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Opinião: Ucrânia escolhe um novo começo com comediante

Bernd Johann
22 de abril de 2019

Volodimir Zelenski não teve dificuldades para derrotar o atual presidente, Petro Poroshenko, no segundo turno. Há risco de decepção, mas o resultado manda um forte recado democrático, opina Bernd Johann.

Foto: picture-alliance/dpa/ZUMA Wire/S. Glovny

No palco, o comediante tem um trabalho relativamente fácil. Como um sedutor e provocador, ele cativa as pessoas. Sua promessa mais importante para o público é proporcionar um bom entretenimento. Seu sucesso é garantido quando a promessa é prontamente cumprida. Quando o público ri e aplaude, o comediante venceu.

Volodimir Zelenski já desempenhava o papel de presidente da Ucrânia em uma série de TV. Mas agora ele foi realmente eleito presidente. O ator e comediante derrotou o atual presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, por uma ampla vantagem no segundo turno das eleições do país, que ocorreram no domingo (21/04). Ele não deu a menor chance para Poroshenko nessa que foi uma campanha extremamente polarizada e dominada pela personalidade dos candidatos.

Zelenski repetidamente se recusou a participar de um genuíno debate público. As opiniões políticas desse novato de 41 anos também foram vagas. Mas, no palco e nas mídias sociais, Zelenski foi um mestre. E ele conseguiu direcionar a sua campanha eleitoral para lançar amplas críticas ao sistema representado por Poroshenko.

A vitória eleitoral de Zelenski mostra que a mudança é possível se grandes setores da população estiverem insatisfeitos com a política atual. Depois de cinco anos sob Poroshenko, a Ucrânia ainda é um dos países mais pobres da Europa. Os investimentos estrangeiros são escassos, o judiciário não é independente e a corrupção e o nepotismo são praticamente a regra. Mais recentemente, o próprio Poroshenko se viu sob suspeita depois que vários escândalos de corrupção abalaram seu círculo íntimo.

Ainda há o conflito com os separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia. Não há perspectiva imediata para uma solução política num futuro próximo – nem mesmo para algum progresso em questões  humanitárias, para as pessoas que estão próximas das frentes de combate ou para presos políticos. Poroshenko, como comandante em chefe, implementou reformas no exército. Mas ele também se transformou em um linha-dura nacionalista sem opções políticas em aberto parar tratar da Crimeia e da questão do Donbass.

Todos esses problemas agora confrontam Zelenski, que durante a campanha eleitoral não tentou disfarçar a sua falta de experiência política. Ele não será capaz de resolver esses problemas com a astúcia, charme ou vídeos engraçados do YouTube. É bem provável que ele e seus apoiadores tenham poucos motivos para rir em breve - porque o recomeço prometido será difícil e vem com  risco de fracasso.

Ucranianos querem novos rostos na política. Zelenski tem apenas uma pequena equipe à sua disposição. E só ficará claro depois das eleições parlamentares, previstas para ocorrer em outubro, quem, de fato, governará a Ucrânia no futuro. A essa altura também ficará claro com que forças políticas Zelenski se alinhará – e esse desdobramento pode trazer desapontar uma parte daqueles que votaram nele.

Volodimir Zelenski terá que tomar cuidado para que tais alianças não tirem o impulso da onda de otimismo que garantiu sua eleição. Ele já foi acusado de ter laços pessoais e comerciais estreitos com o controverso oligarca ucraniano Ihor Kolomoyskyi. Ainda há a questão de como Zelenski, o empreendedor, vai dirigir seus negócios de entretenimento e empresas de mídia quando se tornar presidente. Os ucranianos ainda aguardam respostas de seu futuro presidente. Agora, como presidente, ele deve finalmente explicar e demonstrar através de ações o que fará para melhorar o país.

A Europa, os Estados Unidos e o Canadá, que apoiam um caminho de reformas na Ucrânia, também estão atentos sobre como as coisas vão progredir. Eles querem ver uma passagem ordenada de poder e ver os vencedores e os perdedores respeitarem o resultado da eleição. Os ucranianos usaram pela segunda vez de meios democráticos para desencadear um novo começo político desde os protestos de Maidan em 2013. E eles devem ser parabenizados por isso.

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