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Opinião: Será que eu sou um populista?

Felix Steiner as
26 de julho de 2017

Um fantasma ronda a Europa: o do populismo. Mas o que exatamente é isso e que perigo representa de fato? Para o articulista Felix Steiner, uma recente pesquisa com eleitores alemães trouxe mais dúvidas que certezas.

Eleitores da AfD protestam contra a política de refugiados do governo alemão em Berlim, em novembro de 2015
Eleitores da AfD protestam contra a política de refugiados do governo alemão em BerlimFoto: picture alliance/NurPhoto/M. Heine

O mais recente estudo da Fundação Bertelsmann me deixou confuso. "Eu sou um populista?" é a pergunta que me faço o tempo inteiro desde então. E, se a resposta for afirmativa, isso é mesmo ruim? Afinal, quase 30% dos alemães são totalmente populistas, e outros 34% "mais ou menos populistas".

Aqui na Alemanha fala-se toda hora da "sociedade de dois terços", que supostamente exclui o terceiro terço – ou seja, os socialmente mais fracos – de quase tudo. Bom, desta vez os não populistas foram excluídos. Problema deles. Eles poderiam pensar como eu.

Felix Steiner é editor de opinião da DW

Populismo, principalmente populismo de direita, é um palavrão. Populismo de esquerda também, mas menos. Na escola eu aprendi que populismo é dizer ao povo o que ele quer ouvir sem ter a menor ideia de como transformar aquilo tudo em realidade.

Por essa definição, os maiores populistas são o Partido Social-Democrata (SPD) e A Esquerda, com seu eterno clamor por "mais justiça" (e quem define o que é isso?), que antes de mais nada custa muito dinheiro e que ninguém sabe dizer de onde viria. O exemplo mais recente é a ideia do candidato a chanceler do SPD, Martin Schulz, de criar uma conta com 20 mil euros para cada trabalhador poder investir em sua formação profissional, e isso antes mesmo de este ter pago um centavo que seja em impostos.

A Fundação Bertelsmann optou por outro viés. A resposta a oito perguntas define se você é totalmente populista ou meio populista. Afinal, os populistas se caracterizam por três posições básicas: são contra o establishment, contra a pluralidade e a favor da soberania popular. Façamos, então, o teste.

Não, eu não sou contra o establishment, nem mesmo na política. Eu até mesmo defendo a ideia de que o povo tem o direito de ser governado pelo que a nação tem de melhor. Por isso, também não acho um escândalo que a chanceler federal ganhe cerca de 15 mil euros por mês – qualquer diretor de banco ganha mais do que isso na Alemanha. Temos de dar valor à nossa elite, e isso deve ser perceptível nos salários. Afinal, todos têm uma chance de lutar por um lugar no topo.

A favor da soberania do povo? Por trás disso esconde-se o desejo por plebiscitos e referendos sempre que for possível. Por que eu deveria achar isso bom? Não faz nem um ano, os britânicos tiveram a amarga experiência de que questões complexas não são necessariamente compatíveis com referendos. E também os alemães teriam feito a opção "errada" várias vezes se tivessem sido questionados, por exemplo na questão do rearmamento, nos anos 1950, e na questão das armas nucleares da Otan, nos anos 1980.

Além disso, é sempre bom dar uma olhada para o que acontece nos estados e municípios alemães que organizam consultas populares. Na maioria dos casos, estes acabam decididos não pelo voto daqueles que foram às urnas, mas pelas abstenções, pois a maioria dos eleitores não quer nem saber da democracia em detalhes. Portanto: se no nosso Parlamento estão os melhores, então eu confio neles e eles que decidam sobre as questões que surgirem.

Resta um ponto: eu sou contra o pluralismo? Claro que não! Nada me incomoda mais na atual legislatura do que esse cultivo da monotonia no Bundestag. A pluralidade de opiniões quase não existe. O acolhimento de mais de 1 milhão de chamados "refugiados", muitos deles sem qualquer documento de identidade? Os deputados nem se dignaram a debater o tema. O cerceamento à liberdade de imprensa na internet e a introdução do casamento homossexual renderam, cada um, uma hora de debates. Dada a relevância desses assuntos, não se pode chamar isso de momento de glória da legislatura. Qualquer debate televisivo e qualquer conversa de bar tiveram mais discurso democrático do que o Parlamento alemão nos últimos quatro anos.

Diante disso, eu já estou até torcendo para que o Partido Liberal-Democrático (FDP) e a Alternativa para a Alemanha (AfD) entrem no Parlamento alemão na próxima eleição, para que assim haja dois partidos que não se entreguem ao mainstream opinativo "grande coalizão-esquerda-verde". E que o Parlamento, como a casa da democracia alemã, seja de novo mais plural.

Só tem um coisa: apenas e somente os eleitores da AfD receberam da Fundação Bertelsmann o rótulo de "populistas". E também os apoiadores do FDP são considerados bem mais populistas do que os da CDU ou do Partido Verde. Quer dizer então que, se eu desejo sucesso ao FDP e à AfD, eu sou um populista?

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