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Trump uniu a Europa

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Max Hofmann
20 de janeiro de 2019

Em dois anos, o presidente americano gerou fissuras nas relações transatlânticas como nunca antes em tempos de paz. Mas suas posições garantiram a solidariedade e o progresso da União Europeia em muitas áreas.

A foto que rodou o mundo: os líderes do G7 e Trump, de braços cruzados, em junho de 2018Foto: twitter.com/RegSprecher

É difícil imaginar que, apenas dois anos atrás, havia vida sem Donald Trump. Em Bruxelas, onde têm sua sede a União Europeia e a Otan, o presidente americano tem um papel-chave. E mesmo de seu escritório do outro lado do Atlântico, Trump certamente já se estabeleceu na memória coletiva da Europa.

Causaram calafrios em Bruxelas, por exemplo, as inesquecíveis aparições de Trump nas reuniões da Otan, as ameaças de sobretaxar automóveis europeus e o anúncio de retirar os Estados Unidos do tratado de desarmamento nuclear.

Pode-se dizer, então, que, ao menos do ponto de vista europeu, tudo relacionado ao presidente americano é abominável? Muitos diriam que sim, mas as coisas não são necessariamente assim. Em muitas formas, Trump na verdade fez bem para a Europa. Os benefícios são claramente sem intenção, mas são óbvios. Trump uniu a Europa.

As posições de Trump garantiram a solidariedade e o progresso europeu em muitas áreas. A Cooperação Estruturada Permanente (Pesco) entre os países-membros da UE, por exemplo, nos campos de políticas externa e de segurança, não existiria sem Trump.

Mesmo após a eleição de Trump, a popularidade do bloco está em alta – claro, ao menos "no continente”. Em Bruxelas, muitos chegam a dizer – a portas fechadas – que Trump é a melhor coisa que poderia ter acontecido para a UE.

Mas Trump, certamente, também impõe uma ameaça à Europa. E isso não apenas pelas razões óbvias – como a saída do Acordo Climático de Paris, do pacto nuclear com o Irã e as ações que desestabilizaram as relações comerciais.

A ameaça, na verdade, vem do fato que mesmo dentro das fronteiras europeias Trump está angariando apoio entre a população e políticos. Eles não necessariamente admiram o presidente por sua insolência e insultos, mas eles o apreciam por seu desprezo pelo politicamente correto e por abordar verdades que muitas vezes são varridas para baixo do tapete.

Alguns exemplos: a acusação de que os europeus não estão pagando a contribuição combinada para a Otan (evidentemente correto); a acusação de que os EUA estão em desvantagem tarifária em relação a China e UE (em muitos aspectos, correto); a declaração de que a Rússia violou o tratado de desarmamento nuclear (correto); a declaração de que algumas instituições multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio, são obsoletas e ineficientes (nos últimos anos, também correto).

A forma como Trump se comporta passa dos limites – não há como negar. Mas isso não é suficiente para anular suas tiradas no Twitter, porque muitas pessoas não se importam com maneiras – especialmente em tempos como os atuais.

Mas a UE tem que fazer o seu melhor para mudar os rumos dos ventos que conduzem Trump. Em alguns casos, já o está fazendo, por exemplo, ao aumentar os gastos com defesa e coordenar as políticas externa e de segurança.

A Europa também está começando a levar a sério os temores de muita gente que caiu nas redes de populistas como Trump. Isso inclui a preocupação com a própria identidade num mundo cada vez mais globalizado e complexo, no qual a realidade é moldada por gigantes da tecnologia na China e nos EUA.

O sucesso de Matteo Salvini, servindo como vice-primeiro-ministro e ministro do Interior da Itália, e do premiê da Hungria, Viktor Órban, são provas cabais, no entanto, de que a Europa ainda não conseguiu afastar essas preocupações.

Que lições então tirar dos dois anos de Trump na Casa Branca?

A União Europeia está tentando tirar proveito do momento criado pelo presidente americano em vários campos da política e do comércio internacionais. Trump deu aos europeus finalmente o ímpeto para construir um bloco não apenas economicamente importante. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, definiu isso com uma palavra em alemão: "weltpolitikfähigkeit”, a "capacidade de exercer nosso papel em assuntos globais em mutação”, como ele explicou.

A inteligência e esperteza de Juncker fazem dele um dos poucos políticos europeus que parecem ter encontrado uma estratégia bem-sucedida de como lidar com Trump. No comércio, por exemplo, ele oferece entendimentos simples e claros – o jogo de dar e receber que no qual o empresário Trump parece ver sentido.

Em termos de reduzir o impacto de potenciais populistas como Trump, usar o espaço criado para manobras na política mundial, e encontrar as estratégias mais efetivas para lidar com o presidente americano, os dois últimos anos foram uma curva de aprendizado para a UE.

Mas nem a Europa nem o resto do mundo liberal encontraram uma forma efetiva para prevenir os danos causados por Trump nas relações transatlânticas. Trump está, sem querer, assegurando que a Europa finalmente busque sua independência. Ainda assim, de uma perspectiva europeia, juntando os cacos da porcelana quebrada, teria sido melhor se a Europa tivesse amadurecido sem precisar de Trump.

Max Hoffmann é chefe da sucursal da DW em Bruxelas.

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