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Oriente Médio entre interesses nacionais e solidariedade árabe

Loay Mudhoon (av)21 de julho de 2006

Alguns dos principais Estados árabes, como Egito e Arábia Saudita, mantêm posição crítica sobre o procedimento do Hisbolá no embate com Israel. O medo da dominação iraniana está por trás dessa atitude.

Liga Árabe: morte cerebral?Foto: AP

O incidente é sintomático para os meios árabes, e ao mesmo tempo fora do comum. Após vigorosos embates verbais a portas fechadas, os ministros do Exterior da Liga Árabe chegaram ao um consenso morno na segunda semana de julho, ao fim da sessão extraordinária para discutir a escalada do Oriente Médio. Eles declararam o processo de paz na região como "fracassado" e pediram ao Conselho de Segurança da ONU que interferisse, a fim de deter a espiral de violência.

Consta desta resolução o apoio incondicional ao Líbano e aos palestinos, porém também o apelo aos implicados para que suspendam todo o tipo de ação que ponha em perigo a paz e a estabilidade da região. O secretário-geral da Liga, Amr Mussa, advertiu ainda contra o perigo de um incêndio que pode se alastrar por toda a região.

Apoio sírio

Sobretudo o Egito e Arábia Saudita – os dois Estados-líderes com esmagadora maioria sunita – criticaram severamente o Hisbolá (Partido de Deus). Sem citar pelo nome a organização, alertou-se contra "aventureiros irrefletidos", que poderão precipitar o Oriente Médio numa crise. Está na hora que "estes elementos arquem sozinhos com as conseqüências de tal comportamento irresponsável", continua o documento da Liga Árabe.

Além do Irã, seu aliado principal, a Síria é a única nação árabe a apoiar o xiita Hisbolá, embora o regime de Damasco obedeça à orientação árabe-nacionalista e sobretudo secular. A longa ligação da Síria com o regime de Teerã tem motivos meramente oportunistas.

Sob a meia lua xiita?

Mesmo que, via de regra, interesses próprios nacionais pesem mais do que a solidariedade árabe: por trás dessa estranha atitude das grandes potências sunitas estão os medos árabes do predomínio iraniano nesta região estrategicamente importante.

O Irã é o principal vencedor da guerra do Iraque de 2003: os Estados Unidos neutralizaram seu inimigo principal, o regime de Saddam Hussein. E através de sua influência sobre os partidos xiitas, o Irã já é hoje parte integrante da elite política do Iraque pós-Saddam.

O rei Adula, da Jordânia, foi quem expressou de forma mais aberta a preocupação por este avanço. Há um ano ele apontou a ameaça de um "Irã imperial" e de uma "meia lua xiita", permeando desde o Irã até o Líbano, através do Iraque.

Na época, o ministro do Exterior saudita, Suad al Faisal, também se mostrou preocupado com a crescente ingerência do Irã no Iraque. Segundo ele, o país forneceria dinheiro e armas aos grupos xiitas.

Morte cerebral da Liga Árabe

Junte-se a preocupação sobre as ambições nucleares do Irã. Os progressos do país neste campo são tão mais ameaçadores para o mundo árabe predominantemente sunita, na medida que não se conta mais com o Iraque como anteparo e contrapeso.

Também no caso de uma escalada descontrolada no impasse nuclear, diversos observadores árabes não excluem a possibilidade de o Irã empregar suas armas contra seus vizinhos, a fim de enfatizar seu papel de dominância.

Mais perigoso do que os deslizes verbais de Ahmadinedjad – atualmente ocupando o posto de inimigo favorito no Europa – é o fato de ele, em seus esforços para reter a hegemonia de opinião no mundo islâmico, encontrar ampla ressonância entre a população árabe.

Deste modo, o presidente iraniano tem campo fértil para a disseminação do fundamentalismo radical-islamítico. E a presente morte cerebral – de fato – da Liga Árabe só lhe vem a calhar.

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