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Opinião: Um desastre é sempre uma grande lição

28 de abril de 2015

É preciso ajudar o Nepal mesmo quando atenção mundial não estiver mais sobre o país. E olhar para os próprios problemas, antes de criticar as deficiências locais, opina Alexander Freund, chefe da redação asiática da DW.

Alexander Freund, chefe da redação Ásia

Mais uma vez uma catástrofe natural atingiu os mais pobres entre os pobres. Diariamente chegam imagens terríveis de cidades inteiramente destruídas, mortos e soterrados por toda parte. Também os turistas no Monte Everest foram vítimas do impacto de pedras e avalanches.

Pelo menos agora a maquinaria humanitária internacional foi posta em movimento, e ela é urgentemente necessária, já que os nepaleses estão claramente sobrecarregados.

Tais pensamentos e comentários vêm como num reflexo, quando as tremendas forças da natureza lembram o quanto nós, humanos, por vezes somos pequenos e indefesos. Por isso nos dispomos a ajudar.

Temos organizações e instituições que ajudam no local ou organizam ajuda, em caso de catástrofe. Nós, as pessoas comuns, podemos ao menos contribuir com donativos para reduzir o sofrimento. Algo que também os alemães fazem bastante, pois dispõem dos meios para tal. Esses donativos são tão importantes quanto a ajuda in loco, pois dão respaldo aos profissionais encarregados. Afinal de contas, nem todo o mundo é chefe de esquadra de cães de busca.

É fantástico que haja uma ampla solidariedade, em caso de catástrofes assim. Está claro: alguns vêm logo, outros precisam de mais tempo – o importante é que venham, pois a ajuda é urgentemente necessária.

Atualmente estamos até mesmo acostumados que essa ajuda seja iniciada com um máximo de efeito midiático. Para todos os participantes, é importante estar bem visível a bandeira nacional ou o nome do doador nos contêineres. Por via das dúvidas, os trajes dos voluntários de todo o mundo deixam bem claro de que país e de que organização está vindo o auxílio.

Não há nada de errado com isso: faça o bem e mostre para o mundo. E para os necessitados, afinal de contas, tanto faz de onde vem a ajuda, contanto que venha.

Contudo devemos ser bem cautelosos com a crítica à lentidão das operações de resgate ou à falta de expediente por parte dos responsáveis. Num país como o Nepal, há muito o que criticar: governo incompetente, a inércia da burocracia, a corrupção que prospera, e assim por diante. Mas, neste momento, essa crítica é realmente pertinente? Ela ajuda a alguém?

Talvez devêssemos parar por um momento e olhar nosso próprio rabo. Pois como é que os nossos países altamente desenvolvidos lidam com catástrofes? Ou aquilo que consideramos catástrofes: quando uma tempestade alcança intensidade de furacão; quando, de tantos em tantos anos, os rios transbordam as margens; quando, no inverno, caem mais de três flocos de neve.

Nesses casos, a proverbial ordem alemã logo se desfaz. Aí precisamos de dias até que fiações elétricas sejam consertadas, e árvores, removidas. Então, também aqui, porões e casas se inundam e as pessoas ficam chocadas de que a água escolha seus próprios caminhos. Então se formam engarrafamentos quilométricos, gente congela nos carros, e trens chegam com horas de atraso, se não são cancelados.

Porém tudo isso são insignificâncias, comparado às grandes catástrofes, diante das quais não só os países pobres se veem impotentes. O altamente tecnológico Japão sempre viveu com terremotos, e constrói condizentemente. Graças a essa técnica de engenharia, o violento tremor de quatro anos atrás fez apenas poucas vítimas. Porém o tsunami subsequente arrastou 15 mil seres humanos para a morte. E isso, embora os japoneses já conheçam há séculos os fatais tsunamis e tentem se proteger deles.

Mesmo os Estados Unidos, a última superpotência remanescente, nada puderam fazer contra o furacão Katrina – apesar de ser um país capaz de enviar tripulantes à Lua. O mundo presenciou aterrorizado como Nova Orleans afundou em meio às enchentes.

E pode-se até ver quando uma catástrofe assim está a caminho. Nossa meteorologia anuncia temporais, chuva e neve com grande antecedência. Inundações acontecem todos os anos, e o nível das águas só vai subindo gradativamente. Por outro lado, terremotos devastadores, como o atual no Nepal ou de 2010 no Haiti, destroem sem aviso prévio milhares de existências.

É claro que os habitantes dessas regiões sabem do perigo de terremotos. Mas o que podem fazer? Moradias resistentes aos abalos são muito caras. E, na luta quotidiana pela sobrevivência, essa não é sua preocupação mais urgente.

Mais uma vez, uma catástrofe natural atingiu os mais pobres entre os pobres. Além da carência generalizada, porém, são enormes os danos permanentes para o Nepal. Pois, quando muito é destruído – por exemplo, tesouros culturais de alto valor –, no futuro virão menos turistas. E no entanto, o turismo é a única fonte considerável de divisas para o país.

Consequentemente os numerosos turistas na região da catástrofe recebem agora atenção especial. O que, no entanto, também significa que grande parte dos helicópteros do país, que já são poucos, são mobilizados para resgatar do Himalaia os abastados montanhistas.

Isso é compreensível, pois também eles vivenciaram, em parte, coisas terríveis. Mas é óbvio que esses helicópteros farão falta em todos os outros locais, onde a desgraça é inegavelmente muito maior. Os turistas podem deixar a zona da catástrofe e processar suas vivências nos países natais. Para os nepaleses, porém, esse território devastado é a pátria.

O futuro há de mostrar quanto tempo vai durar a solidariedade internacional com eles, quando a mídia tiver partido para a próxima catástrofe, a próxima guerra ou grande evento sensacional que seja.

Não, devemos guardar para nós mesmos as nossas frases de sabe-tudo e ajudar aqueles em apuros, também no futuro, também quando eles não estiverem mais no foco midiático da atualidade mundial.

O Nepal não precisa de conselhos inteligentes agora, mas sim de cobertores, medicamentos, estações de tratamento de água e muito mais. Podemos ajudar os nepaleses a minorar os flagelos, a reconstruir o país e reduzir as deficiências. E um desastre é sempre uma grande lição.

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