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Zelenski, o servidor de Trump

Bernd Johann
26 de setembro de 2019

Presidente americano pressionou líder da Ucrânia por informações sobre seu rival político e, por isso, é alvo de um processo de impeachment. Mas atitude bajuladora de Zelenski não é menos escandalosa, opina Bernd Johann.

Zelenski e Trump se encontraram à margem da Assembleia Geral da ONU nesta semanaFoto: Getty Images/AFP/S. Loeb

O partido do presidente ucraniano se chama Servidor do Povo, e o nome diz tudo: Volodimir Zelenski e sua legenda prometeram trabalhar arduamente em prol do povo da Ucrânia. Mas, a julgar pela transcrição de um telefonema recentemente divulgada entre Donald Trump e Zelensky, o líder ucraniano parece estar prontamente a serviço do presidente americano.

Bajulação é provavelmente o termo que descreve melhor as palavras penetrantemente lisonjeiras e incondicionalmente cooperativas de Zelenski – falando de maneira apropriada e educada.

É reveladora a leitura da transcrição da conversa telefônica – antes confidencial – realizada entre os dois políticos em 25 de julho de 2019. O memorando se tornou público porque Trump está sob pressão em seu país por conta do telefonema – assim, autorizou a divulgação da conversa.

Só assim é possível ler como o presidente americano assedia persistentemente seu colega ucraniano. E não são os interesses dos Estados Unidos que estão em primeiro lugar, mas trata-se da aquisição de material comprometedor sobre o possível principal adversário de Trump na próxima eleição americana, o político democrata e ex-vice-presidente Joe Biden.

E como reagiu Zelenski? Ele falou exatamente o que Trump queria ouvir, emitiu um elogio atrás do outro e até mesmo chamou seu interlocutor de "grande professor", quer dizer, concordou prontamente com os desejos de Trump. Nesse momento, Zelenski, o servidor do povo ucraniano, se tornou servidor do presidente dos EUA e fez de seu país brinquedo da política interna americana.

Claro que a política sempre tem a ver com interesses. O problema de Zelenski é que ele mal defendeu as prioridades de seu país. Ele não expressou qualquer desejo político – agiu como se seu país não tivesse nenhum –, não aproveitou a oportunidade para apelar aos EUA para que investissem economicamente em seu país em crise, nem para pedir ajuda para a ampla agenda de reformas que prometeu aos ucranianos.

Zelenski elogiou as sanções dos Estados Unidos contra a Rússia e a ajuda militar americana ao Exército ucraniano. Mas não mencionou a possibilidade de os EUA apoiarem uma solução diplomática para o conflito com a Rússia, embora muitos ucranianos fossem louvar isso. Também não mencionou como quer acabar com a guerra na região de Donbass, embora essa fosse uma das principais promessas de campanha – e, aqui, o apoio dos EUA poderia ser útil. 

Nada disso foi importante para Zelenski quando ele finalmente teve a chance de falar com o "senhor presidente" em julho deste ano. Afinal de contas, ele ainda não visitou a Casa Branca até agora e só se encontrou brevemente com o americano à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Mas ambos parecem concordar quanto à importância dos EUA para a Ucrânia e sobre quão pouco os europeus – especialmente a chanceler federal alemã, Angela Merkel – supostamente fazem pela Ucrânia.

Bem, a conversa telefônica também ofereceu aos dois políticos um certo tempo para blasfemar sobre Merkel e o presidente da França, Emmanuel Macron. Somente depois Trump foi direto à sua causa: ele pediu várias vezes e com grande veemência a Zelenski para obter informações comprometedoras sobre o filho de Joe Biden, Hunter Biden, que alegadamente estaria envolvido em negócios energéticos controversos na Ucrânia.

Trump não falou sobre a corrupção generalizada e o clientelismo obscuro. Ele estava apenas interessado em pedir explicitamente uma investigação sobre o filho de Biden, que estava à frente de uma empresa de energia ucraniana obscura durante o governo do ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko.

Não apenas o Judiciário dos EUA, mas um dos advogados pessoais de Trump iria apoiar a Ucrânia nessa questão. E é estranho que, exatamente no momento do telefonema, Trump havia parado temporariamente de ajudar militarmente a Ucrânia. Mas ambos não falaram sobre isso por telefone.

No entanto, permanece a suspeita de que Trump pressionou um chefe de Estado estrangeiro para garantir uma vantagem. E Zelenski, aliás, jogou a favor porque não podia ou não queria dizer não. Afinal de contas, a Ucrânia depende dos EUA. Não é de se estranhar que, agora, os democratas vejam isso como uma oportunidade para tentar derrubar o presidente americano.

Não é sem ironia que, graças a Zelenski – cujo partido tornou possível a realização de processos de impeachment contra presidentes na Ucrânia – Trump poderá agora enfrentar um processo de impeachment em sua Washington.

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