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Ultradireita mostra sua verdadeira cara na Áustria

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
19 de maio de 2019

Escândalo que revelou descaramento e arrogância do ex-vice-premiê foi um golpe para os extremistas de direita, mas acima de tudo advertência para os conservadores que querem fazer alianças com eles, opina Barbara Wesel.

Ex-premiê austríaco Heinz-Christian Strache, anuncia sua renúnciaFoto: picture-alliance/AP Photo/M. Gruber

Os vídeos do encontro secreto do ex-vice-premiê austríaco Heinz-Christian Strache com uma representante de um suposto oligarca russo são cinema de grande formato. O jeito como o agora também ex-presidente do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema direita, se aboleta no sofá, meio embriagado e bem desinibido, é um presente para seus adversários políticos e uma advertência ao chanceler federal conservador Sebastian Kurz. Strache arrancou a máscara da civilidade da própria cara: o que se vê é uma careta.

No fundo, a "operação Ibiza" não revelou nenhum dado inesperado sobre o caráter de Strache e seus correligionários. No máximo, espanta o descaramento do populista ao oferecer contratos públicos a supostos investidores russos em troca de doações para o FPÖ, incluindo na barganha, de quebra, o desejado alinhamento político de um grande jornal. Strache se comportou como se a república alpina e seus cidadãos fossem propriedade sua.

As revelações chegam após uma cadeia de escândalos que vinha colocando sob pressão crescente a coalizão de governo conservadora-ultradireitista de Viena. Houve, por exemplo, a ligação do FPÖ com um integrante dos "identitários", que recebera dinheiro dos perpetradores do atentado em Christchurch, Nova Zelândia.

Os extremistas de direita abriram uma campanha contra a emissora austríaca de direito público ORF, por um apresentador ter justificadamente indagado quanto à possível filiação nazista de uma caricatura de responsabilidade da facção Juventude do FPÖ.

Um outro político do partido comparara seres humanos a ratos; numa noitada de cerveja associada ao ultradireitistas cantou-se repertório nacional-socialista – a lista dos incidentes é longa. Há muito o FPÖ age fora do espectro da democracia partidária, ao conscientemente abrir mão de se distanciar dos neonazistas e outros grupos radicais de direita.

O escândalo é um golpe para a planejada aliança dos partidos de direita no próximo Parlamento Europeu. Seus líderes dão de ombros e se apresentam ou como vítimas de uma campanha, ou como completamente alheios ao assunto. Porém o caso do FPÖ volta a mostrar que eles não querem nenhuma reforma da Europa, mas sim sua destruição, e que seu modelo político se origina em parte na Rússia, em parte no fascismo.

Após o "caso Ibiza", devem estar definitivamente enterradas as esperanças do ministro do Interior italiano e chefe da ultradireitista Lega, Matteo Salvini, de conquistar o conservador Partido Popular Europeu (PPE) como parceiro de aliança e realmente obter influência sobre a política europeia.

Em giro de campanha eleitoral, o principal candidato do PPE, Manfred Weber, distanciou-se, afirmando já ter dito que extremistas de esquerda e direita e populistas não são uma solução. Difícil entender por que ele menciona neste contexto os esquerdistas, quando se trata de ultradireitistas, e por que seu distanciamento foi tão sem convicção.

Infelizmente foi o próprio Weber – que anos a fio deu cobertura à ascensão do autodeclarado antidemocrata Viktor Orbán como líder autocrático da Hungria – a combater abertamente os valores e normas europeu. E infelizmente Orbán é o modelo para Salvini e outros decididos a repetir sua receita.

Será que nesse ínterim esses fatos são tão embaraçosos para Weber, que ele prefere não falar do escândalo do FPÖ? Enquanto ele não reconhecer o que se está maquinando no canto direito do Parlamento Europeu, e que ele não pode fazer negócios políticos com esses partidos, não há salvação para Manfred Weber.

O chefe de governo Sebastian Kurz pensou que podia cavalgar o tigre FPÖ. Porém nos últimos tempos os "libertários" austríacos deixaram de lado todas as reservas e dificultam cada vez mais a vida dele. Kurz quer salvar seu resto de credibilidade como conservador burguês, porém Strache e companhia seguem empurrando o governo para o lado da extrema direita. O premiê devia ter entendido que no longo prazo essa aliança não seria sustentável e defensável.

No fundo, é bem simples: quem entra no lamaçal vai se sujar. Quem acredita ser capaz de fazer amizade com extremistas de direita e neonazistas, torna-se idiota útil para eles. Não pode haver coalizão de governo com gente que denomina as democracias ocidentais "decadentes" e é admiradora da ditadura à moda de Putin.

O caso "Strache em Ibiza" é um último aviso a todos na Europa que se acreditam capazes de entrar no barco com os extremistas de direita e sobreviverem como democratas. É tarde demais para avisos de "cortem o mal pela raiz". Agora a palavra de ordem é "parem com isso, já".

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