palestinos, já suficientemente prejudicados pelo fato de que, nos meses que antecedem a posse do novo presidente norte-americano, não é de se esperar algum impulso de Washington.
E ainda isto: o Partido Trabalhista se ilude ao sonhar com uma vitória eleitoral. O que provavelmente acontecerá é algo bem diferente: o grupo em torno de Barak permanecerá fraco, o Kadima também sairá enfraquecido e quem vai rir por último será o ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que, ao lado do que sobrou do partido Likud após a criação do Kadima, tem boas chances de voltar ao poder.
É fácil descobrir o que isso significaria. Foi Netanyahu quem diluiu o Tratado de Oslo a tal ponto que ele acabou fracassando. Esforços de paz não são tudo na política israelense, mas sem eles nada existe. Por isso é necessário manter a esperança de que Livni continue as negociações de paz com os palestinos e tenha sucesso. Se ela conseguir isso, ela tranqüilamente também poderá convocar eleições gerais.
Peter Philipp é chefe da equipe de correspondentes da Deutsche Welle e especialista em Oriente Médio.