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Vacina compulsória na Alemanha, um desastre anunciado

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Jens Thurau
10 de abril de 2022

Governo tentou impor uma obrigatoriedade vacinal que quase nenhum outro país adota. Fracasso da iniciativa no parlamento mina a confiança na política alemã para a pandemia e pode ter efeitos nefastos, opina Jens Thurau.

Foto: Political-Moments/imago images

Que fique claro desde o início: só em poucos países vigora obrigatoriedade universal de vacinação contra a covi-19 – por exemplo, no Equador, Indonésia, Tadjiquistão ou Turcomenistão. Em muitos outros, contudo, entre os quais a Alemanha, ela é mandatória para certos grupos profissionais, como o pessoal de saúde.

Além disso, apesar de na Áustria haver essa imposição, ela está suspensa, já que, como em todo o mundo, a variante ômicron do vírus Sars-Cov-2, atualmente predominante, alimenta a crença de que é possível chegar ao fim da pandemia sem uma obrigatoriedade para todos.

Por esses motivos, o ainda novo governo federal alemão não teria sofrido nenhum dano se houvesse renunciado a seus planos de vacinação compulsória. Agora o prejuízo é grande.

Não há mais como convencer os não vacinados

Na quinta-feira (07/04), o Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão) rejeitou uma série moções no sentido da vacinação obrigatória. Já antes estava claro que a coalizão governamental formada pelos partidos Social-Democrata (SPD), verde e Liberal Democrático (FDP) não conseguiria mobilizar sua própria maioria para a medida, já que grande parte dos liberais era contra.

Apesar disso, um estranhamente desinteressado chanceler federal Olaf Scholz se submeteu ao fiasco público da votação no parlamento. Quem se regozijou foram os populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD), que, sempre próximos aos negacionistas do coronavírus, são contra qualquer obrigatoriedade vacinal.

Na Alemanha, atualmente 76% da população está vacinada duas vezes, 59% até recebeu a terceira dose. Há países em que o quadro é melhor, mas também muitos em que é pior. E também está claro que a inoculação não é capaz de impedir novas infecções, mas quadros graves, em princípio, sim.

Portanto quem ainda se vacinar agora, o fará, em primeira linha, por si mesmo. Como mostraram as últimas semanas, contudo não há argumento no mundo que convença os 24% que até agora não estão totalmente vacinados. Esse era mais um fator contra a tentativa de aprovar a imposição generalizada da vacina.

Permanece um mistério por que Berlim, ainda assim, deixou as coisas correrem – para baterem de frente no muro. Aparentemente confiando que, no fim das contas, as conservadoras uniões Democrata Cristã (CDU) e Social Cristã (CSU), cujos governadores são todos a favor da obrigatoriedade, acabariam garantindo uma maioria. Só que não foi o que a oposição fez.

Agora Scholz declarou sumariamente que não javerá mais nenhuma tentativa de tornar a vacinação obrigatória – como, ainda sugeriu o ministro da Saúde, Karl Lauterbach, após a derrota. Mais um fracasso destes, não – foi obviamente o cálculo político do chefe de governo alemão.

Um apelo sensato – que ninguém mais aguenta escutar

Qual é exatamente o dano que essa manobra provocou? Poucas semanas depois de ter assumido o poder em dezembro, todos os principais membros da coalizão governamental se comprometeram com a compulsoriedade. E seu atual fracasso mina a confiança dos cidadãos na política para a pandemia, como um todo.

A mais recente pesquisa de opinião Deutschlandtrend, do instituto Infratest-Dimap deixa claro: a maioria dos membros da CDU, CSU, SPD e verdes ainda é a favor da vacinação obrigatória. O que esses cidadãos vão pensar agora, se o Bundestag debate horas a fio e não chega a nenhum resultado?

Tudo isso poderá ter consequências nefastas se, com o frio do outono (setembro a dezembro), os contágios voltarem a crescer, sobretudo entre os não vacinados mais idosos, e a política for obrigada a decretar restrições como proibição de contatos ou fechamento de lojas. Por que a população em peso deveria obedecer sem resistência?

Até agora, uma grande maioria dos residentes na Alemanha suportou todas as imposições que acabam de cair após longos meses: máscaras, lojas e restaurantes fechados. Se, no pior dos casos, no outono não for possível convencê-los novamente da necessidade dessas imposições, parte da culpa caberá ao governo, por seu procedimento pouco convicto.

Torçamos pelo melhor, no momento não há melhor opção. Vacinar-se continua sendo um apelo sensato para todos – mas que, neste ínterim, não há mais quem aguente escutar.

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Jens Thurau é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

 

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