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SociedadeCoreia do Norte

Os americanos que desertaram para a Coreia do Norte

16 de agosto de 2023

Antes de Travis King, outros militares dos EUA cruzaram a fronteira em direção à Coreia do Norte entre os anos 60 e 80. Alguns viraram estrelas de cinema do regime, e outros morreram em circunstâncias misteriosas.

Soldados na Zona Desmilitarizada entre as Coreias
King é o sétimo soldado americano a desertar para o país asiático após a Guerra da Coreia. O último caso havia ocorrido há cerca de 40 anosFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Yeon-Je

O soldado Travis King fugiu em julho para a Coreia do Norte, provocando espanto na imprensa dos Estados Unidos. Normalmente, é mais comum que ocorram fugas de dissidentes ou refugiados que desejam escapar do regime comunista do Norte. No entanto, King não foi o primeiro americano a percorrer o caminho contrário.

King, um soldado raso de 23 anos, na realidade é o sétimo soldado americano da história a desertar para o país asiático após a Guerra da Coreia (1950-53). O último caso havia ocorrido há cerca de 40 anos. Nesta quarta-feira (16/08), o regime comunista confirmou que mantém King em custódia.

Estes são os outros casos anteriores conhecidos:

Larry Allen Abshier, maio de 1962

O soldado Larry Allen Abshier, membro de um esquadrão de reconhecimento, cruzou a fronteira em direção ao Norte quando tinha 19 anos.

Abshier havia estado na Coreia do Sul no ano anterior e enfrentava um processo disciplinar interno por fumar maconha em várias ocasiões em serviço.

Foi a primeira de três deserções de americanos no período de um ano. Na Coreia do Norte, Abshier, junto com outros dois americanos, acabou atuando como ator de uma série de guerra produzida pelo regime chamada Heróis sem nome.

Ele morreu em 1983 em Pyongyang de ataque cardíaco.

James Joseph Dresnok, agosto de 1962

Soldado de primeira classe, James Joseph Dresnok seguiu os passos de Abshier.

Divorciado aos 21 anos, ele ocupava postos de vigilância na área de segurança conjunta entre as Coreias e estava na iminência de enfrentar uma corte marcial por suspeita de falsificar a assinatura de um superior para poder visitar uma mulher. Ele relatou sua história no documentário Crossing the line (2006), de Daniel Gordon e Nicholas Bonner.

Assim como Abshier, ele também participou ds série Heróis sem nome. Além de ator em filmes produzidos por Kim Jong-il (líder da Coreia do Norte entre 1994 e 2011), ele também trabalhou como professor de inglês, e até traduziu alguns textos do ditador norte-coreano.

Dresnok casou-se com uma cidadã romena, com quem teve dois filhos. Ele morreu em 2016.

Soldados norte-coreanos. Normalmente, fugas do Norte para o Sul são mais comunsFoto: Lee Yong-Ho/dpa/picture alliance

Jerry Wayne Parrish, 1963

O cabo Jerry Wayne Parrish estava patrulhando a Zona Desmilitarizada da fronteira entre as Coreias (DMZ) quando decidiu cruzar para o lado norte. Ele deixou um bilhete em seu rifle endereçado à mãe prometendo voltar um dia.

Não está claro por que Parrish decidiu fugir para a Coreia do Norte. Ao contrário de outros desertores, ele não enfrentava inquéritos disciplinares. No Norte, ele se casou com uma libanesa com quem teve três filhos e aparentemente se tornou um dos atores mais proeminentes da indústria de entretenimento de propaganda norte-coreana.

Diferentes versões situam sua morte entre 1996 e 1998 devido a problemas de saúde.

Charles Robert Jenkins, 1965

O sargento Charles Robert Jenkins é possivelmente o desertor americano mais famoso do Norte. Aos 24 anos, ele abandonou seu posto de vigilância e atravessou a fronteira, segundo ele, por medo de ser convocado para a Guerra do Vietnã.

Jenkins acabaria avaliando mais tarde que essa foi a pior decisão de sua vida. Durante sua primeira década em Pyongyang, ele sofreu violência física, foi forçado a ensinar inglês a espiões norte-coreanos, apareceu em peças de propaganda e acabou se casando com Hitomi Soga, uma cidadã japonesa que havia sido raptada pelo regime.

Em 2004, em meio a um degelo nas relações entre Pyongyang e Tóquio, ele obteve permissão para seguir para o Japão, onde reencontrou sua esposa (repatriada anos antes) e, posteriormente, suas duas filhas.

Jenkins viveu até sua morte na cidade natal de sua esposa, Sado, onde escreveu um livro relatanto suas experiências, O comunista relutante: minha deserção, corte marcial e prisão de quarenta anos na Coreia do Norte (2007). Ele morreu em 2017.

Charles Robert Jenkins em 2004Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Plunkett

Roy Chung, 1979

O soldado Roy Chung era membro de uma família de migrantes sul-coreanos que chegaram aos Estados Unidos em 1973. Ele desapareceu em junho de 1979 enquanto estava servindo na cidade alemã de Bayreuth, então na Alemanha Ocidental, e no mês seguinte foi declarado desertor.

Dois meses após seu desaparecimento na Europa, a imprensa norte-coreana anunciou sua deserção. O caso nunca foi totalmente investigado, mas sua família sempre alegou que ele foi sequestrado.

Segundo informações divulgadas pelo documentarista Bonner, Chung morreu de causas naturais em 2004.

Joseph T. White, 1982

O soldado de infantaria Joseph T. White fugiu em 1982 para um posto de guarda norte-coreano em Kaesong, perto da fronteira, levando consigo documentos militares roubados.

O regime comunista nunca permitiu que representantes do Comando das Nações Unidas contassem com White para esclarecer os motivos de sua fuga. Pyongyang se limitou a divulgar um vídeo do americano criticando duramente Washington e o envio de tropas à Coreia do Sul.

De acordo com uma carta recebida por seus pais em 1985, White morreu naquele ano aos 23 anos, após supostamente se afogar em um rio enquanto nadava.

jps (Efe, ots)