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Opinião: Turquia embarca com força no combate ao EI

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Seda Serdar
24 de julho de 2015

Embora com grande atraso, Ancara se uniu à aliança internacional contra os jihadistas, liderada pelos EUA. No entanto é preciso manter o equilíbrio entre ação e paz nacional, opina Seda Serdar, da redação turca da DW.

Seda Serdar, da redação turca da DW

Em seguida ao atentado de 20 de julho em Suruç, que matou 32 pessoas, as autoridades turcas finalmente decidiram iniciar uma ação militar contra o "Estado Islâmico" (EI). A primeira ofensiva aérea turca contra os jihadistas, na madrugada desta sexta-feira (24/07), também sugere uma mudança na política do país na luta contra o grupo terrorista.

Motivação da ofensiva não foi apenas o ataque à cidade na Anatólia, mas também as ameaças crescentes ao longo das fronteiras e em território turco. Apenas alguns dias depois de Suruç, milicianos do EI abriram fogo contra forças turcas, provocando reação militar.

A iniciativa militar também vem depois de quase um ano de negociações com os Estados Unidos e de correspondência diplomática intensificada, nas últimas semanas, sobre a contribuição de Ancara no combate ao EI.

A cooperação mais estreita também levou à abertura da base aérea de Incirlik, com enorme vantagem para a aliança internacional anti-EI. Até esta sexta-feira, a base só fora utilizada para apoio logístico e de inteligência, agora as forças da coalizão poderão também lançar missões de ataque a partir de Incirlik.

Isso significa que as forças aéreas de combate aos jihadistas voarão uma distância mais curta até seus alvos, podendo permanecer mais tempo na área para realizar ofensivas. No entanto, embora traga vantagem militar para a aliança, essa cooperação também tornará a Turquia um alvo mais visado pelo EI.

Os EUA queriam usar a base de Incirlik desde que as forças aliadas começaram a bombardear os alvos dos terroristas, em 2014. A intenção não se concretizou porque os presidentes Recep Tayyip Erdogan e Barack Obama não chegaram a um acordo em muitas questões.

A prioridade absoluta de Obama era aniquilar a milícia jihadista. Erdogan, por sua vez, não acreditava que se pudesse alcançar essa meta sem também depor o ditador sírio Bashar al-Assad, que sabidamente há décadas abriga combatentes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), classificado por Ancara como terrorista.

Por outro lado, assim que começou a ofensiva contra o EI, a Turquia se deparou com uma tomada de reféns. Em junho de 2014, 49 cidadãos turcos, inclusive o cônsul-geral foram capturados em Mossul. A situação foi resolvida sem mortes, mas ainda assim o preço foi alto para Ancara.

Mesmo compreendendo a seriedade da ameaça, o governo não deu os passos certos para combater a organização terrorista. Políticas equivocadas nesse campo não precipitaram apenas os ataques em Suruç, mas também choques entre o EI e o PKK, colocando em risco a paz em território turco.

E assim se chega à segunda parte do problema. O processo de paz na Turquia, que daria fim a 30 anos de choques com o PKK, há muito está estagnado. Os esforços prolongados para formar um novo governo desde as eleições de junho tampouco ajudam. Nos últimos dias, um aumento dos ataques dos curdos contra forças de segurança nacional tem comprovado quão atual esse problema é.

Quase simultaneamente com as ofensivas aéreas turcas na fronteira síria, mais de 5 mil policiais começaram uma batida contra células terroristas por toda a Turquia. Ao que parece, Washington e Ancara concordaram quanto à necessidade de combater todas as formas de terrorismo, e não apenas a que é percebida pela comunidade internacional como uma ameaça maior.

O mais importante para Ancara, neste momento, é visar a paz e a estabilidade interna. Autoridades turcas declararam publicamente que não se trata de uma ofensiva isolada, e que a luta contra o terrorismo prosseguirá. Embora o país tenha que se defender contra a o terror, ele precisa evitar resvalar para um estado de caos.

Para assegurar isso, são necessários diversos passos. Antes de tudo, a animosidade dentro da sociedade turca tem que acabar. Todos os protagonistas políticos precisam conclamar à unidade nacional, uma vez que o terrorismo, em todas as suas formas, é o maior inimigo.

Em segundo lugar, o governo deve acelerar seus esforços para proteger a fronteira. São desencorajadoras as notícias de que serão precisos três anos para tal. E, por fim, mas não menos importante, a Turquia tem que olhar para o interior de sua sociedade e se perguntar por que centenas de jovens estão ingressando no EI – e adotar medidas concretas para combater a propaganda terrorista.

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