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MúsicaAlemanha

Os anos de Freddie Mercury em Munique

24 de novembro de 2021

"O Queen conquistou os EUA a partir da Alemanha": trinta anos após a morte do icônico cantor, biógrafo conta em livro como Freddie se sentia em casa na cidade alemã, onde podia expressar livremente sua homossexualidade.

Freddie Mercury em 1984
Foto: dpa/picture alliance

"Extravagante. Nenhuma outra palavra se destaca tanto em relação a Freddie Mercury", escreve o autor Nicola Bardola no prefácio da biografia Mercury em Munique – seus melhores anos (em tradução livre).

Em 24 de novembro de 1991, o extraordinário artista morreu de complicações associadas à aids, apenas um dia após anunciar que havia contraído o HIV. Até então, ele se mantinha em silêncio sobre a doença, apesar de diversos rumores.

Mercury, nascido como Farrokh Bulsara em Zanzibar em 1946, era cauteloso em relação a sua vida privada e, na maioria das vezes, se mantinha discreto nas entrevistas. Certa vez, disse que odiava conversar com pessoas que não conhecia.

Desconhecido em Munique

Essa é uma das razões pelas quais ele se sentia em casa na metrópole bávara, onde viveu entre 1979 e 1985. O germanista e autor Nicola Bardola escreveu uma extensa biografia sobre o período de Mercury em Munique. Logo no início, ele traz uma frase do cantor: "Encontrei um lugar chamado Munique, onde posso caminhar pelas ruas".

A banda Queen já havia conquistado o primeiro lugar nas paradas do Reino Unido com Bohemian rhapsody, em 1975, e não era desconhecida na Alemanha. Mesmo assim, apesar da fama, ele era deixado em paz em Munique. Ali encontrou refúgio e vivenciou um despertar artístico.

Livro de Nicola Bardola retrata vida de Freddie Mercury em MuniqueFoto: Markus Naegele

"Freddie mudou bastante em Munique", disse Bardola em entrevista à DW. "Ele esteve aqui pela primeira vez em 1974. Aquele foi o primeiro show do Queen na Alemanha, e ele reconheceu Munique como uma cidade atraente."

Sucesso nos EUA a partir da Alemanha

Freddie Mercury foi atraído pela cena musical vibrante da cidade. Ele e seus colegas de banda Brian May, Roger Taylor e John Deacon gostavam, em particular, do Musicland Studios, estúdio fundado no início dos anos 1970 pelo lendário compositor e músico Giorgio Moroder.

"A primeira música que eles gravaram em Munique foi Crazy little thing called love", conta Bardola. "Essa canção chegou ao primeiro lugar nas paradas americanas – a primeira música do Queen a conseguir isso. Assim, de algum modo, eles conquistaram os EUA a partir de Munique."

No total, quatro álbuns – The game (1980), Hot space (1982), The works (1984) and A kind of magic (1986) – foram produzidos no lendário estúdio onde Led Zeppelin, Rolling Stones, Donna Summer e vários outros também gravaram seus discos.

Viver sua homossexualidade livremente

Mas não era apenas a cena musical da cidade que fascinava Mercury. "Freddie também apreciava bastante a atitude liberal de Munique em relação à homossexualidade", afirma o biógrafo.

Nessa época, ele já estava separado de sua namorada Mary Austin. O artista já havia confidenciado a ela que era gay, mas não tinha ainda declarado publicamente sua homossexualidade.

Ele frequentava o Glockenbachviertel, um bairro internacionalmente conhecido entre gays e lésbicas, tanto então como hoje. "Ali, podia-se viver e circular livremente, sem medo de perseguição, como em outras cidades. E havia também vários clubes, bares e discotecas gays que Freddie gostava de frequentar."

Freddie ao lado de sua amiga e "guia alemã", a atriz Barbara Valentin, em 1984Foto: Ursula Düren/dpa/picture-alliance

Em Munique, ele praticou sua sexualidade livremente. Mergulhava de cabeça nas festas e vivia um relacionamento semelhante a um casamento com Winnie Kirchberger, proprietário de imóveis em Munique, com quem explorava a cena gay local.

Ele também manteve uma amizade especial com a atriz Barbara Valentin, inicialmente retratada como símbolo sexual e que atuou em vários papéis em filmes do cineasta Rainer Werner Fassbinder. Segundo Bardola, Valentin dominava bem o espírito da época e era a "guia alemã" de Mercury.

"Valentin dizia que ele comia como um passarinho. Ela se referia aos bolinhos servidos com carne de porco assado como 'bolas de futebol'", diz o biógrafo. "Por um lado, ele era muito reservado quando se tratava de comer – adorava champagne e caviar – mas, por outro, também fazia musculação em Munique. Ele ficou musculoso e forte, o que exige um joelho de porco com bolinhos, às vezes."

Rua Freddie Mercury

Em seu livro, Bardola joga luz sobre um período da vida de Mercury que não chegou a ser discutido em detalhe em outras biografias do vocalista. O escritor entrevistou testemunhas da época que, até então, ainda não tinham falado a respeito de Freddie.

Por exemplo, Wolfgang Simon, operador de câmera nos vídeos One vision e Living on my own, do Queen. Este último foi parcialmente filmado na festa do 39º aniversário de Freddie, para a qual Simon fora convidado, no clube de drags Old Mrs. Henderson. 

Segundo Bardola, as testemunhas descrevem a comemoração como "a derradeira festa de rock e sua despedida antecipada de Munique". Durante anos, o vídeo foi proibido por "retratar a promiscuidade". Hoje em dia, parece mais uma evidência daqueles tempos, onde se vê Freddie da maneira como ele possivelmente gostaria de ser visto: cheio de vida, extravagante e incomparável.

Em 2020, a cidade de Munique homenageou o ícone do rock ao batizar uma rua com seu nome no "bairro criativo" de Neuhausen. Dessa forma, ele será sempre lembrado em Munique, onde se sentiu em casa durante seis anos.

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