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Opinião: Um ataque à estabilidade social da Alemanha

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Volker Wagener
21 de dezembro de 2016

Governo precisa recuperar confiança de que o Estado é capaz de proteger seus cidadãos. Do contrário, atentado em Berlim terá atingido seu objetivo: espalhar a discórdia e desestabilizar, diz o jornalista Volker Wagener.

Volker Wagener é jornalista especializado em temas alemães da DW

O partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) não perdeu tempo: "Estes são os mortos de Merkel", divulgou a legenda, essa mestre da sabedoria simplória. Pelo jeito, essa é a maneira de mobilizar almas singelas, enquanto muitas vítimas ainda lutam contra a morte.

Não que esse tipo insolência seja uma surpresa, muito pelo contrário. Situações de crise, especialmente catástrofes envolvendo pessoas, costumam levar a demandas por correções de cursos políticos ou mesmo recriminações rudes. Até aí, nada muito surpreendente.

No entanto, o ataque em Berlim é uma cesura. A sociedade alemã – durante décadas satisfeita consigo mesma ao ponto da complacência – está muito irrequieta. A chanceler federal Angela Merkel é vista pela população tanto como uma garantia em tempos de crises múltiplas como a causadora de uma polarização social que se acirrou com a sua política para refugiados.

Ao se lidar com os refugiados, a cultura de boas-vindas e a perda temporária de controle pelas autoridades alemãs se entrelaçaram. Tanto que muitos não sabem mais se foi algo bom ou ruim o que Merkel desencadeou com o seu slogan Wir schaffen das! (nós vamos conseguir!). Mas um refugiado é mesmo o responsável pelo ataque em Berlim?

Por enquanto, uma coisa é certa: foi um atentado. Um ataque que carrega uma marca simbólica. Quem leva morte e horror a um mercado natalino no meio de Berlim sabe o que pretende alcançar. A Alemanha, que segue sendo reconhecida no mundo como um mediador honesto e de uma política externa contida, é agrupada pelo terrorismo islâmico na linha de frente dos seus inimigos.

Desde o atentado de extrema direita à Oktoberfest de Munique, em 1980, não havia ocorrido nenhum ataque desta dimensão na Alemanha. Local e hora do ato carregam uma assinatura. O agressor ataca no coração de Berlim, no centro de facto do poder da Europa, e num mercado natalino – um local comercial, mas ainda assim tradicional para os rituais cristãos. No mais tardar agora, o medo do terrorismo na Alemanha, até então abstrato, tornou-se concreto.

É essa a hora dos políticos especialistas em segurança, tanto os legítimos como os autoproclamados. Já era de se esperar que, mais uma vez, o Exército fosse considerado como força reguladora da ordem, na base do "bem que vale uma tentativa", afinal: quem sabe que ele é proibido pela Lei Fundamental (constituição alemã) de operar dentro país? Pior ainda é o acirramento do debate sobre uma relação entre a chegada de refugiados e um potencial risco terrorista. Se é que essa relação existe.

Com suas exigências por um ajuste nas políticas de segurança e de refugiados, Horst Seehofer, o presidente da União Social Cristã (CSU) – tradicional aliada da União Democrata Cristã (CDU), de Merkel – reabriu as comportas que Merkel, a muito custo, havia conseguido fechar há algumas semanas.

A voz popular clama, e com razão, por mais segurança. Mas o modus operandi dos atentados em Nice, na França, e agora também em Berlim deixa claro: uma única pessoa e um caminhão de 40 toneladas podem ser usados como armas para assassinatos em massa mesmo que nenhum refugiado tivesse entrado no país.

Não é preciso ser um apoiador ou simpatizante da AfD para constatar que o Estado de Direito alemão sofreu abalos significativos que tornaram mais fácil, para os populistas, espalhar o medo. O primeiro foi o afluxo descontrolado de centenas de milhares de pessoas em 2015, em seguida os excessos no réveillon de Colônia e agora os mortos na praça Breitscheidplatz, em Berlim. No ponto de vista dos cidadãos, isso aconteceu porque o Estado fracassou. Mesmo que seja uma ilusão acreditar que a política possa controlar qualquer tipo de imprevisibilidade.

Mas agora haverá mudanças: as prioridades políticas serão alteradas. O governo federal tem novamente uma tarefa fundamental. Merkel sabe o que a espera: o tema da campanha eleitoral será segurança interna. Para que os eleitores não migrem aos montes para a extrema direita, ela precisa recuperar a confiança perdida de que o Estado é capaz de proteger seus cidadãos. Se ela não conseguir, este seria o verdadeiro triunfo do agressor de Berlim: ter semeado a discórdia e desestabilizado uma sociedade democrática.

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