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Oposição desafia Maduro com greve nacional

20 de julho de 2017

Paralisação para pressionar presidente a desistir de constituinte resulta em dezenas de detenções e duas mortes, elevando para quase 100 o total de mortos em protestos antigoverno. Maduro classifica greve de fracasso.

Protesto contra o governo Maduro em Caracas
Manifestações na Venezuela se intensificaram depois de 1º de abrilFoto: Reuters/I. Alvaro

A oposição da Venezuela convocou uma greve geral de 24 horas para protestar contra o governo do presidente Nicolás Maduro e elevar a pressão para que ele retire sua polêmica proposta de uma Assembleia Constituinte para reformar a carta magna do país.

A manifestação, iniciada às 7h (horário local) desta quinta-feira (20/07), resultou na paralisação de partes de Caracas e de outras cidades. Empresas ficaram fechadas, e as principais vias foram bloqueadas. Centenas de pessoas foram detidas e ao menos duas mortes foram divulgadas pelo Ministério Público. 

O fechamento de estabelecimentos comerciais e escritórios registrou uma adesão maior nas zonas leste e sul da capital, onde a oposição é majoritária. Em contrapartida, em Quinta Crespo (uma das zonas do centro de Caracas), segundo dados não oficiais, pelos menos 80% dos estabelecimentos comerciais abriram as portas.

Apenas alguns estabelecimentos comerciais e as instituições bancárias operaram com normalidade, especialmente estas últimas, depois da decisão repentina do governo venezuelano de pagar os aposentados nesta quinta-feira, o que está gerando longas filas de idosos em vários bancos.

Bombeiros apagam fogo em guarita policial incendiada em Caracas por opositores ao governo de Nicolás Maduro.Foto: Getty Images/AFP/R. Schemidt

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Foro Penal, um total de 173 pessoas foram presas durante a greve. Do total, 76 detenções ocorreram na província ocidental de Zulia, na fronteira com a Colômbia. Segundo a Foro Penal, há detidos em 11 dos 25 estados da Venezuela.

Além disso, um jovem de 24 anos morreu ao ser ferido por uma arma de fogo numa manifestação na cidade de Los Teques, a sudoeste de Caracas. A informação foi confirmado pela promotoria, que acrescentou que um jovem de 23 anos morreu em Valencia, no distrito de La Isbaelica. Com isso, sobe para 96 o número de mortos no país desde a eclosão dos protestos em massa, em abril. 

Em Caracas, segundo diversas fontes, funcionários da Guarda Nacional Bolivariana teriam tentado dispersar um grupo de manifestantes junto à sede da emissora estatal Venezuelana de Televisão (VTV). Os militares e simpatizantes do governo lançaram pedras contra manifestantes e jornalistas. Em resposta, a população incendiou uma viatura policial.

Fora da capital, há registros de grande adesão em cidades como Valencia, Barquisimeto, Maracaibo, Táchira, Puerto La Cruz e em Maracay, onde grupos de motociclistas armados e pró-Maduro atacaram com pedras viaturas e apartamentos de supostos opositores.

Maduro celebra "fracasso" e ataca EUA

Maduro disse que seu governo saiu vencedor e classificou de fracasso a greve nacional convocada pela oposição. "Foi mais um triunfo. Eu sabia que seria assim", disse o presidente.

"O transporte funcionou 100%, o metrô funcionou 100%. Eu lhes disse com orgulho: eu sei onde está a classe operária. A única que pode parar este país, e não vamos fazê-lo porque buscamos o progresso, é a classe trabalhadora."

Em ruas fechadas em Caracas, manifestantes entraram em conflito com forças de segurança durante greve geralFoto: Getty Images/AFP/J. Barreto

Sob ameaças de sanções econômicas internacionais, Maduro voltou a atacar os Estados Unidos e reiterou que nenhum governo estrangeiro pode dar ordens na Venezuela. "Os EUA estão tentando dar ordens à Venezuela para que eu suspenda a Constituinte. Um governo estrangeiro pode dar ordens ao nosso país? [...] Aqui mandam os venezuelanos."  

Oposição: "Pressão máxima" 

A greve se soma ao plebiscito de domingo passado, quando 7 milhões de pessoas disseram não à proposta de Constituinte do governo, e às manifestações que se iniciaram em 4 de abril, depois de o Tribunal Supremo de Justiça destituir a Assembleia Nacional de suas funções legislativas.

A sindicalista Marcela Máspero, que foi simpatizante do governo chavista, disse que sua organização, a União Nacional de Trabalhadores (UNT), apoia a proposta da oposição e participará da greve.

O presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, afirmou que é "chegada a hora" de fazer "pressão máxima" sobre o governo de Maduro. Segundo ele, a oposição recebeu um "mandato claro" com a consulta popular de domingo passado, na qual a maioria dos votantes rechaçou a Constituinte, instou as Forças Armadas a respeitar a Constituição, pediu eleições livres e um governo de transição.

O primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional, Freddy Guevara, disse que, se Maduro retirar sua proposta de Constituinte, os líderes opositores estarão dispostos a discutir, "de maneira aberta e transparente, propostas sérias que conduzam à superação política" da crise.

Maduro chamou o plebiscito organizado pela oposição de ilegal e afirmou que apenas 600 mil pessoas participaram dele. Além da pressão interna, ele enfrenta uma pressão externa crescente, com ameaças de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia.

Nesta quinta-feira, o governo brasileiro voltou a pedir a Maduro que desista da Assembleia Constituinte, que, segundo o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, incorpora instituições eleitorais fascistas.  

AS/PV/efe/lusa/dpa/afp

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