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Um forte sinal contra a violência sexual

Dirke Köpp
6 de outubro de 2018

Nobel da Paz para médico congolês e ativista yazidi por seu engajamento contra o abuso sexual é apenas um começo num mundo em que mulheres são estigmatizadas por estupros sofridos, opina a jornalista Dirke Köpp.

Mulher cruza os braços em frente ao rosto
"Ainda há muito a ser feito contra a violência sexual", escreve a jornalista da DW Dirke KöppFoto: picture-alliance/PIXSELL/Puklavec

O Nobel da Paz para duas pessoas que, de maneira extraordinária, se engajaram contra a violência sexual como arma de guerra é um bom e forte sinal. O prêmio para o ginecologista congolês Denis Mukwege e a ativista yazidi Nadia Murad compensa um pouco a irritação deixada pelo Nobel da Paz concedido ao então recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ou pelo entregue à União Europeia há seis anos, que hoje parece quase irreal em face dos dramas atuais no Mediterrâneo.

Seres humanos que se engajam de maneira concreta por outros seres humanos: tais premiados fazem bem em tempos em que quase diariamente se tem a sensação de que, de fato, o homem é o lobo do homem. Mukwege e Murad vivenciaram isso na própria pele.

Murad foi escravizada sexualmente pela organização terrorista "Estado Islâmico" no Iraque e estuprada repetidas vezes. Mas ela não permaneceu no papel de vítima, mas sim levantou a própria voz contra o abuso sistemático. Algo mais que corajoso em um país há anos marcado pela guerra e a violência como o Iraque.

Mukwege vem da conturbada província de Sud-Kivu, no leste da República Democrática do Condo, onde viu como abusos sexuais são usados como estratégia militar. Em 1999, ele fundou um hospital em sua cidade natal, Bukavu, no qual ele e sua equipe atendem e operam mulheres violadas e mutiladas. Ele é chamado de "o homem que repara as mulheres".

Qualquer um que tenha falado com essas mulheres em Bukavu, que tenha olhado nos olhos delas, sabe que e como o estupro funciona como arma de guerra: as vítimas ficam marcadas para a vida, no pior dos casos, destruídas física e emocionalmente.

São raras mulheres como Nadia Murad, que têm a força para mudar a própria situação e conseguir sair da posição de vítimas. Por isso, é importante o fato de que, no hospital de Mukwege, tenta-se devolver às mulheres a sua dignidade. Mas isso é difícil numa sociedade que estigmatiza essas mulheres por uma um estupro sofrido.

O mundo vem discutindo há cerca de um ano a correlação entre violência sexual e violação da dignidade. O debate #MeToo contribuiu para isso e talvez também o cancelamento do Prêmio Nobel de Literatura deste ano por alegações de assédio sexual envolvendo o júri.

Mas ainda há muito a ser feito. O presidente americano atual ainda se atreve a tirar sarro em público de uma suposta vítima de violência sexual. Ainda há um anúncio de página inteira de Cristiano Ronaldo vestindo apenas uma cueca, apesar de a estrela do futebol ser acusado de estupro. E no Congo, um homem que foi condenado por abusar de bebês apareceu na lista oficial de candidatos a uma eleição. Tudo isso demonstra, na melhor das hipóteses, falta de sensibilidade e mostra que o Nobel da Paz para Mukwege e Murad por seu engajamento contra violência sexual só pode ser o começo.

Aliás, o governo do Congo felicitou Mukwege, quando na verdade deveria se esconder de vergonha após o prêmio. Porque o Nobel sublinha o quanto o governo e seu presidente, Joseph Kabila, assim como fez seu pai, vêm negligenciando o leste do país há décadas. Desde o início dos anos 1990, grupos armados aterrorizam a população na região, abusando impunemente de mulheres, meninas e, por vezes, também de homens. E o que o governo faz contra isso? Nada.

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