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Os cem dias da documenta 11

Ingrid Arnold15 de setembro de 2002

A documenta 11 em Kassel chegou ao fim. Ao lado de grande atenção e muitos elogios, ela também colheu muitas críticas. Isto não afeta, contudo, a mostra de arte, pois ela foi e continua sendo a número um.

O sossego retorna a Kassel, após os cem dias da exposiçãoFoto: Stadt Kassel

No mais tardar nos últimos dos cem dias da documenta, uma coisa ficou clara: a sua posição de líder entre as mostras artísticas de renome mundial continua incontestável.

Já em março do ano passado, quatro simpósios – denominados de "plataformas" – buscaram estabelecer uma base teórica para a mostra. Em junho deste ano, foi inaugurada – como quinta plataforma – a grande exposição artística de Kassel que, pela primeira vez, foi realizada não apenas no Museu Fridericianum, mas também em três outros lugares. Durante cem dias, 118 artistas e grupos de artistas de todos os continentes expuseram cerca de 450 obras de arte. A seleção dos participantes teve como meta explícita ser transnacional, interdisciplinar e abranger todas as gerações – ambição cumprida numa grande variedade de disciplinas artísticas.

Fila diante da documenta 11Foto: DW

Além de despertar a atenção habitual, a mostra artística qüinqüenal ofereceu também desta vez algumas sensações – fora das salas de exposição. Por exemplo, as bicicletas alugadas no contexto da obra denominada Museu de Arte Contemporânea Africana, do artista Meschac Gaba, não puderam mais ser utilizadas pelo público, quando se constatou – dois meses depois da inauguração da documenta – que elas não dispunham de freios e não cumpriam assim as exigências das leis alemãs de trânsito. Outro motivo de polêmica foi a proibição de uso de todos os guias da exposição, que não tivessem sido publicados pela própria documenta.

Sem ambiente concentrado

Apesar disso, não se registraram escândalos, como os que marcaram inúmeras exposições anteriores. Mas tampouco houve grandes sensações artísticas. Os críticos de arte mostraram-se divididos nas suas avaliações da mostra, dominada por trabalhos de cinema e de vídeo. A população de Kassel e os visitantes do evento sentiram falta da atmosfera palpitante, que geralmente toma conta da cidade durante a documenta. Com a abertura de espaço adicional de exposição numa velha cervejaria fora do centro da cidade, dividiu-se também o fluxo dos visitantes. "Não houve mais aquele ambiente concentrado na Friedrichsplatz, diante do Fridericianum", confirmou Knut Seidel, gerente da Sociedade de Turismo de Kassel.

Neste contexto foi criticado também que a documenta 11, que tanto debateu as formas de representação e os critérios de exclusão no setor artístico, se tenha apresentado quase exclusivamente a uma sociedade fechada. Ao contrário das exposições anteriores, quase nenhuma obra foi exposta na área externa: a mensagem da mostra ficou praticamente reservada aos visitantes que pagaram ingresso. Também por essa razão, a documenta deste ano não deixará nenhuma marca duradoura, ao contrário de exposições anteriores, por exemplo, quando Joseph Beuys plantou 7.000 carvalhos na cidade ou quando Walter de Maria furou um buraco de mil metros de profundidade na Friedrichsplatz.

Com visão especial

Okwui EnwezorFoto: Documenta

Cada uma das onze documentas promovidas desde 1955 tentou estabelecer sua própria prioridade. O trabalho do curador Okwui Enwezor chamou a atenção, pois o americano de origem nigeriana quis finalmente refletir a globalização econômica também no mundo da arte. Por isto, o primeiro diretor artístico não-europeu da mostra impôs sobretudo critérios de conteúdo na seleção das obras a serem expostas – com prioridade para uma visão não-européia.

Com isto, a Europa oriental foi muito pouco representada – fato incompreensível para muitos críticos. Não se pode falar tampouco de uma renovação do cenário artístico: quase um quarto dos artistas presentes este ano está na faixa etária em torno dos 60 anos. Mas – o que não ocorreu, ainda pode acontecer. Afinal, a característica própria da documenta é ser diferente a cada vez.

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