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Os efeitos perversos do turismo de massa

21 de agosto de 2018

A cada ano, cerca de 1,3 bilhão de pessoas viajam para o exterior, e número deve dobrar até 2030. Em muitos destinos, moradores e meio ambiente sofrem as consequências – da chamada turistificação ao aquecimento global.

Turistas em Maiorca
Turistas em Maiorca, um dos destinos mais procurados por alemãesFoto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene

Viagens internacionais são cada vez mais populares, fazendo com que milhares de turistas se amontoem em Bangkok, nas prais do Mediterrâneo ou em cruzeiros mundo afora.

Segundo o Automóvel Clube Alemão (ADAC), um terço dos alemães faz duas viagens com duração de pelo menos cinco dias cada por ano. Um em cada seis consegue fazer ainda mais turismo. Os alemães viajam cada vez mais e cada vez para mais longe. E eles não são os únicos.

O avanço do setor turístico é resultado de cada vez mais voos disponíveis, a preços cada vez mais baixos, assim como do fato de cada vez mais pessoas poderem bancar uma viagem de férias. Enquanto, 531 milhões de pessoas viajaram para outros países em 1995, no ano passado foram 1,3 bilhão.

Graças a companhias aéreas de baixo custo e ao Airbnb e companhia, hoje em dia quase tudo é possível – de uma viagem de mochileiro pela América Latina, a mergulho nas Filipinas ou uma estadia num hotel all-inclusive na Turquia.

O fato de, através do Instagram, amigos poderem acompanhar praticamente ao vivo experiências em destinos turísticos desempenha um papel importante, aponta Tim Freytag, professor de Geografia Humana na Universidade de Freiburg.

"Viajar se tornou um componente importante da maneira como nos apresentamos para o mundo", diz. Muitos turistas parecem escolher seus destinos pensando no Instagram, e postar fotos e vídeos é a principal atividade da viagem.

Turistificação

Nos destinos mais populares, turistas tirando selfies já incomodam os moradores há muito tempo – por exemplo, em Veneza, onde mil passageiros desembarcam de cruzeiros a cada hora.

Os moradores de Maiorca também estão cansados de praias entupidas, falta de água e turistas bêbados. Em 2017, habitantes da ilha espanhola organizaram a maior manifestação contra o turismo de massa já realizada.

Castelo de Neuschwanstein: autêntico ou artificial?Foto: picture-alliance/C. Wallberg

Sobretudo o número de viagens para cidades aumentou nos últimos anos. "Como consequência, faltam moradias em alguns bairros, e o aluguel fica mais caro", explica Freytag.

Além disso, o comércio se adapta aos desejos dos turistas. "A assim chamada turistificação traz efeitos parecidos com os da gentrificação. Residentes mais pobres são deslocados, e os bairros se tornam mais homogêneos", aponta.

Freytag também reconhece que uma cultura local pode ser afetada pelo turismo de massa. "Certamente se perde um pouco de autenticidade, mas isso também depende do observador. Enquanto um alemão considera o castelo Neuschwanstein, com o seu grande volume de visitantes, uma atração artificialmente encenada, muitos turistas veem o lugar como algo tipicamente alemão ou bávaro e, por isso, o consideram autêntico."

O sonho do turismo sustentável

Ao falar de turismo de massa não se pode deixar de mencionar as consequências para o meio ambiente. Segundo Jürgen Schmude, pesquisador de turismo na Universidade Ludwig Maximilian de Munique, o setor é responsável por cerca de 5% das emissões globais e, assim, contribui para o aquecimento global.

"Especialmente viagens de avião, que se tornam cada vez mais comuns, impulsionam um aumento das emissões de CO2. E passageiros raramente usam pagamentos compensatórios oferecidos por muitas companhias aéreas", aponta.

Ao chegar a seu destino, turistas também causam danos ecológicos, por exemplo, produzindo mais lixo, consumindo grandes quantidades de água, esquiando ou mergulhando descuidadamente. O turismo de cruzeiros também está longe de ser sustentável, afirma Schmude.

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03:40

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Continua em aberto a questão do que pode ser feito contra o turismo de massa. Schmude considera que políticos e operadores turísticos precisam ter em mente os limites de um lugar. "É possível tentar promover a baixa temporada ou limitar o número de acomodações", exemplifica.

Mas se hoje as medidas possíveis de serem adotas já parecem limitadas, como será no futuro? A previsão é que até 2030 o número atual de turistas internacionais dobre.

"Isso poderia se tornar um grande problema, para o qual até agora ninguém tem uma resposta. É verdade que haverá novos destinos turísticos, mas esses não darão conta do aumento no número de viajantes", diz Schmude.

Apesar das projeções preocupantes, Freytag não quer ver só os lados negativos do turismo. Para ele, o setor continua sendo importante para o desenvolvimento de algumas regiões e para o intercâmbio cultural.

Além disso, cada turista também tem a escolha de, de acordo com suas próprias possibilidades, viajar de modo mais sustentável. Um alemão, por exemplo, poderia optar por fazer trilhas na região do Harz, no norte do país, em vez de pegar um voo barato para Maiorca.

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