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Criminalidade

Os heróis do massacre na Nova Zelândia

17 de março de 2019

Autoridades e testemunhas destacam coragem de policiais que perseguiram autor de ataque e de frequentador de mesquita que, munido apenas de uma máquina de cartão de crédito, enfrentou o atirador e evitou mais mortes.

Memorial improvisado em memória das vítimas de massacre na Nova Zelândia
Memorial improvisado em memória das vítimas do massacre que chocou a Nova ZelândiaFoto: picture-alliance/dpa/Kyodo

Após o pior ataque a tiros da história da Nova Zelândia, que deixou 50 mortos na cidade de Christchurch, chocar o país e o mundo na última sexta-feira (15/03), histórias de heroísmo vieram à tona, incluindo a de um fiel que, munido apenas de uma máquina de cartão de crédito, perseguiu o atirador.

O australiano Brenton Tarrant, de 28 anos, foi acusado formalmente de homicídio após o massacre. Ele matou ao menos 41 pessoas na mesquita de Al Noor e em seus arredores, no centro de Christchurch, antes de dirigir cerca de cinco quilômetros até a mesquita de Linwood.

Foi ali que Abdul Aziz, de 48 anos, ajudou a evitar mais vítimas do que as ao menos sete deixadas pelo atirador, segundo a polícia e testemunhas.

Nascido no Afeganistão, Aziz afirmou que atacou Tarrant do lado de fora da mesquita após alguém gritar que um homem havia aberto fogo no templo.

"Ele vestia roupas militares. Eu não tinha certeza se ele era o mocinho ou o bandido. Quando ele me xingou, tive certeza de que não era o mocinho", contou.

Ao se dar conta que a mesquita estava sendo alvo de um ataque, Aziz correu em direção ao atirador, fazendo de uma máquina de cartão de crédito uma arma improvisada. Sua intenção era distrair o atirador.

Tarrant correu para seu carro para buscar outra arma. Aziz jogou a máquina de cartão na direção do agressor, se abaixando entre os carros quando o australiano abriu fogo.

A seguir, o afegão pegou uma arma largada por Tarrant e puxou o gatilho, mas ela estava descarregada. O atirador voltou para a mesquita, e Aziz o seguiu, confrontando-o.

"Quando ele me viu com uma arma na mão, largou a arma dele e saiu correndo para o carro. Eu o persegui", disse. "Ele entrou no carro e eu peguei a arma e a joguei contra a janela dele, como uma flecha." Assustado com o vidro do carro quebrado, o atirador teria dado a partida.

Aziz afirmou que quatro de seus filhos estavam com ele na mesquita no momento do ataque. O imã da mesquita de Linwood, Latef Alabi, afirmou que o número de mortos teria sido muito maior se não fosse por Aziz. Cerca de cem fiéis muçulmanos conseguiram se salvar.

Abdul Aziz disse que não sentiu medo ao enfrentar o atiradorFoto: picture-alliance/AP Photo/V. Thian

"Quando voltei para dentro da mesquita, todo mundo estava muito assustado e tentando se esconder", disse Aziz. "Eu falei: 'Vocês estão a salvo agora. Levantem-se, ele foi embora.' E então todo mundo começou a chorar."

Aziz é natural de Cabul, a capital do Afeganistão, e deixou o país quando criança. Ele viveu na Austrália por 25 anos antes de se mudar para Christchurch, há dois anos e meio, onde tem uma loja de móveis.

Ele disse que não sentiu medo quando enfrentou o atirador. Foi que como se estivesse no piloto automático. E ele acredita que Alá não tenha achado que aquele era o momento de ele morrer.

Além do afegão, outros heróis foram revelados à medida que investigadores buscavam informações sobre o ataque. Um deles é Naeem Rashid, de 50 anos, que foi visto atacando Tarrant no vídeo que o atirador fez na mesquita Al Noor e transmitiu ao vivo pelo Facebook. Rashid, natural do Paquistão e que vivia na Nova Zelândia há nove anos, e o filho de 21 anos morreram no ataque.

Safi Rizwan, sobrinho de Rashid, afirmou que, com sua atitude, o tio transmitiu uma mensagem. "Se você vir algo acontecendo que não é bom para outras pessoas, ou que esteja ferindo outras pessoas, você deve fazer de tudo para salvá-las, mesmo que isso significa entregar a sua própria vida."

Dois policiais que estavam nos arredores da mesquita de Linwood, um deles munido apenas de uma pistola, também estão entre os que enfrentaram o atirador com coragem.

Eles perseguiram o atirador, bloquearam seu carro e conseguiram capturá-lo, 36 minutos após as autoridades receberem o primeiro alerta sobre o ataque. Uma testemunha filmou o momento da detenção e postou as imagens nas redes sociais.

"Eles [os policiais] puseram a Nova Zelândia em primeiro lugar", afirmou a primeira-ministra neozelandesa, Jacinda Ardern, que classificou o atentado de um ato de terrorismo.

Ela disse que se não fosse pelos dois policiais, Tarrant teria feito mais vítimas ainda. "Ele estava de carro, tinha outras duas armas no veículo e era sua intenção prosseguir com o ataque", afirmou. Segundo a polícia, Tarrant também transportava duas bombas caseiras.

O comissário da polícia Mike Bush também elogiou os policiais que contiveram o massacre. "Estou extremamente orgulhoso do que eles fizeram. Eles atuaram com coragem absoluta", disse. "Ele evitaram mais mortes e arriscaram as próprias vidas para fazê-lo."

O número de mortos no atentado subiu de 49 para 50 neste domingo, após a polícia encontrar mais uma vítima ao remover corpos da cena do crime. Segundo a polícia, 36 pessoas feridas no ataque seguem hospitalizadas, e duas delas estão em estado grave.

LPF/rtr/afp/ap

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