Opositor russo aliado de Navalny sofre atentado na Lituânia
13 de março de 2024
Ativista Leonid Volkov foi espancado com um martelo e teve o braço quebrado. Governo lituano acusa Rússia de envolvimento no ataque.
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O ativista da oposição russa Leonid Volkov, um aliado próximo do crítico do Kremlin Alexei Navalny, que morreu em uma prisão no Ártico há pouco mais de três semanas, acusou nesta quarta-feira (13/03) o governo russo de estar envolvido no ataque que ele sofreu na noite de terça-feira na frente de sua casa em Vilnius, capital da Lituânia.
Em um vídeo postado no Telegram, Volkov, de 43 anos, disse ter voltado para casa nesta quarta-feira de manhã, após passar uma noite no hospital depois ter o braço quebrado e sofrer diversos ferimentos causados por cerca de 15 golpes de martelo na perna.
Ele, entretanto, se mostrou combativo. "Vamos continuar e não vamos desistir", disse Volkov.
O ativista, que atuou como chefe da equipe de Navalny, vive hoje exilado na Lituânia. Ele disse que o incidente foi uma "típica saudação de bandido" feita pelos homens do presidente russo, Vladimir Putin. "Eles queriam literalmente me espancar com um martelo", afirmou.
De acordo com a polícia lituana, Volkov foi atacado por volta das 22h (horário local) de terça-feira. "O homem me atacou no pátio e bateu na minha perna cerca de 15 vezes. A perna está bem. Dói quando eu ando", disse Volkov no vídeo. "Mas meu braço está quebrado".
A porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, havia informado anteriormente que "alguém quebrou a janela do carro e jogou gás lacrimogêneo nos olhos dele" antes de golpear Volkov com um martelo.
A esposa de Volkov, Anna Biryukova, compartilhou nas mídias sociais fotos de ferimentos do marido, que incluem um olho roxo, uma marca vermelha na testa e sangue saindo de um ferimento na perna, além de imagens de um veículo com danos na porta e janela do motorista.
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"Putin, aqui ninguém tem medo de você"
O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, disse que o ataque a Leonid Volkov foi claramente pré-planejado e vinculado a outras provocações contra a Lituânia. "Só posso dizer uma coisa a Putin: ninguém tem medo de você aqui", disse Nauseda.
Os serviços de inteligência da Lituânia disseram que o ataque foi "provavelmente" uma operação "organizada e implementada pela Rússia", visando impedir que a oposição russa influencie a eleição presidencial da Rússia.
Putin, no poder desde a virada do milênio, está realizando uma eleição nos próximos dias contra uma oposição simbólica, para estender seu governo por mais seis anos.
O Kremlin vê a equipe de Navalny como "a mais perigosa força de oposição capaz de exercer influência real nos processos internos da Rússia", disse a agência de segurança da Lituânia.
Não houve nenhum comentário imediato de Moscou sobre o incidente.
md/cn (DPA, AFP)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.