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Venezuela, inflação bolivariana

Evan Romero Kommentarbild PROVISORISCH
Evan Romero-Castillo
27 de julho de 2018

Nas ruas do país, venezuelanos protestam contra problemas como falta de alimentos e medicamentos e inflação. Enfim, contra todas as sequelas, diretas e indiretas, do modelo econômico chavista, opina Evan Romero-Castillo.

Maduro exibe modelo de novo bilhete de 100 bolívaresFoto: Reuters/Miraflores Palace

Quem apresentou o resumo mais recente e ilustrativo da tragédia venezuelana foi o Fundo Monetário Internacional (FMI): o país não encerrará 2018 com uma inflação de 13 mil por cento, como se previa em abril, mas sim de 1 milhão por cento.

O anúncio foi feito nesta segunda-feira (23/07), pouco depois de a oposição tachar de traumático e inútil o processo de reconversão monetária programado para 4 de agosto pelo governo de Nicolás Maduro. Eliminar cinco zeros da moeda nacional, o bolívar, não dará fim à hiperinflação, se o regime não mudar o paradigma econômico que a propicia.

Em 2008, o antecessor de Maduro, Hugo Chávez, aprovou uma reconversão monetária, cortando três zeros do bolívar, a fim de facilitar as transações cotidianas para a população. Uma década atrás, contudo, a inflação era de 30%.

Agora, o homem forte em Caracas pretende fazer o mesmo no ápice da desvalorização, com o dólar valendo 3,5 milhões de bolívares no mercado negro; com escassez de divisas para financiar a impressão e entrega das cédulas (estima-se que a empreitada custe em torno de 300 milhões de dólares); e sem um plano anti-inflacionário. Um esforço em vão.

Não é de estranhar que os protestos iniciados em junho continuem em toda a Venezuela, num ritmo de 250 por semana. No sábado, Maduro prometeu investir 300 milhões de dólares para melhorar os serviços dos quase 300 hospitais públicos do país. No entanto, a quantia não basta para os centros de saúde superarem suas deficiências.

Além disso, a precarização do sistema sanitário e os salários de fome pagos aos médicos e enfermeiros não são os únicos motivos do mal-estar generalizado. As pessoas emigram em massa ou se queixam pelas ruas pelos motivos mais diversos: desabastecimento de alimentos e medicamentos, desaparição do dinheiro em espécie, apagões constantes, falta de água corrente e de transporte público.

Assim como a inflação incontrolável, todos esses problemas são sequelas diretas ou indiretas dos desequilíbrios acarretados pelo modelo econômico chavista. O oficialismo se esquiva da própria responsabilidade ao insistir que sua incapacidade de atender às demandas da população se deve a conspirações do empresariado. Este supostamente deixaria de produzir os bens e os armazenaria para especular com os preços, a fim de fomentar o contrabando de combustíveis e agravar a inflação.

O governo mente quando atribui a atual crise à queda de preços do petróleo: a escassez de alimentos e remédios, que já se registrava com o barril a 100 dólares, não acontece em nenhum outro país exportador do combustível fóssil. Maduro alega que as sanções internacionais impostas a funcionários chavistas – acusados de corrupção em grande escala e violações dos direitos humanos – são a causa dos apertos de que os venezuelanos padecem.

Contudo, a verdadeira origem das calamidades que castigam a nação com as maiores reservas comprovadas de petróleo cru está no disparatado dogma econômico de Chávez, o qual Maduro perpetua.

Em 2014, quando a "Revolução Bolivariana" começou a dar sinais de naufrágio, parecia inconcebível aos alemães a gravidade da situação em que o chavismo afundara a Venezuela. Menos de um quinquênio mais tarde, basta comparar a crise monetária no país com a da República de Weimar para que eles compreendam as penúrias vividas do outro lado do Atlântico.

São montes de cédulas que nada compram; filas intermináveis diante dos supermercados; o drama de não conseguir o que se procura e não poder custear aquilo de que se necessita; crianças morrendo de inanição, e adultos que se aferram à vida procurando comida nas latas de lixo.

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