Sem polêmicas, cerimônia consagrou o filme de ficção científica "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo", com sete estatuetas, as atuações de Michelle Yeoh e Brendan Fraser e o longa alemão "Nada de Novo no Front".
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Sem uma grande polêmica como a do ano passado, quando Will Smith deu um tapa na cara do então apresentador Chris Rock, a cerimônia do Oscar 2023 na noite deste domingo (13/10), no Dolby Theatre, em Hollywood, se voltou para aquilo que deveria – o cinema – e consagrou o filme de fantasia Tudo em todo lugar ao mesmo tempo com sete estatuetas, as atuações de Michelle Yeoh e Brendan Fraser e o longa alemão Nada de novo no front.
O longa Tudo em todo lugar ao mesmo tempo havia recebido onze indicações e, além do principal prêmio da noite – o de melhor filme – também levou as estatuetas de melhor direção, melhor roteiro original e melhor montagem.
Além disso, três dos quatro prêmios de atuação também foram para essa aventura de ficção científica.
"Graças à Academia [de Artes e Ciências Cinematográficas, que entrega o prêmio anual], a história está sendo escrita aqui", disse Michelle Yeoh, vencedora na categoria de melhor atriz. Ela derrotou Cate Blanchett, duas vezes vencedora do Oscar, indicada pelo drama Tár.
Yeoh, nascida na Malásia, é a primeira mulher asiática a ganhar o Oscar nesta categoria e a segunda mulher não branca a levar o prêmio nos 95 anos da premiação. "Senhoras, não deixem que ninguém lhes diga que seus melhores momentos ficaram para trás", disse a atriz de 60 anos.
Ela recebeu a estatueta das mãos de Halle Berry, justamente a única outra mulher não branca a ganhar na categoria, em 2002.
Em Tudo em todo lugar ao mesmo tempo ela interpreta a dona de uma lavanderia que, de repente, se encontra em inúmeros universos paralelos – e lá também conhece Jamie Lee Curtis, que recebeu o prêmio de melhor atriz coadjuvante. Ke Huy Quan ganhou o prêmio de melhor ator coadjuvante por sua atuação no mesmo filme.
Fraser: volta por cima
O prêmio de melhor ator conclui uma pitoresca história de retorno que talvez só Hollywood possa escrever. Brendan Fraser, estrela em ascensão nos anos 1990 e começo dos anos 2000, ganhou o Oscar por sua interpretação de um homossexual obeso no drama A Baleia.
Fraser ficou anos afastado do cinema após depressão e inúmeras cirurgias como resultado de ferimentos sofridos durante filmagens de filmes de ação. Em 2018, ele relatou em entrevista à revista GQ que, em 2003, havia sido abusado sexualmente pelo então presidente da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, que concede o Globo de Ouro.
"Comecei neste negócio há 30 anos, e as coisas não têm sido fáceis para mim", disse Fraser no Oscar. Ele agradeceu ao seu diretor Darren Aronofsky por "me dar uma tábua de salvação criativa". O filme venceu ainda como melhor maquiagem e penteados.
Produção alemã leva quatro estatuetas
A produção alemã da Netflix Nada de novo no front, com nove indicações, levou quatro estatuetas.
"Oh Deus, isso significa muito para nós", disse o diretor Edward Berger em seu discurso após receber o prêmio de melhor filme internacional.
O drama antiguerra baseado no romance de Erich Maria Remarque também recebeu os prêmios de melhor fotografia e melhor design de produção. O compositor de filmes Volker Bertelmann – conhecido como Hauschka – recebeu a estatueta de melhor trilha sonora.
É a quarta vez que um filme alemão conquista o Oscar de filme internacional – os anteriores haviam sido A vida dos outros (2007), Lugar Nenhum na África (2003) e O Tambor (1980).
Os sucessos de bilheteria não ficaram sem prêmios: Top Gun: Maverick ganhou como melhor som, Avatar: O caminho da água, na categoria efeitos especiais e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, como melhor figurino.
Navalny, sobre o oposicionista russo preso, foi escolhido o melhor documentário e Pinóquio por Guillermo del Toro, a melhor animação.
A decepção da noite foi The Banshees of Inisherin: indicado a nove estatuetas, o filme saiu de mãos vazias da cerimônia.
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Lady Gaga surpreende mais uma vez
Lady Gaga não ganhou o Oscar de melhor canção, mas, mesmo assim, foi um dos destaques da noite. A cantora e atriz desfilou pelo tapete champagne (não mais vemelho, quebrando uma tradição de mais de 50 anos) com um vestido Versace e uma maquiagem forte. Mas, ao subir ao palco para interpretar a música Hold My Hand, trilha sonora do filme Top Gun: Maverick, estava de tênis, camiseta preta, calça jeans rasgada e sem maquiagem.
A cerimônia foi apresentada pelo locutor Jimmy Kimmel, que abordou em seu discurso de abertura o escândalo do ano anterior envolvendo Will Smith e Chris Rock.
"Se alguém nesse teatro cometer algum ato de violência em algum momento desta cerimônia, você vai ganhar o Oscar de melhor ator e a permissão de fazer um discurso de 19 minutos", disse Kimmel em tom de brincadeira.
Smith foi premiado com o Oscar no ano passado logo após seu ataque e só foi banido da Academia do Oscar por dez anos dias depois.
