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Organizações brasileiras convocam protestos contra Copa do Mundo

30 de novembro de 2012

Manifestações em cidades-sede do mundial coincidem com sorteio dos jogos da Copa das Confederações. Mais de 80 organizações assinam manifesto que critica falta de transparência do governo e violação de direitos.

Foto: AP

Protestos contra a Copa do Mundo 2014 estão convocados para as doze cidades-sede dos jogos neste sábado (01/12), a partir das 13h. As manifestações vão ocorrer no mesmo dia em que a Fifa faz o sorteio, em São Paulo, dos jogos da Copa das Confederações, que será realizada no ano que vem.

Mais de 80 organizações de movimentos sociais e culturais assinaram o manifesto "Copa para quem?" e anunciaram o ato para este sábado. Em São Paulo, a concentração será em frente à ocupação da Rua Mauá.

"Somos torcedores impedidos de ir ao estádio. Somos trabalhadores ambulantes impedidos de trabalhar. Somos moradores de favelas e ocupações despejados ou ameaçados de perder nossas casas", diz trecho do manifesto.

Os movimentos sociais criticam a falta de transparência das ações do governo brasileiro, a falta de discussão com a população quanto aos projetos e a violação dos direitos de famílias removidas por causa das obras para o megaevento.

Entusiasmo com a realização da Copa do Mundo de 2014 dá lugar a preocupaçãoFoto: picture-alliance/dpa

"A Copa do Mundo no Brasil era um sonho que aos poucos vai se tornando um pesadelo. Prometia-se realizar a Copa do Mundo totalmente com capital privado, não haveria nenhum dinheiro público. Agora, a Copa está sendo praticamente financiada com o dinheiro do Estado", diz o jornalista esportivo Juca Kfouri.

Renato Cosentino, especialista em política e planejamento urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que sediar megaeventos costuma ser motivo de orgulho para os brasileiros. "Porém, o problema é a forma como eles estão sendo usados para legitimar uma série de violações de direitos", frisou Cosentino, que também faz parte do Comitê Popular da Copa do Rio de Janeiro e é um dos organizadores do protesto deste fim de semana.

A falta de transparência no controle dos gastos públicos também é um ponto de crítica. Para o professor de educação física da Universidade de Brasília (UnB) Fernando Mascarenhas, que desenvolve estudos na área de políticas de esporte e lazer, o governo não tem feito o bastante.

"Ainda que haja um espaço específico junto ao Portal da Transparência para reunir e tornar disponíveis informações sobre as ações e despesas do Governo Federal, há a desatualização e imprecisão dos dados informados", diz.

Copa dos interesses privados

Para Orlando Santos Júnior, professor de política urbana da UFRJ, os projetos relacionados à Copa do Mundo no Brasil atendem a interesses privados e à Fifa. E, ao mesmo tempo, violam os direitos humanos de uma parte da população.  

Especialista citam, como exemplo, a remoção de famílias por causa de obras relacionadas à Copa e seu reassentamento em locais com menos infraestrutura ou longe do centro da cidade. Estima-se que cerca de 170 mil pessoas estejam sendo afetadas com obras relacionadas aos megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

Santos Júnior cita a intenção do governo do Rio de Janeiro de repassar para a iniciativa privada o Maracanã, o que implica no fechamento de uma escola pública e do Museu do Índio que estão dentro do complexo esportivo. "Tudo isso sem qualquer discussão com a sociedade", afirma.

Doze estádios estão sendo reformados ou construídos e, para Juca Kfouri, isso é um desperdício de dinheiro público. Além disso, melhorias e modernização do transporte público, aeroportos, vias de acesso etc – que tinham o objetivo de se tornar legado da Copa para o Brasil – estão sendo driblados.

Cerca de 170 mil pessoas serão removidas de suas casas por causa dos eventos esportivosFoto: DW/S. Cowie

"Para minimizar os problemas de trânsito, nos dias de jogos será decretado feriado. Aeroportos militares deverão ser usados para receber vôos fretados vindos do exterior. Os aeroportos existentes, em vez de serem modernizados, vão ser no máximo recauchutados, e isso não atende ao interesse do país", frisou Kfouri.

Protestos

A tendência é que as manifestações contra a copa se intensifiquem, caso o governo não invista mais no diálogo. "Se as intervenções do poder público continuarem de forma não transparente e violando direitos, os protestos devem aumentar", opina Santos Júnior.

Os aspectos negativos de sediar um grande evento como esse não afetam apenas as pessoas afetadas por remoções. "Houve aumento do custo de vida no Brasil inteiro, o valor do aluguel triplicou no Rio de Janeiro e a tarifa do ônibus subiu acima da inflação. Houve uma incidência sobre a população como um todo e a insatisfação tende a crescer", frisa Cosentino.

Críticos dizem que as manifestações costumam ser maiores nas redes sociais do que nas ruas. Ainda assim, segundo Mascarenhas, isso não não significa que a população esteja satisfeita com a organização da Copa e das Olimpíadas. "A ausência de movimentos de massa e o não engajamento em movimentos e críticas quanto a Copa não quer dizer que o brasileiro está indiferente ao que está acontecendo", alerta.

Já no início de outubro houve protestos em Porto Alegre - uma das cidades-sede da Copa. A manifestação contra a privatização de áreas públicas da cidade terminou em confronto entre manifestantes e polícia, e o mascote da Copa, o boneco inflável do tatu-bola recentemente batizado de "Fuleco", foi destruído. O protesto havia sido convocado também pelas redes sociais.

Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Francis França

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