Oposição venezuelana diz que não haverá "caça às bruxas"
7 de dezembro de 2015
Após chavismo perder, pela primeira vez em 16 anos, a maioria da Assembleia Nacional, líder opositor garante que não será colocado "sal nas feridas" do país: "Não pode haver duas Venezuelas."
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O presidente do opositor Partido Primeiro Justiça (PJ), Julio Borges, afirmou nesta segunda-feira (07/12) que os deputados de sua sigla não iniciarão uma "caça às bruxas", após a conquista da maioria no Parlamento venezuelano.
Foi a primeira vez em 16 anos que o chavismo perdeu a maioria da Assembleia Nacional, de 167 membros, o que dá à oposição – agrupada na coalizão Mesa de Unidade Democrática (MUD) – uma plataforma para desgastar ainda mais o poder do presidente Nicolás Maduro.
Borges, do partido do qual faz parte o candidato opositor nas duas últimas eleições presidenciais, Henrique Capriles, disse que também não colocarão "sal nas feridas que há na Venezuela".
"Não pode haver duas 'Venezuelas', mas sim um país unido, e essa é a tarefa com a qual amanhecemos nesta segunda-feira. Não viemos com uma fatura, não viemos para uma caça às bruxas nem para esfregar o triunfo na cara de ninguém. Nós somos os primeiros que estamos assumindo este triunfo com muita humildade", declarou.
Borges disse que, a partir de janeiro, a Assembleia Nacional "equilibrará a democracia", e afirmou que, com o resultado deste domingo, "conseguiu-se que a Venezuela saia do labirinto e marque um novo caminho".
Com 96,03% das urnas oficialmente apuradas, a MUD, na qual o PJ é um dos principais partidos, obteve 99 das 167 cadeiras no Parlamento, enquanto os partidos que apoiam o presidente Nicolás Maduro ficaram com apenas 46. Com este resultado, acrescentou Borges, a "Venezuela ratificou o espírito democrático que a caracteriza".
As 22 cadeiras que restam apenas serão definidas quando 100% das urnas estiverem apuradas, o que deve acontecer ainda nesta segunda-feira.
"Através da nova Assembleia, haverá espaço às empresas privadas para fortalecer a economia do país, porque não podemos continuar sendo um país que compra tudo de fora enquanto o campo está abandonado", afirmou Borges. "Temos que ser um país que tenha sua própria marca."
Capriles comemorou o resultado das eleições em seu perfil no Twitter, afirmando que "a Venezuela ganhou". "Sempre dissemos: este era o caminho. Humildade, maturidade e serenidade. Que viva o povo venezuelano!"
RC/efe/dw
Opositores neutralizados pelo governo venezuelano
Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. A DW listou alguns exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa/Sanchez
Controle sobre adversários
Pesquisas sugerem que apenas 25% da população da Venezuela aprova o desempenho do presidente, Nicolás Maduro. Temendo derrotas em eleições legislativas, o governo do Partido Socialista Unido da Venezuela usa o poder para afastar candidatos da oposição com boas chances de vitória. Opositores têm candidatura vetada ou são proibidos de ocupar cargos públicos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Candidatura anulada
Em 21 de setembro, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anulou a candidatura parlamentar de Carlos Vecchio, líder do partido Vontade Popular. Apesar de estar exilado, Vecchio liderava a lista dos candidatos da oposição no estado de Monagas, onde competia diretamente com Diosdado Cabello, segundo na hierarquia do PSUV e atual presidente da Assembleia Nacional.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gutierrez
Afastamento público
A Mesa da Unidade Democrática (MUD), a aliança de partidos de oposição venezuelanos, comunicou em 18 de julho que Pablo Pérez foi proibido de ocupar cargos públicos por dez anos. Sua participação nas eleições legislativas em nome da MUD estava assim sendo revogada. Perez foi governador do estado de Zulia, de 2008 a 2012, e líder do partido oposicionista Um Novo Tempo.
Em 15 de junho, Enzo Scarano, ex-prefeito do município de San Diego, no estado de Carabobo, recebeu a notificação da Controladoria-Geral informando-o que ele foi proibido de ocupar cargos públicos nos próximos 12 meses. Scarano havia sido eleito em maio, nas primárias da oposição, como candidato à Assembleia Nacional no colégio eleitoral 3 de Carabobo.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Proibida de concorrer
María Corina Machado foi incluída em maio na lista de candidatos da MUD para as eleições parlamentares de dezembro. Poucos dias antes de neutralizar Enzo Scarano, o controlador-geral, Manuel Galindo, desabilitou Machado politicamente por um ano. Machado foi a deputada que obteve mais votos na Venezuela nas eleições legislativas de 2010.
Foto: Getty Images/AFP/F. Parra
Mais um afastamento
A MUD lançou Daniel Ceballos como candidato para as eleições parlamentares pelo colégio eleitoral 5 do estado de Táchira. Mas, no início de julho, o político foi proibido de ocupar cargos públicos por um ano. Ceballos foi prefeito do município de San Cristóbal, até que o Supremo Tribunal destituiu-o em 2014, em meio aos protestos antigovernamentais daquele ano.
Foto: picture alliance/Demotix
Sete anos de proibição
No início de maio, apenas alguns dias antes de a MUD celebrar as primárias, o ex-governador de Táchira César Pérez Vivas foi proibido de ocupar cargos públicos por um período de sete anos. "Eu não sou o primeiro nem serei o último a sofrer este tipo de arbitrariedade e injustiça", disse Perez Vivas, na época.
Foto: Getty Images/AFP/J. Watson
Politicamente desqualificado
O fundador do partido Um Novo Tempo, Manuel Rosales, foi prefeito de Maracaibo, governador do estado de Zulia e candidato presidencial – o principal opositor de Hugo Chávez em 2006 – antes de procurar asilo político no Peru. Em maio de 2015, ele foi nomeado pela MUD para as eleições legislativas. Um mês depois, Rosales foi politicamente desqualificado por sete anos e meio.