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"Semáforo alemão" é reação aos autoritários do mundo

25 de novembro de 2021

Futura coalizão tripartite de governo da Alemanha comprova capacidade de conciliação de visões políticas, mandando recado aos que promovem o nacionalismo, o isolamento e o autoritarismo, opina Marcel Fürstenau.

"Coalizão semáforo": o SPD, representa a justiça; FDP, a liberdade, e os verdes, a sustentabilidadeFoto: Torsten Sukrow/Sulupress/picture alliance

Em breve, a Alemanha será governada por uma aliança inédita em nível federal, liderada por uma legenda que venceu de forma surpreendente as eleições, o Partido Social-Democrata (SPD). Esta força política das mais antigas, emergida do movimento operário do século 19, várias vezes mostrou coragem para realizar mudanças em sua longa história.

Mais recentemente, no início deste milênio, quando, junto com os verdes, modernizou o incrustado mercado de trabalho, a política social e econômica, num pacote de medidas chamado Agenda 2010. Uma mudança radical de rumo que permitiu ao "homem doente da Europa", como era então chamada a Alemanha, se recuperar, pelo menos economicamente. Isso trouxe a quarta maior economia do mundo de volta aos seus pés e foi capaz de reativar seu importante papel como a força motriz da Europa.

Cada partido tem sua marca no acordo

Não há dúvida de que também houve muitos perdedores nessa mudança radical de curso. A pobreza relativa na Alemanha é preocupante; em nenhum lugar há um setor de baixos salários tão amplo. O futuro governo da chamada "coalizão semáforo" - em referência às cores dos três partidos envolvidos: o SPD (vernelho), Liberal (amarelo) e Verde - quer agora mudar isso, aumentando o salário mínimo para 12 euros por hora - acima dos 9,60 atuais. Com isso, Olaf Scholz, o futuro chanceler e sucessor de Angela Merkel, está cumprindo uma importante promessa eleitoral do SPD. Isso é bom, porque cerca de 10 milhões de pessoas serão beneficiadas.

Entretanto, tal medida, que chega com atraso, era fonte de controversa nas negociações da coalizão, já que os liberais, fortemente orientados para a economia de mercado, realmente não têm propensão alguma a apoiar medidas que significam uma intervenção estatal na negociação salarial coletiva. Em contrapartida, o Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) conseguiu prevalecer com a sua exigência de adesão ao freio da dívida, ancorado na Constituição alemã, que limita o endividamento do país. E a marca dos verdes é inconfundível, pois se trata do assunto que lhe é mais caro: o clima. Por exemplo, a eliminação da geração energética a carvão deve ser antecipada de 2038 para 2030.

Boa ideia: comitê de crise para a pandemia

Os três partidos mostraram uma grande capacidade para chegar a um acordo. Para a implementação de seu ambicioso programa para a Alemanha, Europa e o mundo, eles precisarão de muitos aliados também além da equipe ministerial e fora do parlamento. Em seu próprio país, devem transformar rapidamente suas palavras em ações. Um bom começo é o anúncio da formação de um comitê de crise e de especialistas para conter a pandemia.

Já as promessas sobre política externa, de segurança, defesa e ajuda ao desenvolvimento parecem nada mais que boas intenções. Que a União Europeia deva atuar internacionalmente de forma mais coesa e firme já era a meta nos 16 anos sob o comando de Angela Merkel. O Brexit mostra como isso é difícil, quase impossível. E as forças centrífugas tendem a ser mais fortes do que mais fracas, se considerarmos como parâmetros os déficits em relação ao Estado de direito, especialmente na Polônia e na Hungria.

Scholz garante continuidade na Europa

Neste campo acidentado, o futuro governo alemão precisará de muita sensibilidade, mas também de assertividade. O mesmo se aplica aos seis Estados da região dos Balcãs Ocidentais que pretendem tornar-se membros da família europeia. Parece bom que, de acordo com o acordo de coalizão, a Alemanha queira exercer sua tradicional grande responsabilidade na UE com uma "mentalidade para servir". Com Olaf Scholz, que foi vice-chanceler de Angela Merkel, a continuidade está garantida.

O mesmo se aplica à relação com a Aliança de Defesa do Atlântico Norte (Otan) e, com isso, automaticamente com os EUA. Se o componente político deve ser paralelamente fortalecido, isso faz mais que sentido, considerando, aliás, incidentes como desastre militar no Afeganistão. A intenção de lutar por uma política restritiva de armas se encaixa perfeitamente nisso.

Na tradição de Willy Brandt

Mesmo em relação a países tão diferentes como China, Rússia e Turquia, a futura coalizão governamental quer fazer se tornou inevitável após muitos anos de crescentes tensões: insistir na observância dos direitos humanos e permanecer em contato, apesar dos relacionamentos em crise. Para todos esses desafios – tanto nacionais como internacionais –, os três partidos parecem ter encontrado uma base de atuação.

Não é por acaso que o lema "Ousar mais progresso" do acordo de coalizão lembre o slogan do SPD na época do primeiro chanceler social-democrata, Willy Brandt. "Ousar mais democracia" era uma promessa da coalizão forjada juntamente com o FDP em 1969. Uma promessa que a Alemanha foi implementando passo a passo, levando, no plano internacional, a uma política de relaxamento de tensões com a parte comunista do mundo.

Atitude democrática e espírito otimista

Ao se descrever como uma "aliança pela liberdade, justiça e sustentabilidade", a futura "coalizão semáforo" faz uma referência à sua autoimagem: o FDP representa a liberdade; o SPD, a justiça, e os verdes, a sustentabilidade. Quem poderia ter algo contra esta tríade melodiosa? Somente aqueles que, dentro e fora da Alemanha, são a favor do nacionalismo, do isolamento e da política autoritária. Infelizmente, existem muitos deles. Reagir a eles com autoconfiança, atitude democrática e espírito de otimismo é um bom sinal enviado pela Alemanha.

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Marcel Fürstenau é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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