Em meio a transformações musicais e na aparência, o "camaleão do rock" tinha uma marca registrada constante: os olhos de cores diferentes. Entenda o porquê do enigmático olhar do ídolo pop.
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Um olho castanho; o outro, verde acinzentado. Esse parecia ser o caso de David Bowie. Mas, na verdade, os olhos do ídolo pop, que morreu no último domingo (10/01), não tinham cores diferentes, e ele não havia nascido com heterocromia ocular. A razão para as cores de seus olhos era outra: uma briga, quando ele tinha 14 anos de idade.
O olho esquerdo de Bowie foi gravemente ferido na ocasião, e a pupila permaneceu dilatada desde então. Ou seja, as duas pupilas eram simplesmente desiguais. Isso fez com que o olho esquerdo parecesse ser castanho, e o direito, verde acinzentado – cor original de ambos.
Músculos controlam o tamanho da pupila: um músculo circular por trás da pupila e a contrai, e outro, em forma de leque, a dilata. "Quando esses dois músculos responsáveis pela contração e a dilatação são lesionados, a pupila pode permanecer aumentada", explica Markus Kohlhaas, do hospital St.-Johannes, em Dortmund.
Com frequência, o olho com a pupila grande parece, então, ser mais escuro que o outro. Não há tratamento para a lesão muscular. "Uma opção seria tentar contrair a pupila com um colírio. Mas quando os músculos estão gravemente lesionados, isso costuma não ajudar", diz o especialista. Quando o paciente se sente extremamente incomodado com a luz devido à pupila dilata, então, é possível diminuir a pupila cirurgicamente, costurando-a, explica Kohlhaas.
A trajetória do astro pop David Bowie
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Heterocromia
Cores de olhos diferentes também podem ser uma característica de nascença. Essa diferença entre as duas íris é chamada de heterocromia. No entanto, a anomalia genética ocorre raramente, afirma Kohlhaas.
Normalmente se trata de um distúrbio de coloração, que não costuma chamar a atenção. A heterocromia mais comum é a setorial, na qual uma parte da íris de um dos olhos tem coloração diferente, fazendo com que haja apenas uma diferença mínima entre as duas íris. Muitas vezes há apenas pequenos pontos de outra cor.
A solução mais simples para corrigir a diferença de coloração entre dois olhos são lentes de contato coloridas. Há uma espécie de "íris tatuada" sobre a lente, diz Kohlhass.
Também já foram feitas cirurgias de correção, em que "uma íris artificial foi colocada no interior do olho, em frente à íris original, para igualar as cores ou criar novas combinações de cores", explica o especialista. No entanto, as operações levaram a complicações, diz.
David Bowie também poderia ter igualado a coloração de seus olhos com lentes de contato. Mas, no final das contas, os olhos de cores diferentes se tornaram marca registrada do chamado "camaleão do rock", assim como suas transformações musicais e de aparência.
A carreira de David Bowie em imagens
Ídolo pop morreu neste domingo, 10 de janeiro, deixando para trás uma bem-sucedida carreira de mais de cinco décadas, com direito a uma série de alteregos e um belo último álbum.
Foto: picture alliance/dpa/V. Jannink
"Space Oddity"
David Robert Jones nasceu em 1947. Para evitar confusão com Davy Jones do The Monkees, ele escolheu o sobrenome Bowie, inspirado numa faca de caça. Seu primeiro hit, "Space Oddity", foi lançado em 1969, apenas cinco dias antes de Neil Armstrong se tornar o primeiro homem a pisar na Lua. A canção apresenta o fictício Major Tom, um personagem que voltaria a aparecer ao longo da carreira de Bowie.
Foto: Victoria and Albert Museum
Ziggy Stardust
Uma série de personagens se seguiria a Major Tom. O mais famoso e icônico deles, Ziggy Stardust, apareceu pela primeira vez em 1972. Ziggy era um alienígena andrógino e astro do rock, que servia de mensageiro para seres extraterrestres. Bowie dizia que tentava fazer "uma revolução de um homem só" com seu alterego. Muitas pessoas diriam que ele conseguiu.
