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Esporte

Os futuros elefantes brancos da Rússia

Ilya Koval jps
24 de maio de 2018

Doze estádios foram construídos ou reformados para a Copa do Mundo de 2018. Mas a maioria já exibe sinais de que, assim como aconteceu no Brasil, não será mais utilizada e terá elevado custo de manutenção.

Mordovia Arena, em Saransk
Em Saransk foi construído um estádio para a Copa. A cidade tem um clube na terceira divisão russaFoto: picture-alliance/dpa/A. Kudenko

A Copa de 2018 na Rússia vai contar com 12 estádios, alguns deles reformados e outros construídos especialmente para o torneio. Uma coisa já está clara: muitas dessas novas arenas arriscam virar elefantes brancos após o fim do torneio.

Ao todo, a conta da Copa na Rússia já alcança 10,8 bilhões de dólares (39 bilhões de reais), mas esse valor pode crescer ainda mais nos próximos anos por causa dos custos de manutenção e diante da perspectiva de que muitas arenas jamais serão rentáveis.

Já no ano passado, o governador da região de Kalinigrado, um enclave russo entre a Polônia e a Lituânia, pediu ajuda financeira a Moscou para garantir a manutenção da arena construída na capital regional durante um encontro com o presidente Vladimir Putin. O argumento eram as dificuldades dessa região em manter um estádio com 35 mil lugares.

Pouco depois, Putin analisou se algum tipo de ajuda federal poderia ser canalizada para a manutenção dos estádios de pelo menos sete cidades. Foram consideradas elegíveis para ajuda as arenas de Volgogrado, Ecaterimburgo, Kaliningrado, Nínji Novgorod, Rostov do Don, Samara e Saransk.

Originalmente, as autoridades em Moscou planejavam que as regiões onde ficam os estádios poderiam começar a bancar a manutenção deles a partir de 2019. Segundo as autoridades regionais, cada estádio deve consumir recursos estimados entre 200 milhões e 500 milhões de rublos (entre 11,8 milhões e 29,6 milhões de reais) por ano. Isso é simplesmente muito dinheiro para pelo menos sete das 11 sedes.

Faltam times

E tal como ocorreu no Brasil, muitas dessas cidades nem sequer contam com um time nas principais divisões do campeonato russo. As melhores equipes de Volgogrado, Kaliningrado, Nínji Novgorod e Samara disputam a segunda divisão, e suas partidas conseguem atrair entre mil e 5.000 torcedores. Já o time de Saransk, que tem um estádio novo, está na terceira divisão. E em Sóchi, que sediou os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 e vai receber alguns jogos da Copa, nem sequer há equipe profissional.

Mesmo times da primeira divisão de cidades como Ecaterimburgo e Rostov não atraem mais do que 10 mil torcedores por partida – números insuficientes para cobrir os enormes custos de manutenção dos estádios.

O estádio de Kalinigrado, que tem capacidade para 35 mil pessoasFoto: picture-alliance/TASS/V. Nevar

A Copa do Mundo pode provocar várias dificuldades financeiras para as cidades-sede nos próximos anos, alertou uma empresa de consultoria, e as autoridades regionais vêm soando regularmente o alarme. Em fevereiro, durante uma reunião do Conselho da Federação, dedicada à organização do torneio, as regiões voltaram a pedir ajuda federal. Foi até mesmo sugerido que Moscou assumisse completamente a administração das arenas e arcasse com todos os custos de manutenção.

O representante da República da Mordóvia – onde fica Saransk – propôs a criação de uma empresa nacional para a administração dos estádios. Já Nínji Novgorod quer que os custos de manutenção do estádio construído na cidade sejam cobertos pelo orçamento federal pelos próximos três anos após o fim da Copa.

Pós-Copa

No fim do ano passado, Putin ordenou que fossem feitas mudanças no projeto elaborado em 2015 sobre o uso das arenas após a Copa do Mundo. Pela nova versão, que ainda necessita da aprovação do presidente, a manutenção dos estádios e de outras instalações da Copa vai demandar mais de 13 bilhões de rublos (769 milhões de reais) até 2023. A maior parte dessa conta, 12,4 bilhões, deve ser assumida pelo Estado. As regiões devem contribuir com pelo menos 900 milhões de rublos.

Mas não há um plano sobre como utilizar as construções e evitar a ociosidade. Especialistas da firma de auditoria PricewaterhouseCoopers apontam que Londres, por exemplo, já planejava o que fazer com as instalações dos Jogos Olímpicos de 2012 quando ainda estava na fase de candidatura.

As mesmas dificuldades com custos de manutenção e de subutilização ocorreram em outros países que sediaram a Copa do Mundo nos últimos anos, como a África do Sul e o Brasil. Ambos até conseguiram minimizar parcialmente custos e ociosidade com o uso  de arquibancadas temporárias, que foram desmontadas após os torneios. Esse tipo de engenharia está sendo utilizado no estádio de Ecaterimburgo, que vai ter sua capacidade reduzida de 35 mil para 23 mil lugares após o fim da Copa.

Elefantes brancos 

Ainda assim, tanto a África do Sul quanto o Brasil acabaram se vendo repletos de elefantes brancos, arenas modernas que devoram recursos para sua manutenção e não conseguem ser lucrativas. Muitas também não são utilizadas regularmente por nenhum time de destaque.

O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, um dos mais notórios elefantes brancos da Copa de 2014Foto: Reuters

O Estádio Mané Garrincha, em Brasília, custou 1,4 bilhão de reais. A construção é alvo de várias investigações por suspeitas de corrupção, que já resultaram na prisão de dois ex-governadores do Distrito Federal. Em fevereiro, o estádio, que tem capacidade para 72 mil espectadores, recebeu apenas 568 pagantes durante uma partida entre Brasiliense e Paranoá.

O Mané Garrincha consome pelo menos 700 mil reais em custos de manutenção por mês. Em 2017, todo o dinheiro arrecadado com jogos, shows e outros eventos não foi suficiente para cobrir nem um mês de manutenção. Em 2016, o prejuízo foi de pelo menos 7 milhões de reais.

A mesma situação se repete em outros estádios, como a Arena Amazônia, em Manaus, e a Arena das Dunas, em Natal.

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