Opinião: "Trumpcare" é combustível para republicanos
5 de maio de 2017Todo americano deve determinar o seu próprio destino. Com essas palavras, o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, fez campanha pela revisão do Obamacare, como ficou conhecida a reforma no sistema de saúde introduzida pelo ex-presidente Barack Obama.
Ryan agiu como se os cidadãos americanos estivessem ameaçados de ser controlados por burocratas em Washington. Mas isso é um absurdo: na verdade, vai-se mais uma porção de solidariedade social com aqueles que não podem ajudar a si mesmo.
"Trumpcare", como é chamado o projeto de lei, significa que a participação do Estado vai diminuir ainda mais. Milhões de americanos podem perder seu seguro-saúde – apesar de todas as afirmações contrárias por parte dos republicanos. Os cidadãos com doenças pré-existentes e enfermidades crônicas, argumentam, vão continuar segurados. Mas ainda não está claro de onde virá o dinheiro para tal.
O projeto de lei republicano ainda não é lei. Ele ainda tem que ser aprovado pelo Senado. Mas, antes, os senadores vão propor mais alterações. A maratona de negociações vai continuar, podendo durar meses. Apesar disso, no ponto de vista de Donald Trump, a votação da Câmara de Representantes foi um sucesso: já há sete anos, os republicanos prometem revogar o Obamacare e substituí-lo por algo melhor. As respectivas tentativas fracassaram até agora. O atual voto na câmara baixa do Congresso americano sinaliza que os republicanos sob o presidente Trump têm capacidade de agir, que eles podem governar.
Esse êxito vai encorajar o partido. Nos bastidores de Washington, vai se trabalhar agora com mais pressão numa reforma tributária que deverá aliviar ainda mais os ricos. Wall Street vai ficar contente. Menos gastos sociais e fiscais implicam cotações mais elevadas de ações. Ou como concluiu cinicamente um corretor: a bolsa de valores não é nenhuma agência de bem-estar social.
O sucesso da votação na Câmara de Representantes vai assegurar que, futuramente, Trump e o presidente da Casa se entendam melhor. Paul Ryan concedeu ao presidente americano o primeiro "sucesso legislativo". Algo assim estreita laços. Todas as especulações sobre uma possível substituição de Ryan se calaram.
O mundo exterior precisa se ocupar da reforma do sistema de saúde, das disputas internas americanas? Definitivamente. Elas são uma indicação de estrutura de poder em Washington. Os republicanos se distanciaram desse presidente por um bom tempo. Agora, eles o seguem. Isso também fortalece a posição de Trump no mundo.
Por outro lado: a redução dos gastos sociais nos Estados Unidos é alarmante. O que nações mais pobres podem esperar de Washington, se o governo foge da responsabilidade perante os mais vulneráveis no próprio país?
O jornalista Miodrag Soric é correspondente da DW em Washington.