Coalizão de oposição ao chavismo vence 99 dos 167 assentos na Assembleia Nacional. Partido governista PSUV fica com 46. Maduro aceita resultado e destaca "triunfo da Constituição e da democracia".
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A coalização de oposição na Venezuela, Mesa de la Unidad Democrática (MUD), conquistou 99 dos 167 assentos da Assembleia Nacional nas eleições legislativas deste domingo (06/12). O "oficialismo", bloco de governo que inclui o partido socialista de Nicolás Maduro PSUV e partidos aliados, ficou com 46 assentos, segundo divulgou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após a apuração de 96% das urnas.
O presidente da Venezuela disse aceitar os resultados adversos e destacou "o triunfo da Constituição e da democracia". "Nosso reconhecimento dos resultados sempre esteve garantido", disse Maduro na madrugada desta segunda-feira em um discurso transmitido pela TV estatal. "Sempre soubemos que nadávamos contra a corrente e não nos escondemos." Ele atribuiu a vitória da oposição a uma "guerra econômica".
A vitória já havia sido anunciada mais cedo pelo ex-candidato a presidente Henrique Capriles e por Lilian Tintori, esposa do oposicionista preso Leopoldo López.
"Ganhamos e ganhamos bem. São momentos muito difíceis porque sabemos que ganhamos, mas não sabemos o que o governo vai fazer", disse Tintori.
Com a maioria, a oposição pode limitar o poder de atuação de Maduro, cujo mandato vai até 2019. Depois de 16 anos de hegemonia chavista, com a maioria parlamentar, os oposicionistas também podem aprovar uma lei de anistia para presos políticos e investigar funcionários públicos.
Para os líderes da oposição, a vitória marca o início do fim do chavismo. Especialistas afirmam que a péssima situação econômica do país foi um dos fatores fundamentais para a possível derrota do governo.
Eleição (quase) sem incidentes
Cerca de 20 milhões de venezuelanos foram às urnas neste domingo para eleger os novos parlamentares. A eleição transcorreu sem incidentes, porém, no final do dia, o CNE decidiu prorrogar por uma hora a votação e retirar credenciais de ex-presidentes de vários países latino-americanos que observavam o processo eleitoral a pedido da oposição e haviam questionado o atraso no fechamento das urnas.
A oposição alegou que a manobra governista visava evitar a derrota. Três horas após o prazo oficial de fechamento das urnas, o CNE ainda não havia anunciado o encerramento da eleição.
O órgão eleitoral afirmou que a legislação determina que, enquanto houver eleitores na fila para votar, as urnas devem permanecer abertas.
CN/rtr/efe
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.