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Voto contra as Farc venceu na Colômbia

Deutsche Welle Ofelia Harms Arruti Online Porträt
Ofelia Harms Arruti
28 de maio de 2018

Primeiro turno da eleição é vencido por Iván Duque, um crítico ferrenho do processo de paz. Alto comparecimento às urnas evidencia que animosidade contra as Farc segue presente, opina a correspondente Ofelia Harms.

Simpatizante de Gustavo Petro, candidato presidencial do Partido Colômbia Humana, participa de comício em BogotáFoto: picture alliance/AP Photo/I. Valencia

Parece que o debate entre os que estão a favor e contra o referendo sobre o processo de paz na Colômbia, em 2016, estendeu-se à eleição presidencial deste domingo (27/05). Naquela época, a maioria dos colombianos rejeitara a assinatura do acordo de paz entre o presidente Juan Manuel Santos e os guerrilheiros das Farc. Neste domingo, a vitória de Iván Duque confirmou que muitos colombianos ainda não estão preparados para perdoar a guerrilha marxista depois de mais de 50 anos de conflito armado.

Isso também se nota na alta participação nas eleições deste domingo. Nunca tantos colombianos haviam ido às urnas num primeiro turno de votação. Cerca de 19 milhões de votos foram depositados, o que é 53% do eleitorado. Quase 7,5 milhões de colombianos votaram em Duque, mas não porque achem seu programa conservador melhor, mas por medo de seu rival, o esquerdista Gustavo Petro, vencer.

Com quase 5 milhões de votos, Petro foi o candidato de esquerda mais votado na história da Colômbia. Em sua juventude, ele fez parte do Movimento 19 de Abril (M-19), uma guerrilha de esquerda que virou partido político em 1990.

Petro apoia o acordo de paz com as Farc e propõe aumento de impostos para os mais ricos, educação gratuita e o fim da dependência da economia colombiana do petróleo e do carvão. Propostas que, embora encontrem eco nas camadas mais pobres da população, assustam os investidores privados. Para Wall Street, ele é o protagonista mais impopular do país.

No entanto, Petro está preenchendo um vazio na esquerda da Colômbia. Pela primeira vez, um candidato desse espectro político representa uma alternativa de poder num país que, até agora, sempre havia excluído a esquerda com a desculpa de que estaria intimamente ligada aos diversos movimentos de guerrilha. O sucesso de Petro se deve, seguramente, ao acordo de paz e ao desarmamento das Farc. "Esquerda" não é mais sinônimo de "guerrilha": lentamente ela se torna parte, como em todas as democracias, de um espectro político equilibrado.

Além disso, os quase 4,5 milhões de votos para o candidato de centro-esquerda, Sergio Fajardo, mostram que as ideias alternativas e progressistas se impõem cada vez mais nas mentes dos colombianos. Fajardo e Petro desfrutaram do apoio de uma grande parte do eleitorado mais jovem.

Durante esta campanha, em contrapartida, os debates morais tiveram mais peso do que em anos anteriores. Duque é contra o casamento homossexual e o aborto, e pretende imitar Donald Trump em sua decisão de transferir a embaixada colombiana para Jerusalém. Isso lança luz sobre a posição da maioria dos colombianos. Segundo um estudo da Universidade de Los Andes, a rejeição da homossexualidade, do aborto e da eutanásia aumentou no país sul-americano nos últimos anos.

Apesar de tudo, a Colômbia continua indo, pouco a pouco, no caminho certo. O acordo de paz ainda é fraco e precisa de melhoras urgentes para ser implementado. Dissidentes das Farc continuam a aterrorizar as fronteiras, e cada vez mais venezuelanos tentam entrar no país em busca de asilo. Além disso, Santos deixa como herança ao seu sucessor algumas difíceis negociações de paz com outro guerrilheiro: o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Mas pouco antes de sua partida, Santos, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, conseguiu que a Colômbia passasse a fazer parte da OCDE e fosse o primeiro país latino-americano reconhecido como "parceiro global" da Otan. Isso sustentará o interesse internacional pela Colômbia e, da mesma forma, o compromisso do novo governo com o processo de paz.

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