Orquestra de exilados sírios dá concerto na Alemanha
Samih Amri (af)24 de setembro de 2015
Cerca de 30 músicos da Síria viajaram de toda a Europa para o primeiro concerto em Bremen. Eles querem mostrar que sua pátria é mais do que guerra e destruição. Outras apresentações já estão previstas.
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"Esse concerto é dedicado à Síria e a todos aqueles que se preocupam com ela", anuncia o maestro Martin Lentz antes do espetáculo.
Músicos profissionais da Síria exilados em diversos países da Europa realizaram nessa semana em Bremen, na Alemanha, o primeiro concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra (Orquestra Filarmônica de Emigrantes Sírios – SEPO). Cerca de 30 refugiados vindos da Alemanha, Suécia, Holanda, França e Dinamarca integram o grupo, além de colegas alemães.
A ideia partiu do contrabaixista sírio Raed Jazbeh, que queria mostrar algo sobre sua pátria além de imagens sangrentas. "Queremos mostrar um retrato bonito da Síria, porque o nosso país é mais do que luta e guerra", explica o músico que chegou a Bremen há pouco mais de dois anos. Ele não gosta de se referir ao grupo como uma "orquestra de refugiados". "Nós somos uma orquestra no exílio", enfatiza.
Saudade, mas também esperança
A abertura Heimkehr aus der Fremde (Retorno do estrangeiro), de Felix Mendelssohn Bartholdy, iniciou o concerto, com sons melancólicos que expressam uma grande saudade da pátria. Fuga e exílio dominavam a atmosfera do programa, mas também havia lugar para amor e esperança. A seleção ampla incluiu desde sinfonias clássicas da tradição ocidental a compositores sírios contemporâneos menos conhecidos, como Mayas Al Yamani.
Alguns instrumentistas sírios já haviam tocado juntos em sua terra natal, na Academia de Música de Damasco. Porém seus caminhos se separaram quatro anos atrás, quando a guerra civil tomou conta do país. Foi através do Facebook que Jazbeh conseguiu localizar vários ex-colegas.
Por muito tempo, ele procurou pela violinista Michella Kasas, que agora mora na França, onde pode prosseguir seus estudos musicais. Tocar em Bremen com muitos de seus ex-colegas é quase um milagre para ela: "Mal posso acreditar que nos encontramos depois de tanto tempo", diz a jovem de 28 anos. "Durante os ensaios, sinto que estou de novo em Damasco. Isso é muito comovente".
Instrumentos emprestados
Na noite do concerto, a maioria usava instrumentos emprestados pelo conservatório de Bremen. Kasas teve sorte de conseguir levar seu violino para a França. O trompetista Dolama Shabah, por sua vez, precisou deixar seu instrumento para trás.
"Simplesmente não tinha espaço suficiente na minha mochilinha", conta. Essa era sua única bagagem na fuga através da Turquia, o Mar Mediterrâneo, Sérvia e Hungria, até a Alemanha. Lá, um colega alemão lhe presenteou um trompete usado. "Isso me deu esperança novamente. Nessa orquestra encontrei minha força e ambição", diz Dolama.
Quando ouviu sobre a SEPO, alguns meses atrás, o regente Martin Lentz não hesitou. Ele gosta de trabalhar com grupos internacionais. Recentemente, supervisionou um projeto em Ramallah com o maestro Daniel Barenboim. Com os jovens sírios, Lentz demonstra afeto e compreensão, mas sem deixar de ser exigente nos ensaios. "Toquem com os sentimentos de vocês!", encoraja o maestro.
Por enquanto, a orquestra se mantém com doações, e os músicos não recebem salário. Contudo, o concerto em Bremen deve ser apenas o começo. "Quero usar a minha música para mudar a imagem negativa que muitas pessoas têm da Síria e do islã", diz a violinista Hivron. O próximo concerto da Syrian Expat Philharmonic Orchestra está marcado para 3 de outubro, em Lüneburg.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.