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Opinião: Viver sem medo é forte sinal contra o terrorismo

Barbara Wesel Studio Brüssel
Barbara Wesel
23 de março de 2017

Atentado de Londres ocorreu exatamente um ano após o mortal ataque ao aeroporto e metrô de Bruxelas. A terrível repetição mostra que o terror seguirá sendo parte da vida dos europeus, opina a jornalista Barbara Wesel.

Barbara Wesel é jornalista da DW

Desde o monstruoso atentado em Nice em meados de 2016, parece haver um novo padrão nos ataques terroristas na Europa: criminosos radicalizados isolados assassinam usando os meios mais simples, muitas vezes veículos motorizados ou facas. Surgiu uma espécie de terror low tech, para que não são necessários construtores de bombas, explosivos ou armas de fogo rápido.

E eles atingem seus alvos com precisão fatal, uma vez que o número do mortos é a única coisa que conta. A identidade das vítimas parece aleatória quando há até mesmo muçulmanos entre elas, como em Nice e Bruxelas. Não se trata mais, portanto, nem mesmo de matar os assim chamados "infiéis": trata-se apenas da matança em si.

Desde que a nova série de ataques começou, há dois anos na França, buscam-se os motivos dos agressores. Por um bom tempo, vigorava o "modelo assistente social": discriminação e injustiça econômica seriam a raiz do terrorismo.

Sem dúvida, os subúrbios franceses foram negligenciados; em Birmingham – presumível residência do autor do atentado desta quarta-feira (22/03) – há pobreza e injustiça. Mas estas existem por todo o mundo, sem que os cidadãos saiam matando seus vizinhos.

Portanto a nova procura de causas indica um outro esquema: os assassinos são pequenos delinquentes em busca de um sentido para a vida. Eles tentam conferir um execrável brilho a suas existências fracassadas ao se destacarem como assassinos em massa. E se o todo ainda estiver associado a um fim aparentemente mais alto – uma "guerra santa" ou a "honra" de Alá –, aí essas vidas perdidas acreditam ter criado uma identidade para si.

Esses atos têm alguma coisa a ver com o islã? Executar inocentes é, sem dúvida, uma interpretação perversa das doutrinas muçulmanas, e a massa dos fiéis que vivem em paz rechaça, horrorizada, qualquer conexão com tais atos. Mas não é tão fácil assim escapar do envolvimento: nessa religião existe a tendência a um mortal sectarismo, como aquele entre sunitas e xiitas, o qual é instrumentalizado na política e justificado pela religião.

Há aspectos não solucionados do islã que se opõem à convivência pacífica num mundo globalizado. Se é preciso modernizar a fé, como alguns reivindicam, ou simplesmente se divorciar dos desvios assassinos e de seus protagonistas, a decisão cabe aos próprios fiéis. Os cristãos não saem mais em cruzadas, e também os muçulmanos deveriam banir de sua ideologia a matança com verniz religioso. Pois nenhum deus precisa de assassinatos.

A ação da polícia e das forças de segurança melhorou nos últimos dois anos. O Reino Unido sempre se orgulhou de sua eficácia em vigiar os grupos fundamentalistas islâmicos. Mas também na França e na Bélgica há hoje mais cooperação, conseguiu-se desbaratar novas células terroristas.

Só que o perfil dos criminosos agora mostra que em muitos casos os responsáveis eram delinquentes frustrados, cuja radicalização passou quase despercebida. Mas, como o controle mais perfeito não é capaz de olhar dentro das cabeças deles, o risco permanecerá enquanto a pérfida ideologia do "Estado Islâmico" (EI) encontrar adeptos. E, de início, uma vitória militar sobre a organização assassina no Oriente Médio deverá antes agravar o problema.

Não pode haver um cisma entre cristãos, judeus, muçulmanos, sikhs ou hindus, declarou o prefeito de Londres, Saddiq Khan, após o atentado. Nossa forma de vida tolerante e nossa coragem de cidadãos é tudo o que temos para contrapor ao ódio e à gana assassina.

Por toda parte, o sinal mais forte contra o terrorismo tem sido seguir com a própria vida, sem temor. O que não significa que não se deva perseguir os agressores com toda força, ou deixar de execrá-los de todo coração. Apesar de todo o luto e das condolências pelas vítimas, não podemos lhes dar de presente a vitória sobre nossa liberalidade.

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