Foto: picture-alliance/dpa/London Features
The Thin White Duke
Com o álbum "Station to Station", um novo personagem foi criada por Bowie em 1976, o chamado Thin White Duke. O cabelo vermelho, a maquiagem e os figurinos extravagantes foram substituídos por ternos elegantes. Mas apesar da aparência "normal", a personalidade de Bowie estava afetada pelas enormes quantidades de cocaína que o músico consumia na época.
Foto: Getty Images/Evening Standard
"O homem que caiu na Terra"
A ficção científica de 1976 sobre um alienígena que cai na Terra foi o primeiro filme estrelado por David Bowie. Graças à atuação do astro pop e à cenografia surrealista, o longa-metragem é cultuado até hoje. Bowie contou que se sentia tão alienado quanto o personagem que estava interpretando, devido ao uso de cocaína na época.
Foto: imago/United Archives
A Era Berlim
Para fugir de uma vida cercada de drogas em Los Angeles, David Bowie se mudou para Berlim Ocidental no fim de 1976. Morando em Schöneberg, bairro com uma grande comunidade turca, Bowie sentia que Berlim "era uma das poucas cidades em que eu podia circular anônimo. Eu estava quebrado, o custo de vida era barato. Por alguma razão, os berlinenses não estavam nem aí", disse ele à revista "Uncut".
Foto: Masayoshi Sukita/The David Bowie Archive
Ao lado de Iggy Pop
De 1976 a 1979, Bowie criou a "Trilogia de Berlim", três álbuns que incluem o influente disco "Low" (1977), coproduzido por Brian Eno e Tony Visconti. Esse álbum migrou das composições tradicionais de Bowie para um som experimental e vanguardista. Ao dividir um apartamento com Iggy Pop, Bowie colaborou nos discos "The Idiot" e "Lust for Life".
Foto: Getty Images/Evening Standard
Christiane F.
O filme alemão "Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída", de 1981, conta a história de uma adolescente viciada em drogas na decadente área da estação Zoo, em Berlim Ocidental. David Bowie aparece no filme, quando Christiane F. sai de casa escondida para ir a um show dele. A trilha sonora de Bowie impulsionou o sucesso internacional do filme.
Foto: picture-alliance/dpa/IFTN
"Labirinto – a magia do tempo"
Bowie também é lembrado por muitas crianças da década de 1980 pela fábula "Labirinto – a magia do tempo" (1986), filme no qual ele interpreta Jareth, o Rei dos Duendes. A maioria dos personagens do filme, dirigido por Jim Henson – criador dos Muppets – e produzido por George Lucas, são bonecos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Let's Dance"
Para confundir os fãs de Ziggy Stardust, nos anos 80 Bowie apareceu com mais uma mudança radical de estilo, pegando carona na New Wave. Ele se uniu ao Queen para o famoso single "Under Pressure" em 1981, e seu maior hit comercial da década foi "Let's Dance", de 1983.
Foto: AP
"Where Are We Now?"
Bowie reinventou a si mesmo ao longo de toda sua carreira. Em 1995, por exemplo, ele se reuniu novamente com Brian Eno para o álbum conceitual "Outside", que voltou a focar em sua genialidade musical. Em 2013, em comemoração ao 66º aniversário, Bowie lançou o single "Where are we now?", no qual relembra seus anos de Berlim.
Foto: www.davidbowie.com
"Blackstar"
David Bowie celebrou seu aniversário de 69 anos no dia 8 de janeiro de 2016, com o lançamento de mais um álbum aclamado pela crítica: "Blackstar". Com a sua morte, dois dias mais tarde, o mundo ficou sabendo que Bowie passou os últimos 18 meses de sua vida lutando contra o câncer. "Blackstar" testemunha, uma última vez, a genialidade musical e a eterna reinvenção do astro pop.