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Oposição anuncia acordo com militares no Sudão

28 de abril de 2019

Grupos concordaram em formar conselho de transição conjunto. Militares vinham tentando controlar processo de transferência de poder desde a queda do ex-ditador Omar al-Bashir.

Sudan Khartum Proteste am Militärhauptquartier
Protestos em Cartum, a capital do Sudão. Manifestações que ajudaram a derrubar ditador foram redirecionadas contra militaresFoto: Getty Images/AFP/A. Shazly

A equipe de negociação das Forças de Liberdade e Mudança, principal grupo de oposição do Sudão, anunciou neste sábado (27/04) que chegou a um princípio de acordo com o Conselho Militar de Transição, que está no poder desde a queda do ex-ditador Omar al-Bashir.

As partes concordaram em formar um conselho soberano conjunto, integrado por militares e civis, em um governo de transição. Na segunda-feira, os dois grupos discutirão o percentual de participação no órgão. Nesse ponto, as negociações devem ser marcadas por dificuldades.

Uma fonte da oposição afirmou que as Forças de Liberdade e Mudança querem que o conselho tenha 15 membros, sendo eles oito civis. No entanto, a Junta Militar que governa o país quer que o órgão seja composto por 10 pessoas e que sete sejam integrantes das Forças Armadas do Sudão.

O princípio de acordo ocorreu depois de a equipe de negociação da oposição ter aceitado o convite feito pelos militares para tentar encontrar uma solução para a crise que abala o país e que provocou o golpe que destituiu Bashir no último dia 11 de abril.

O encontro ocorreu após uma semana de protestos da oposição contra os militares para exigir a formação de uma equipe de transição para devolver o comando do país a um governo civil.

Apesar do acordo, o líder do partido opositor Al Umma, o ex-primeiro-ministro Sadiq al-Mahdi, pediu que a população mantenha os protestos em frente ao principal quartel militar do país.

Os protestos no país começaram em dezembro após uma piora da situação econômica do país, que enfrenta uma crescente alta dos preços dos produtos básicos e dos combustíveis. A repressão provocou a morte de mais de 50 pessoas. Centenas ficaram feridas e milhares foram presas, mas libertadas depois que o Conselho Militar Transitório assumiu o poder. 

Inicialmente, a queda do ex-ditador foi celebrada pelos manifestantes, mas as primeiras medidas tomadas pela junta que assumiu o poder logo levantaram o temor de que o antigo regime estava sendo substituído por uma nova ditadura militar e que a queda de Bashir não passou de uma disputa interna pelo poder.

Após assumirem o poder, os militares anunciaram que pretendiam formar um governo de transição liderado por um "conselho” militar com validade de dois anos. Eles também suspenderam a Constituição e impuseram um toque de recolher no país entre 22h e 4h, com duração de um mês. A junta também decidiu não entregar Bashir ao Tribunal Penal Internacional (TPI). O ex-ditador é acusado de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade no conflito armado da região de Darfur.

Líderes dos protestos civis logo classificaram os membros da junta de "os mesmos velhos rostos" do antigo regime. Khalid Omer, que lidera o oposicionista do Partido do Congresso Sudanês, expressou sua desconfiança em entrevista à DW "Eles (a junta militar) estão tentando roubar a revolução. Se você quiser iniciar um diálogo genuíno, não suspenderá a Constituição", disse.

Como resultado, os manifestantes continuaram a ocupar as ruas, redirecionando sua insatisfação contra as medidas anunciadas pela junta e exigindo a transferência do poder a uma autoridade civil.

JPS/efe/afp

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