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Os (des)caminhos de Brecht por Hollywood

Toma Tasovac (sv)17 de agosto de 2006

Brecht abominava Los Angeles, "que encolhe os cérebros de escritores, deixando-os incapazes de qualquer coisa exceto escrever para o cinema". Quando ele próprio resolveu se tornar roteirista, acabou fracassando.

Dramaturgo alemão: sem lugar entre as luzes de HollywoodFoto: Tim Wilson

"Vi Brecht. Ele estava tão sujo e com a barba por fazer como sempre, mas, de alguma forma, mais simpático e menos patético", escreveu de Hollywood o compositor Kurt Weill a sua mulher Lotte Lenya, no dia 1° de outubro de 1942.

O poeta e dramaturgo Bertolt Brecht – autor da Ópera dos Três Vinténs (1928) e de Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny (1930) – chegou à Califórnia em 1941, pertencendo ao que se costuma chamar de "migração espetacular da arte, cultura e intelectuais alemães durante o nazismo".

Ligação tênue com a realidade norte-americana

Hollywood: mercado de mentiras, nas palavras de BrechtFoto: AP

Durante seus seis anos de exílio na Califórnia, o stalinista fumante de charutos, com suas calças largas e fora de moda, que falava inglês com um sotaque alemão fortíssimo, passou a maior parte do seu tempo tentando desesperadamente se tornar um roteirista de Hollywood. Entre 1941 e 1947, ele trabalhou em mais de 50 roteiros ou esboços de roteiros.

A razão pela qual muitos deles acabaram não sendo desenvolvidos pode certamente estar na compreensão míope de Hollywood a respeito do que realmente faz um bom filme. Para outros, contudo, idéias como as de Brecht de transformar o Manifesto Comunista em um filme épico esbarravam acima de tudo na ligação consideravelmente tênue do dramaturgo alemão com a realidade norte-americana.

De que são feitos os sonhos capitalistas

Hollywood, na época de Brecht, era exatamente o que é hoje: um grande negócio. A simples realidade de que é o dinheiro – e não os sonhos – que faz o mundo girar era tão pertinente na época de Rita Hayworth, quanto é hoje na era de Julia Roberts.

O público sempre preferiu aventuras com armas e romances a experimentos estéticos sobre a alienação ou a ira anticapitalista. E é exatamente por isso que Hollywood se tornou uma das maiores invenções do sistema capitalista: um anestésico ideológico amargo, disfarçado de sorvete adocicado.

Os imigrantes alemães nos EUA participaram como atores, produtores, roteiristas ou diretores em aproximadamente 30% dos 180 filmes antinazistas feitos no país entre 1939 e 1946. Mas apenas um roteiro escrito por Brecht acabou realmente nas telas de Hollywood.

"Mercado de mentiras"

Fritz Lang: trabalho com Brecht nos EUA, em 1943Foto: dpa

Brecht trabalhou ao lado de um roteirista hollywoodiano mais experiente, John Wexley, no roteiro de Os Carrascos Também Morrem, de 1943, dirigido por Fritz Lang. O filme gira em torno do assassinato do governador nazista da Boêmia e da Morávia, Reinhard Heydrich, ocorrido em 1942, e das represálias subseqüentes praticadas pelos nazistas.

Brecht – que escreveu páginas e páginas sobre sua frustração com o filme – acabou, no fim, nem recebendo os créditos pelo roteiro, mas somente pela idéia na qual o longa-metragem se baseou. Seus esforços em envolver a Associação dos Roteiristas para decidir a questão entre ele e o co-roteirista norte-americano acabaram causando embaraços, uma vez que Brecht nunca conseguiu trazer à tona evidências de ter escrito realmente qualquer parte do roteiro. "Todo dia, para ganhar meu pão, vou para o mercado onde se vendem mentiras", escreveu Brecht em 1941.

Gênio incompreendido?

Ainda hoje existe uma linha tênue que separa o gênio incompreendido da criança petulante. Muitas pessoas que encontraram Brecht durante seus anos difíceis no exílio norte-americano ficavam tudo menos impressionadas com o dramaturgo.

O poeta W.H. Auden, que colaborou com Brecht na adaptação de A Duquesa de Malfi, de John Webster, para a Broadway, acreditava que Brecht era uma "pessoa odiável", enquanto o crítico teatral Eric Bentleyo descrevia o dramaturgo como um pilantra "sem qualquer decência elementar".

Ferino e autoritário

Theodor W. Adorno: acusado de 'elitista cultural' por BrechtFoto: AP

Em função de sua personalidade ferina e autoritária, Brecht não fez muitos amigos do outro lado do Atlântico. Se alguma coisa o ajudou a sobreviver nesses anos difíceis, deve ter sido sua crença inabalável em sua própria grandeza. A relação de Brecht com os alemães emigrados não era menos tempestuosa.

O filósofo e pensador Theodor W. Adorno, um dos principais nomes da Escola de Frankfurt, escreveu certa vez que "Brecht gastava duas horas por dia sujando suas próprias unhas, tentando fazer com que adquirisse uma aparência proletária". Brecht, por sua vez, referia-se aos membros da Escola de Frankfurt como "mandarins, elitistas culturais e intelectuais prostituídos", cuja "tarefa mais revolucionária era a de preservar o dinheiro da instituição".

Arte como propaganda

Inegável era a crença de Brecht na arte como propaganda – não como um espelho da realidade, mas como "um martelo que a forma". Esta é a razão real por que não foi mesmo possível a ele, um defensor do estranhamento antiilusionista no teatro, ser aceito em uma cidade construída a partir da idéia de transformar quimeras em dinheiro.

Para Brecht, Hollywood era meramente um epítome da máquina hipnótica capitalista e seu período americano, um tempo de solidão e isolamento cultural. Para Hollywood, por outro lado, Brecht era simplesmente um comunista maltrapilho, de temperamento difícil e mal-educado, que perdeu seu caminho na cidade dos anjos. A passagem dele por Los Angeles foi uma jogada errônea de proporções quase míticas.
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