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Sul global no impasse entre lucrar com a China e autonomia

Portrait Prof. Dr. Dr. Alexander Görlach
Alexander Görlach
11 de maio de 2023

Grandes demoracias como o Brasil dependem economicamente de Pequim, mas isso não significa automaticamente que apoiem suas políticas totalitárias. O Ocidente precisa mantê-las do seu lado, opina Alexander Görlach.

Então presidente Bolsonaro foi recebido cm honras de Estado em Pequim em 2019Foto: Stephen Shaver/UPI/newscom/picture alliance

Na sequência da confrontação entre sistemas liberal-democráticos e totalitários, especialmente visível na polarização entre os Estados Unidos e a República Popular da China, os países do assim chamado "Sul global" desempenharão um papel decisivo. Eles passaram a ocupar o foco do interesse sobretudo no contexto das sanções que o mundo democrático procura impor contra a Rússiadevido a seu ataque contra a Ucrânia, numa violação do direito internacional.

Apesar de nominalmente contarem entre as maiores democracias do mundo, Estados como o Brasil e a Índia não se posicionaram inequivocamente a favor do país sob agressão militar – em primeira linha para não cair no desagrado de Moscou e de seu mais poderoso aliado, Pequim.

Os críticos veem aí, acima de tudo, falta de qualidade moral e um defeito do compasso democrático. Na verdade, os motivos são mais diferenciados, pois tanto Brasília quanto Nova Déli contemplam com desconfiança uma polarização global entre chineses e americanos visando dividir o mundo em duas esferas.

Hipocrisia do Ocidente

Seja através do comércio, investimentos ou concessão de empréstimos, atualmente a China é, de longe, a maior e, portanto, mais importante parceira das nações do Sul global, geralmente seguida pelos EUA, Japão e União Europeia. Identificar-se com um dos lados da nova potencial Guerra Fria teria consequências graves para o desenvolvimento econômico, do Chile à Indonésia, podendo acarretar uma rápida desestabilização política desses países.

Além disso, entre eles ainda está fresca a lembrança do imperialismo e do colonialismo ocidental. Ou seja: ninguém "engole" que o Ocidente seja hoje o defensor de valores que desprezou durante séculos. Além disso, os EUA e seus aliados são considerados cínicos e hipócritas: por vezes execram as violações dos direitos humanos, em outros casos as ignoram totalmente.

O atentado ao direito internacional cometido por Washington com a invasão do Iraque, as câmaras de tortura instituídas em Abu Ghraib e Guantánamo a pretexto de "guerra contra o terror", ainda vão conspurcar a reputação dos EUA durante décadas.

Pequim não conquista corações

Um posicionamento do Brasil, Índia, Indonésia ou Chile como – se assim se quiser chamar – potências autônomas ou elementos de uma ordem mundial multipolar não significa automaticamente uma manifestação simpatia por Pequim ou Moscou. Essa é a boa notícia.

Devido aos entrelaçamentos existentes, porém, esses países não conseguirão escapar da influência chinesa – da mesma forma que as nações europeias ou a Austrália, cujos déficits comerciais com Pequim aumentam de ano para ano. Ao mesmo tempo, esses mesmos Estados buscam sua garantia de política de segurança em alianças ocidentais democráticas, sobretudo com os EUA.

São justamente essas alianças crescidas e sedimentadas ao longo de décadas que conferem a Washington vantagem na atual situação global. Pequim não dispõe de laços desse tipo, e o reconhecimento de realidades econômicas está longe de significar que a República Popular sob seu líder Xi Jinping tenha conquistado os corações do Sul global.

Sanções após um ataque a Taiwan?

A melhor esperança para Pequim, no momento, é que os países do Sul guardem uma certa neutralidade. Tal não significa, em absoluto, que tenham interesse em sustentar uma nova ordem mundial em que a China totalitária dita o tom. Para Xi e seus quadros de liderança, contudo, isso já representa uma enorme vitória. Por exemplo, caso resolva atacar a república insular do Taiwan, no atual contexto seguramente não haverá uma reação na forma de sanções contra seu regime.

É inegável que no momento está ocorrendo uma retração da fase da globalização marcada pelo livre-comércio e a maximização dos lucros. Em vez disso, considerações de segurança e interesses geopolíticos orientarão a economia mundial em sua próxima fase.

Nesse ponto é preciso também fazer-se acompanhar por países que em geral são a favor de maior independência em relação a uma China cada vez mais autoritária, mas ao mesmo tempo querem manter o próprio desenvolvimento econômico e social positivo. De outro modo, não terá sucesso o de-risking – o desacoplamento em relação a Pequim para contenção de danos.

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Alexander Görlach é membro sênior do Carnegie Council for Ethics in International Affairs e pesquisador associado do Instituto de Religião e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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