Orquestra Sinfônica de Kiev faz turnê pela Alemanha
Gero Schliess
26 de abril de 2022
Rebatendo o mito de que não existe uma cultura ucraniana, a Kyiv Symphony Orchestra apresenta um programa com obras de compositores nacionais. "A voz da Ucrânia precisa ser ouvida em todo o mundo", afirmam integrantes.
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Com regularidade, o presidente russo, Vladimir Putin, se refere a uma suposta "unidade histórica do povo russo e ucraniano". Segundo esse ponto de vista, a Ucrânia não existe como nação, não possuindo, portanto, uma cultura própria. Com sua turnê pela Alemanha e Polônia, sob o título Voice of Ukraine, a Kyiv Symphony Orchestra quer se contrapor a esse mito.
A identidade cultural da Ucrânia
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A orquestra sinfônica da capital Kiev é um dos conjuntos musicais mais importantes da Ucrânia. Em meio à guerra da Rússia contra a Ucrânia, seus integrantes desejam emitir um sinal pela preservação da cultura nacional: "Justamente agora, a voz da Ucrânia precisa ser ouvida por todo o mundo, saímos em turnê para, com a linguagem da música, falar a cada coração", anunciam em seu website.
Com a missão de combater "a agressão russa com o suave poder da música", após uma série de concertos na Polônia a Orquestra de Kiev se apresenta agora em sete conceituadas salas de concerto alemãs, entre as quais a Filarmônica de Berlim, a Gewandhaus de Leipzig e a Elbphilharmonie de Hamburgo. O primeiro evento ocorreu nesta segunda-feira (25/04), no Kulturpalast de Dresden.
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"Parte da grande família europeia"
Sob a regência do maestro italiano Luigi Gaggero, constam do programa obras de compositores de três séculos relacionados ao país, indo desde a Sinfonia nº 1 do ítalo-russo de origem ucraniana Maksym Berezovsky (1745-1777), até a Sinfonia nº 3 do ucraniano Borys Lyatoshynsky (1895-1968).
O programa é uma prova "de que a Ucrânia jamais esteve distante dos processos europeus mais importantes", sendo "parte da grande família europeia": "Queremos dar a todos esperança de um futuro pacífico e a fé na reconstrução da Ucrânia, que será mais forte e bela do que nunca", afirmam os músicos.
Bailarinos ucranianos são acolhidos em Paris
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A Sinfônica de Kiev se apresenta na Alemanha até 1º de maio. Seus integrantes estão mais do que cientes de que, enquanto isso, em seu país natal, a invasão russa faz mais vítimas a cada dia que passa: "Por isso, os músicos ucranianos precisam se tornar a voz da Ucrânia e a voz de cada ucraniano que, devido à agressão militar pela Rússia, não tem mais voz."
A turnê conta com o apoio dos ministérios ucranianos da Defesa e da Cultura, assim como da Agência Estatal de Arte e Educação Artística da Ucrânia.
A DW transmitiu o concerto de abertura da turnê alemã da Kyiv Symphony Orchestra no Kulturpalast de Dresden nesta segunda-feira. Clique abaixo para assistir:
A reação do setor de cultura à invasão russa da Ucrânia
Do Festival Eurovisão a Cannes, a esfera cultural mostra desaprovação à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin cancelando a participação de artistas russos em seus eventos. Alguns exemplos.
O Festival de Cinema de Cannes anunciou em 1º de março que "não receberia delegações oficiais russas" ou pessoas ligadas ao governo do país. Vários festivais de cinema reagiram da mesma forma, incluindo Glasgow e Estocolmo. Locarno anunciou que não participaria de um boicote, enquanto Veneza oferecerá exibições gratuitas de um filme sobre o conflito de 2014 na região de Donbass.
Foto: REUTERS
Rússia barrada no Festival Eurovisão
A União Europeia de Radiodifusão, que organiza o Festival Eurovisão da Canção, declarou em 25 de fevereiro que "à luz da crise sem precedentes na Ucrânia, a inclusão de uma entrada russa no concurso deste ano traria descrédito à competição". Enquanto isso, o grupo de folk-rap da Ucrânia Kalush Orchestra (foto) emergiu como um dos favoritos a vencer o festival de música mais popular da Europa.
