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Ucrânia sobrevive, mas Ocidente deveria se envergonhar

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Roman Goncharenko
25 de fevereiro de 2022

Catástrofe iniciada pela invasão russa poderia ter sido evitada se potências ocidentais não viessem fazendo vista grossa desde 2014, opina Roman Goncharenko.

Coluna de fumaça em aeroporto militar ucraniano após bombardeio russoFoto: Aris Messinis/AFP/Getty Images

Quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022 – nunca esqueceremos este dia. O dia em que uma insana liderança russa decidiu lançar uma grande guerra contra a Ucrânia. O dia para o qual os ucranianos e seus amigos ao redor do mundo há muito se preparavam, embora tendo a esperança de que ele nunca fosse chegar. O dia em que o Kremlin simplesmente começou uma guerra na Europa.

Muitos estão se perguntando: como isso pode ter acontecido? A resposta pode ser tirada de uma citação de Winston Churchill: "Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra, e terão a guerra". A extensão da invasão não deixa dúvidas: as tropas russas atacaram a Ucrânia, assim como fizeram cerca de 100 anos atrás, quando a Ucrânia declarou a independência pela primeira vez. As consequências desse passo monstruoso abalarão o mundo.

O erro fatal do Ocidente

O Ocidente tem uma parte considerável da responsabilidade por esta situação. Quando a Rússia atacou a Ucrânia e anexou a Crimeia em 2014, pela primeira vez desde sua declaração de independência em 1991, o Ocidente optou pela desonra de que falava Churchill.

Os líderes dos EUA, Alemanha e outros países ocidentais importantes seguraram o governo ucraniano com as duas mãos e imploraram que não resistisse. Sob nenhuma circunstância o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deveria ser "provocado". O motivo: exatamente 100 anos após a Primeira Guerra, o Ocidente temia uma nova conflagração mundial. Embora compreensível, esse foi um erro fatal.

A Rússia, embriagada por seu sucesso na Crimeia, continuou com a guerra na região do Donbass, no leste da Ucrânia. O Ocidente, por outro lado, armava a Ucrânia de forma apenas relutante (a Alemanha se recusou inteiramente a dar esse passo) e evitou impor medidas duras de retaliação contra Moscou.

Somente após a derrubada do voo MH17 da Malaysia Airlines houve sanções isoladas contra a economia russa. Mas elas eram tão limitadas e fracas que Moscou concluiu que provavelmente poderia continuar sem oposição séria.

Hora de ajudar Kiev

A Ucrânia também subestimou o nível de loucura da liderança de Moscou e a atitude de grandes setores da população russa, que não percebem a Ucrânia como um Estado independente. E muitos ucranianos também se sentiam seguros: "Somos vizinhos, parentes – a Rússia não ousará iniciar uma guerra aberta".

Nem mesmo o governo de Kiev cortou relações diplomáticas com a Rússia na época, enviando, assim, um sinal equivocado também a seus aliados no Ocidente. Sempre no espírito de "a coisa não é assim tão grave".

E assim perdeu-se a chance de se evitar a guerra que acaba de começar. Os líderes ocidentais optaram por negociar com a Rússia, na esperança de aplacar o agressor. Sendo que essa abordagem nunca foi bem sucedida na história humana – e igualmente fracassou no caso da Ucrânia.

A Rússia usou as receitas de suas exportações de petróleo e gás para desenvolver novas armas e se preparar para uma guerra apocalíptica – não apenas contra a Ucrânia, mas contra o Ocidente como um todo. Houve muitos avisos, tudo aconteceu abertamente – o Kremlin e seus propagandistas nunca esconderam suas intenções. Mas o Ocidente optou por fechar os olhos. Na verdade, a cara dos políticos ocidentais deveria estar vermelha de vergonha.

Ucrânia não volta ao controle de Moscou

Agora é a hora de corrigir os erros e ajudar a Ucrânia da maneira que pudermos. Haverá luta, derramamento de sangue, talvez ocupação e uma longa guerra de guerrilha. A Ucrânia perderá muitos de seus melhores filhos e filhas.

Mas ela sobreviverá – não há dúvida sobre isso. Os ucranianos nunca se conformarão em ser colocados na coleira por Moscou. Esse tempo acabou e não vai voltar.

E a Rússia? A rota de agressão tomada por Moscou contra a Ucrânia e todo o mundo ocidental mais cedo ou mais tarde terminará em desastre. Depois disso, a Rússia pode ter a chance de começar de novo. Mas neste momento, cada um que ama a liberdade é um ucraniano.

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Roman Goncharenko é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

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