Os principais momentos da entrega do Oscar 2023
A 95ª premiação do Oscar consagrou dois favoritos claros – mas houve uma supreendente derrota.
Foto: Danny Moloshok/Invision/AP/dpa/picture alliance
Sete Oscars para "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo"
Com 11 nomeações, a comédia entre fantasia e ficção científica levou sete: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, melhor Montagem e três por melhor ator. Daniel Kwan e Daniel Scheinert detonaram as convenções de gênero ao contar as aventuras de uma dona de lavanderia que, além dos problemas com impostos, o marido e a filha, precisa combater o mal em múltiplos universos paralelos.
Foto: Allyson Riggs/A24/AP/picture alliance
Michelle Yeoh, melhor atriz por "Tudo em todo lugar ao mesmo tempo"
Ela é a primeira mulher asiática a levar o prêmio. "Para todos os meninos e meninas que se parecem comigo, este é um farol de esperança e possibilidades", disse Yeoh em um discurso emocionado. "É a prova de que os sonhos se tornam realidade." No filme, sua personagem é uma imigrante chinesa dona de uma lavanderia que luta contra um supervilão, que por acaso é a própria filha.
Foto: Carlos Barria/REUTERS
Brendan Fraser, Melhor Ator
Brendan Fraser, estrela de cinema da década de 1990, voltou às telas para "A Baleia", do diretor Darren Aronofsky – e imediatamente conquistou o Oscar de melhor ator. No drama, ele interpreta um homem obeso em busca de aceitação. Fraser vestiu próteses especiais e usou muita maquiagem para parecer gordo – o que também rendeu ao filme um Oscar de Melhor Maquiagem.
Foto: Everett Collection/IMAGO
Quatro Oscars para "Nada de novo no front"
Indicada para nove Oscars, a nova versão cinematográfica do romance antibelicista de Erich Maria Remarque acabou levando as estatuetas de Melhor Filme Internacional, Melhor Cinematografia, Melhor Desenho de Produção e Melhor Partitura Cinematográfica. Dirigida por Edward Berger e produzida pela Netflix, ela expõe os horrores da Primeira Guerra Mundial da perspectiva de um jovem soldado.
Foto: Netflix/Zumapress/picture alliance
"Navalny", Melhor Documentário
"Gostaria de dedicar este prêmio a Alexei Navalny e a todos os presos políticos do mundo", disse o diretor do filme, Daniel Roher (na foto, à dir.), ao receber a estatueta. "Alexei, o mundo não esqueceu sua importante mensagem: não devemos ter medo de resistir a ditadores e ao autoritarismo." Esposa e filhos do político da oposição russa preso há mais de dois anos participaram da entrega do Oscar.
Foto: Kevin Winter/Getty Images
"Entre mulheres", Melhor Roteiro Adaptado
A canadense Sarah Polley explora as consequências do abuso sexual num contexto repressivo e patriarcal: durante anos, mulheres de uma comunidade religiosa vêm sendo drogadas e violentadas à noite. Ao descobrir o fato, elas se reúnem num celeiro para discutir quais serão as consequências.
Foto: United Artists/Entertainment Pictures/ZUMAPRESS/picture alliance
"Pinóquio por Guillermo del Toro", Melhor Animação
Além dos prêmios para "Nada de Novo no front", a plataforma de streaming Netflix exibe também o melhor filme de animação. Em "Pinóquio por Guillermo del Toro", o realizador mexicano e agora três vezes ganhador do Oscar Guillermo del Toro transfere o conto da marionete de madeira que ganha vida para a Itália fascista na década de 1930.
Foto: Netflix/ZUMA Press/IMAGO
Lady Gaga
Entre os destaques musicais, Lada Gaga se apresentou sem maquiagem e vestindo jeans e uma camiseta. O visual de sua performance em "Hold My Hand", indicada para melhor canção original, foi um forte contraste com sua aparição anterior no tapete do Oscar, em um vestido Versace preto com corpete transparente.
Foto: Kevin Winter/Getty Images
O tapete "vermelho" de cor champanhe
Quebrando uma tradição, desta vez o tapete foi cor champanhe, e não vermelho, numa indicação do desejo de mudanças na cerimônia. O apresentador, Jimmy Kimmel, fez uma piada, referindo-se ao tapa que Will Smith deu em Chris Rock no Oscar de 2022. "As pessoas perguntam: 'Haverá problemas este ano?' Mas, a cor champanhe é uma indicação de que estamos confiantes de que nenhum sangue será derramado."
Foto: Barbara Munker/dpa/picture alliance
Perdedor da noite: "Os Banshees de Inisherin"
Além dos destaques glamorosos, também há decepções no Oscar. Vencedor de três Globos de Ouro e quatro Baftas, aclamado pela crítica e indicado a nove Oscars, a tragicomédia "Os Banshees de Inisherin" acabou de mãos vazias na noite do Oscar 2023 – muitos críticos consideravam Colin Farrell (à esquerda) o favorito ao prêmio de Melhor Ator.
Foto: 20th Century Studios
Momentos curiosos
O anúncio do ganhador pelos Melhores Efeitos Visuais, teve Elizabeth Banks e um ator fantasiado de urso, lembrando o filme "O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear)", em que o animal é viciado em cocaína. Já o apresentador Jimmy Kimmel provocou risos ao entrar no palco com um burro. O animal teve um papel importante no filme "Os Banshees de Inisherin".