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DSO lança concurso de curtas-metragens no Brasil

2 de abril de 2012

Antecipando turnê sul-americana, orquestra berlinense convida cineastas a conectar a mobilidade atual ao universo musical de Beethoven. Inscrições vão até 25 de junho de 2012 e prêmios incluem viagens à capital alemã.

Foto: Rostrot Medien

Beethoven é uma das poucas grandezas absolutas da cultura ocidental: gênio, revolucionário, titã da música, incontestavelmente moderno. No entanto, como chegam, hoje, as suas composições aos ouvidos brasileiros, em especial aos dos jovens?

A partir dessa pergunta, a Deutsches Symphonie-Orchester (DSO), de Berlim, está lançando um concurso de curtas-metragens sob o mote Music on the Road – Música na estrada. A iniciativa acompanha a turnê da orquestra pela América do Sul, em maio de 2012.

A concepção do concurso é inusitada: pela internet, os cineastas interessados têm acesso a alguns breves trechos da Sinfonia nº 6, "Pastoral". O convite é para que se "apossem" de Beethoven, estando livres para combinar e sobrepor os fragmentos, editá-los, remixá-los. E utilizá-los como trilha sonora de um curta-metragem em torno do tema "Música na estrada".

Deutsches Symphonie-Orchester Berlin em concertoFoto: Rostrot Medien

Beethoven, o Brasil, o século 21

Ludwig van Beethoven (1770-1827) levava uma vida extremamente movimentada. Não só o trabalho como músico o mantinha constantemente em trânsito: ele vivia mudando de domicílio, por motivos até hoje não plenamente esclarecidos. Na mesma medida em que seu temperamento muitas vezes beirava a misantropia, motivos profissionais e sociais o obrigavam a estar em comunicação permanente, em pessoa ou por cartas, com amigos, conhecidos, parceiros de negócios. Assim, conceitos contemporâneos como multitasking, networking, professional mobility não seriam nada estranhos para aquele que foi possivelmente o primeiro verdadeiro free lancer entre os grandes nomes da história da música.

O compositor e pianista nascido na cidadezinha alemã de Bonn escreveu a Sinforia PastoralRecordações da vida no campo entre 1807 e 1808. Na época, ele residia nos arredores da metrópole Viena, mas, sempre que podia, buscava tranquilidade e refúgio na natureza, empreendendo longas excursões pelos campos e bosques da periferia.

Beethoven e a natureza, em quadro de Joseph Karl StielerFoto: CC

Segundo suas próprias palavras, esses passeios foram a inspiração para a Sexta sinfonia, cujos cinco movimentos trazem títulos explicitamente descritivos, como Despertar de sentimentos alegres ao chegar no campo ou Cantos dos pastores. E as alusões instrumentais a fenômenos naturais – tempestades, vozes de pássaros, regatos – são impossíveis de ignorar. No entanto, o músico insistia: mais do que uma "pintura" sonora, ele pretendeu comunicar suas "impressões" subjetivas diante da natureza.

Essa era a visão de Beethoven. Porém que imagens essa mesma música desperta na cabeça de um brasileiro do século 21? Como será que a sensibilidade, a inquietação do compositor que viveu na Europa de quase dois séculos atrás se relaciona com a mobilidade física e virtual do mundo de hoje, na América do Sul, na cidade grande e para além dela?

Responder em forma de imagens e sons a essas questões é o desafio que a DSO apresenta aos participantes do concurso. Não há qualquer restrição de estilo, técnica ou formato para os vídeos e tampouco limites de idade ou de formação para os candidatos: a única condição é terem domicílio no Brasil.

Suas propostas devem ser postadas no portal YouTube até 25 de junho e, em seguida, lincadas num dos sites do Music on the Road na internet ou no Facebook. Um júri formado por especialistas e VIPs se encarregará de escolher os melhores entre os vídeos submetidos. A divulgação dos prêmios – que incluem viagens à Alemanha – se realizará em 29 de junho de 2012.

Conexão São Paulo-Berlim

Um ponto alto da visita da DSO ao Brasil ocorrerá no dia 13 de maio, quando o conjunto sinfônico de Berlim se apresenta ao lado da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, num concerto ao ar livre no Parque do Ibirapuera, na capital paulista.

O programa eclético inclui obras dos russos Alexandr Borodin e Piotr Tchaikovsky, assim como de Richard Strauss, Hector Berlioz e Jean Sibelius. Quanto às obrigatórias peças de bis, são mantidas em sigilo absoluto. Porém, uma coisa é certa: elas colocarão à prova o ritmo e a ginga dos músicos alemães e de seus jovens colegas brasileiros.

DSO apresenta-se com frequência na sala Filarmônica de BerlimFoto: Rostrot Medien

A turnê conta com a parceria da Deutsche Welle, além da montadora de automóveis Mercedes-Benz do Brasil e do Mozarteum Brasileiro, instituição voltada para a divulgação da música erudita no país, vista como instrumento de inclusão social. As demais estações da turnê sul-americana da Deutsches Symphonie-Orchester serão Buenos Aires e Rosario, na Argentina.

Viola brasileira

Uma ponte entre a renomada orquestra e o Brasil é Thaís Coelho, violista paulistana que integra a DSO. Numa série de vídeos no website do concurso, ela apresenta o projeto com charme e simpatia, além de já dar aos potenciais vencedores da competição cinematográfico-musical um "gostinho" do fascínio que a capital alemã exerce sobre seus habitantes e turistas do mundo inteiro.

Brasileira Thais Coelho (esq.) apresenta Berlim aos candidatosFoto: Rostrot Medien

Thais é também peça de conexão vital num outro aspecto da turnê da DSO no Brasil. Numa iniciativa inédita, os instrumentistas da Alemanha ensaiam com a Orquestra Jovem de SP via internet. Embora o video live streaming já seja empregado em transmissões ao vivo de concertos e em workshops de música, trata-se da primeira vez que a tecnologia é utilizada para ensaios conjuntos de duas orquestras, em continentes diferentes.

E aqui, a violista brasileira se encarrega de ministrar master classes aos jovens músicos de seu naipe no Brasil, além de garantir a comunicação entre os dois conjuntos sinfônicos com históricos e graus de experiência profissional tão diversos. Uma aventura artística, cultural e tecnológica que, sem dúvida, vale a pena acompanhar.

Autoria: Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler

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