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Opinião: UE precisa de um novo realismo

7 de fevereiro de 2017

Euforia com o ideal europeu, quando da assinatura do Tratado de Maastricht, deu lugar ao questionamento e a um certo ceticismo. É hora de a UE se avaliar e mostrar sua relevância, opina o jornalista Christoph Hasselbach.

Christoph Hasselbach foi correspondente da DW em BruxelasFoto: DW/M.Müller

Quanto entusiasmo havia em 1992! A Europa estaria cada vez mais unida, tanto política como economicamente. Ao final desse processo poderiam até surgir os Estados Unidos da Europa. E, como símbolo dessa mudança, os europeus teriam uma moeda comum – uma ideia que soava, na época, completamente aventureira. O que ela acabou de fato sendo.

Para concretizar a união monetária e para apaziguar os críticos – que já existiam na época – usou-se de artimanhas desde o início. Os critérios de estabilidade foram violados repetidamente – também pela Alemanha – sem que houvesse consequências. Ignorar as regras se tornou a regra. E quem apontavam para as irregularidades era acusado de mesquinho.

Depois de 25 anos, com várias rodadas de novas admissões de países e depois de uma grave crise financeira e de endividamento, o euro ainda existe, mas está sob uma tremenda pressão. Ninguém pode garantir que a moeda comum sobreviverá na sua forma atual. E politicamente nada está como era. A saída prevista do Reino Unido é apenas o sinal mais visível de forças que operam em toda a Europa e que desejam o fim das ideias de Maastricht.

Nas instituições europeias, mas também em muitos governos, especialmente dos membros mais antigos da União Europeia, os reflexos habituais ainda sobrevivem. Surge uma crise e logo se pede "mais Europa" como solução. Foi assim no auge da crise financeira e foi assim de novo após a eleição de Donald Trump, um crítico da União Europeia. Só que esses apelos soam cada vez mais como desespero.

Por que muitos europeus não querem mais ouvi-los? Porque eles têm vivo em suas memórias o que "mais Europa" pode significar. Dois exemplos: por "mais Europa" pediram por anos os governos de países altamente endividados, como Grécia e Itália. Isso soa bem, mas significa que as pessoas de países sólidos e nem sempre ricos devem pagar pela má gestão de outros – no caso da Grécia, por um país que nunca deveria ter sido admitido no euro.

Por "mais Europa" clamou também a chanceler federal alemã, Angela Merkel, quando exigiu que todos os outros países-membros acolhessem refugiados – países que nunca teriam deixado os migrantes entrar em seus territórios. Foi uma utilização inadequada da ideia europeia para satisfazer os objetivos próprios e moralmente exagerados de Merkel. Não é de se admirar que deu redondamente errado.

Tais erros causaram danos ao ideal europeu, mas obviamente nem por isso a ideia é ruim. Chega-se a essa conclusão pela simples natureza das coisas, afinal este pequeno continente com seus muitos Estados só consegue se afirmar num mundo inseguro se estiver unido.

O que se precisa é de um novo realismo: em vez de integração pela integração, cooperação para resolver problemas concretos. No caso da moeda comum, isso só pode significar uma nova disciplina no cumprimento dos critérios de estabilidade, basicamente um retorno ao que foi planejado em Maastricht. Na questão dos refugiados há tempo se cristalizou um amplo consenso para se concentrar na luta contra a imigração ilegal – nada mais, nada menos. Também nesse tópico a Europa precisa mostrar resultados se quiser continuar sendo relevante para seus cidadãos.

A euforia de Maastricht evaporou. Eram outros tempos, nos quais quase ninguém questionava a ideia europeia. Mas não é um erro questionar aquilo que aparenta ser evidente. Só então se encontram respostas fundamentadas. Seja partindo do entusiasmo inebriado, seja partindo de uma reflexão sóbria, chega-se à mesma conclusão: nós precisamos da União Europeia.

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