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Os caçadores de "fake news"

Barbara Wesel
11 de fevereiro de 2017

Elas se espalham pela internet e ganham repentina credibilidade quando encampadas por veículos de comunicação confiáveis. Grupo de 400 especialistas ajuda agência europeia a identificar notícias falsas.

Symbolbild Facebook Social Media Fake News
Foto: picture-alliance/maxppp/P. Proust

Foi a maior movimentação de soldados americanos em solo europeu em décadas. Em 12 de janeiro de 2017, quatro anos depois de o último tanque americano ter deixado a Europa, a Terceira Brigada Blindada dos EUA foi transferida para a Polônia.

Mais de três mil soldados, 87 tanques e centenas de veículos motorizados deixaram a cidade portuária de Bremerhaven, no norte da Alemanha, para se unirem às forças locais na fronteira oriental polonesa. Fotógrafos e equipes de televisão documentaram a manobra, pois o objetivo era claro: enviar uma mensagem a Moscou.

Um obscuro site pró-separatistas do leste ucraniano, a agência de notícias Donbass, relatou uma milagrosa multiplicação de tanques e publicou que os Estados Unidos haviam transferido 3.600 tanques para a fronteira russa. Segundo a agência, tratava-se de uma grande marcha militar que se voltava contra a Rússia.

Ben Nimmo, do Conselho do Atlântico (organização criada em 1961 para promover a aproximação entre Europa e EUA), relembra essa história para demonstrar como notícias são alteradas de um site para o outro e, assim, politicamente instrumentalizadas.

Nimmo é um dos cerca de 400 especialistas que ajudam uma pequena equipe de 11 pessoas do Serviço Europeu de Ação Externa (Seae) a identificar notícias falsas – as chamadas fake news.

A Donbass tirou os 3.600 tanques de uma informação verdadeira. Contabilizando todos os veículos, incluindo os em reserva na Holanda, chega-se de fato a 3.600 unidades. Só que esse número inclui jipes, trailers e os chamados Humvees.

Todos esses veículos foram subitamente classificados como tanques. Era óbvio que essa notícia falsa havia sido publicada intencionalmente. "Isso é típico de notícias falsas. Há um núcleo de verdade, e em torno dele há um monte de besteira", diz Nimmo.

Propagação rápida

O relato dos tanques foi posteriormente publicado num site canadense conhecido por disseminar teorias da conspiração. O site acrescentou a manchete "Insanidade política". A história foi mais uma vez ampliada, compartilhada por outras páginas pró-Rússia e, por fim, encampada pela agência russa de notícias Ria Novosti.

Esse é o passo decisivo, explica Nimmo, pois a agência de notícias acabou emprestando sua credibilidade a uma notícia falsa. O especialista pôde seguir os rastros dela até a Letônia e um site de um comunista norueguês, que deletou o artigo quando ficou óbvio que a história era infundada.

A agência separatista Donbass, no leste ucraniano, aumentou de 87 para 3.600 o número de tanques americanos estacionados na PolôniaFoto: dninews.com

"É exatamente aí que mora o perigo", afirma Nimmo. "Notícias falsas têm a credibilidade de quem as publica, e não da sua fonte original. A Ria Novosti deu à história a impressão de que era verdadeira."

Para o especialista Marc Pierini, da Fundação Carnegie para a Paz Internacional, o problema existe porque governos de vários países querem minar a União Europeia. "A Rússia é o exemplo mais relevante, mas a Turquia também está envolvida", afirma.

"A Rússia emprega uma grande quantidade de pessoas e gasta muito dinheiro para difundir notícias falsas – a União Europeia não têm como acompanhar." Pierini afirma que principalmente antes de eleições é importante ser cauteloso, porque essa forma moderna de propaganda se tornou um instrumento político para vários governos.

Como identificar

Além da propaganda vinda de obscuras fontes russas, inúmeras notícias falsas estão circulando porque pessoas que mantêm site de fake news ganham dinheiro com publicidade. Para identificar essas pessoas, é necessário coletar provas e, a partir de uma fonte, refazer o caminho de cada história na internet.

"Espalhar notícias falsas é uma acusação grave. É necessário ter provas", comenta Nimmo. Vários governos europeus, como os de França e Alemanha, criaram grupos de trabalho especiais para lidar com o problema.

Segundo Nimmo, qualquer pessoa bem familiarizada com a internet pode identificar fake news. "Não é preciso ser um mestre em tecnologia. Basta ter tempo para entender como as redes sociais funcionam – aí qualquer pode fazer isso", garantiu.

No entanto, especialistas são necessários para resolver os casos difíceis e incomuns, segundo Nimmo. Eles também são importantes para ensinar pessoas interessadas a identificar fake news. Quanto mais pessoas se envolverem, maior a taxa de detecção e menor o efeito causada pela notícia falsa.

Nimmo tem um conselho a oferecer: "A chave é a emoção. Se uma história apela aos seus sentimentos, se ela gera raiva ou rejeição, é melhor verificar".

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