Oposição síria saúda envio de militares americanos
25 de abril de 2016
Presidente americano anuncia que mais 250 soldados auxiliarão milícias oposicionistas no combate ao grupo extremista "Estado Islâmico". Apesar de bem-vinda, decisão não basta, afirma oposição.
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Milícias da oposição na Síria saudaram nesta segunda-feira (25/04) a decisão dos Estados Unidos de enviar militares para auxiliar grupos armados locais no combate ao "Estado Islâmico" (EI). Os grupos, no entanto, pediram um reforço maior, com o fornecimento de armamentos, incluindo mísseis teleguiados antitanque.
"Todo e qualquer apoio que ofereçam é positivo, mas esperamos um apoio maior. Até agora recebemos apenas munição e esperamos receber equipamentos militares, como o prometido", disse Talal Silo, porta-voz da aliança Forças Democráticas da Síria (SDF), que inclui a milícia curda Unidades de Proteção Popular (YPG), principal parceira dos EUA e aliados no combate aos jihadistas.
Silo descreveu ainda a parceria entre Washington e a SDF como estratégica e ressaltou que qualquer ajuda extra é bem-vinda. A aliança Forças Democráticas da Síria foi formada em outubro.
Imagens de uma cidade síria recuperada do "Estado Islâmico"
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O presidente americano, Barack Obama, confirmou nesta segunda-feira o envio de 250 soldados à Síria para auxiliar no combate ao EI. Os militares americanos treinarão e prestarão apoio às forças locais na luta contra os extremistas.
"Um pequeno número de forças especiais americanas já está na Síria e sua expertise tem sido fundamental, assim como as forças locais têm afastado o EI de regiões fundamentais. Devido a esse sucesso, aprovei o envio adicional de 250 militares americanos à Síria, incluindo forças especiais, para manter essa dinâmica", anunciou Obama.
Cerca de 300 soldados
Com a decisão, o número de militares americanos na Síria deve chegar a cerca de 300. "Eles não estarão lá para liderar o combate terrestre, mas para, essencialmente, fornecer treinamento e assistência às forças locais que continuaram a reprimir o EI", ressaltou Obama.
O envio de militares americanos também foi apoiado pela principal aliança de oposição na Síria, o Comitê de Altas Negociações (HNC), que classificou a medida como um bom passo. "A Síria não será libertada do terrorismo até o fim do regime de terror de Assad", ressaltou o porta-voz do grupo, Salem al-Meslet.
Desde 2014, os Estados Unidos lideram uma campanha aérea contra o "Estado Islâmico" na Síria e no Iraque. A eficácia dessa estratégia é, porém, limitada devido à falta de aliados para o combate terrestre. Em cinco anos, o conflito na Síria já matou mais de 270 mil pessoas.
CN/rtr/afp/lusa
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.