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Estudo sobre suposta origem judaica de Colombo é questionado

Matthew Ward Agius
17 de outubro de 2024

Pesquisa divulgada em documentário de TV contradiz origem italiana do explorador e defende que ele era judeu. Mas cientistas ponderam que trabalho não foi verificado por pares e que análise genética não é conclusiva.

Retrato de Cristóvão Colombo.
Origem de Cristóvão Colombo voltou a ser disputada após documentário revelar possível passado judaico do exploradorFoto: CPA Media/AGB Photo/IMAGO

O famoso explorador Cristóvão Colombo pode ter sido um judeu sefardita espanhol, segundo um documentário que foi ao ar na televisão espanhola. Se confirmada, a alegação derrubaria a crença sobre a identidade do explorador, que se supunha ter origem genovesa, da península italiana.

As novas descobertas sobre a ascendência de Colombo foram apresentadas em um documentário da emissora espanhola TVE chamado DNA de Colombo: A verdadeira origem, e são o resultado do trabalho liderado pelos pesquisadores forenses José Antonio e Miguel Lorente, da Universidade de Granada, na Espanha.

Segundo o documentário, o explorador pode ter ocultado sua origem judaica, fingindo ser um cristão católico para evitar a perseguição que ocorria contra judeus na Europa.

Mas especialistas ouvidos pela DW criticam os resultados do estudo e dizem ser impossível determinar a religião de Colombo apenas por seu código genético, sem uma análise mais complexa de seu contexto histórico.

"O DNA simplesmente não consegue mostrar se alguém é ou foi judeu [que é uma identidade religiosa e/ou cultural, não uma ancestralidade]. No máximo, você pode mostrar com alta probabilidade que alguém tem parentes hoje ou no passado que foram ou são judeus", disse Iain Mathieson, geneticista da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, à DW.

Estátua do explorador em Santa Marguerita, Itália. Existem inúmeras teorias sobre a origem de Colombo Foto: Franz Neumayr/picturedesk/picture alliance

Quem foi Colombo e por que sua ascendência é importante?

Colomboliderou a exploração das Américas pelo Império Espanhol em 1490, trazendo os primeiros navios europeus para as costas da América Central, América do Sul e Caribe.

Por muitas décadas, foi celebrado como o descobridor das Américas, mas Colombo também se tornou um símbolo da opressão colonial contra os indígenas que habitavam a América do Norte e do Sul.

Colombo morreu em Valladolid, na Espanha, em 1506, mas seus restos mortais foram transferidos para Cuba em 1795 e depois para Sevilha em 1898. Muitos acreditam que sua ossada esteja armazenada na Catedral de Sevilha, mas alguns historiadores contestam essa afirmação.

Seu local de nascimento também é disputado pelos especialistas. Até então, a teoria mais aceita é a de que ele nasceu em Gênova, na Itália, mas outros sugerem Espanha, Portugal, Grécia e até as Ilhas Britânicas como possíveis locais de nascimento.

Ascendência espanhola não foi verificada

De acordo com o documentário, a análise da equipe de pesquisa de Granada confirma que os restos mortais de Colombo são de fato os que estão na Catedral de Sevilha, na Espanha.

Mas a análise também descobriu que a identidade italiana de Colombo, há muito defendida, poderia estar incorreta.

A equipe de Granada afirma que o DNA do explorador está associado a populações da Europa Ocidental e a traços de DNA comparados a uma origem judaica.

"Temos o DNA de Cristóvão Colombo, muito parcial, mas suficiente. Temos o DNA de Hernando Colón, seu filho, e tanto no cromossomo Y [masculino] quanto no DNA mitocondrial [transmitido pela mãe] de Hernando há traços compatíveis com a origem judaica", disse Miguel Lorente no documentário.

Mas a comunidade científica sugere cautela quanto a essa interpretação, pois a pesquisa não foi publicada em uma revista científica, o que significa que os resultados não foram examinados e verificados por outros cientistas.

"A comunidade científica não pode ter certeza sobre essas alegações. Nenhum estudo foi de fato publicado e disponibilizado para análise científica", disse Toomas Kivisild, geneticista da Universidade KU Leuven, que no ano passado supervisionou a decodificação genética das amostras de cabelo de Ludwig van Beethoven.

Um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, José Antonio Lorentes, disse à DW que  "os resultados científicos completos e detalhados da pesquisa serão apresentados em uma coletiva de imprensa em novembro."

Testes de DNA não podem determinar nacionalidade ou religião

Os especialistas em genética Mathieson e Kivisild disseram à DW que não é possível determinar a nacionalidade ou a religião de uma pessoa apenas a partir de seu DNA, já que são conceitos sociais e não estão codificados no código genético.

O estudo usou um teste genético que analisa o DNA autossômico de um indivíduo. Os autossomos são os 22 cromossomos não sexuais herdados das linhagens familiares de uma pessoa. Isso proporciona uma alta qualidade de informações genéticas que permitem vincular a ascendência a regiões geográficas específicas.

Mas esses testes só conectam as informações genéticas de uma pessoa às de pessoas que vivem atualmente em uma determinada região.

Os testes de DNA não podem, por exemplo, dizer se uma pessoa é judia. Em vez disso, eles podem indicar que os genes analisados são similares ao encontrado em pessoas que eram conhecidas como de origem judaica por outras fontes históricas.

Ainda não é possível identificar quais comparações a equipe de Granada utilizou para afirmar que Colombo era judeu.

Kivisild acrescentou que a evidência pode ter sido baseada apenas em análises do DNA mitocondrial e do cromossomo Y.

"Essa análise não pode apoiar de forma conclusiva a distinção entre ascendência judaica espanhola e italiana ou sefardita", disse ele.

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