Foto: Suspilne
Óperas interrompem colaborações com o Bolshoi
A Royal Opera House de Londres cancelou a temporada de verão do Balé Bolshoi de Moscou. A encenação de "Lohengrin" da Metropolitan Opera, de Nova York, coproduzida com o Bolshoi, também será afetada. Até então leal a Putin, o diretor da aclamada companhia de balé, Vladimir Urin, está entre os signatários de uma carta em oposição à guerra.
Muitos artistas russos condenaram a guerra. Mas, apesar de um ultimato da Filarmônica de Munique para se posicionar publicamente, o maestro Valery Gergiev permaneceu em silêncio sobre a invasão liderada por Putin, seu amigo desde 1992. Em 1º de março de 2022, a orquestra alemã demitiu seu aclamado maestro. Vários concertos na Europa e nos EUA também foram cancelados.
Foto: Danil Aikin/ITRA-TASS /imago images
Soprano Anna Netrebko é retirada das óperas
A Metropolitan Opera de Nova York (MET) e a Ópera Estatal de Berlim encerraram sua colaboração com a estrela da ópera russa Anna Netrebko, por ela se recusar a "repudiar seu apoio público a Vladimir Putin". Ela é "uma das maiores cantoras da história do MET", disse o diretor da casa de ópera, Peter Gelb, "mas com Putin matando vítimas inocentes na Ucrânia, não havia outro caminho a seguir".
Foto: Roman Vondrous/CTK/imago images
Museus cortam laços com oligarcas russos
Em meio a pedidos para que instituições culturais removam aliados de Putin de seus conselhos, museus estão cortando laços com benfeitores russos. O bilionário Vladimir Potanin deixou o conselho de curadores do Museu Guggenheim (foto), em Nova York, segundo o jornal The New York Times. O site Artnet relata que o magnata bancário Petr Aven deixou o cargo de administrador da Royal Academy em Londres.
Foto: Han Fang/Xinhua/imago images
Hermitage Amsterdam rompe relações com São Petersburgo
Amsterdã abriga o maior satélite do célebre Museu Hermitage de São Petersburgo. Até agora, nunca havia comentado sobre as ações políticas de Putin, mas "com a invasão do exército russo à Ucrânia, uma fronteira foi cruzada". "A guerra destrói tudo. Até 30 anos de colaboração", afirmou o museu holandês em 3 de março. O local também fechou a exposição que estava em cartaz, "Russian Avant-Garde".
Foto: Richard Wareham/imago images
Artistas russos desistem da Bienal de Veneza
Nem sempre são os organizadores de eventos que boicotam os artistas russos. Na Bienal de Veneza, que começa em 23 de abril, são os artistas e o curador da exposição russa que se demitiram, afirmando no Instagram que "o Pavilhão da Rússia permanecerá fechado" em protesto contra os civis mortos por mísseis e manifestantes russos sendo silenciados.
Foto: Photoshot/picture alliance
Hollywood adia lançamentos de filmes na Rússia
Disney, Warner Bros, Sony, Paramount Pictures e Universal decidiram interromper o lançamento de filmes nos cinemas russos. "The Batman" (foto) deveria ser lançado no país em 4 de março. Outros títulos afetados pela decisão incluem o filme de animação da Disney Pixar "Red: Crescer é uma Fera", "The Lost City", da Paramount, e o filme da Marvel "Morbius".
Foto: Jonathan Olley/DC Comics /Warner Bors/dpa/picture alliance
Concertos cancelados na Rússia
"Ucrânia, estamos com você e com todos aqueles na Rússia que se opõem a esse ato brutal", disse Nick Cave. Ele cancelou as datas da turnê russa planejada para o verão, assim como muitos outros grupos, incluindo Franz Ferdinand, The Killers, Iggy Pop e Green Day. O popular rapper russo Oxxxymiron também cancelou seus shows no país, pedindo um movimento antiguerra.