Exposição em Berlim investiga a presença dos macacos na cultura pop. "Ape Culture" apresenta trabalhos artísticos e documentos científicos que observam as relações entre seres humanos e outros primatas.
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O que aproxima e distancia o ser humano dos outros primatas? Como o homem vê e representa seus parentes mais próximos do mundo animal? Partindo dessas questões, a exposição Ape Culture (Cultura do macaco, em tradução livre), em cartaz em Berlim, reúne obras cientificas e artísticas, além de performances e palestras.
Segundo os curadores Hila Peleg e Anselm Franke, desde a antiguidade os macacos são usados para refletir o comportamento humano em representações literárias e artísticas.
"A figura do macaco na arte, apesar de multifacetada, é sempre colocada à margem do comportamento humano. Ela foi usada de duas maneiras: para reforçar a ordem social humana através de degradação hierárquica ou para criticar a pretensa e hipócrita ordem social e revelar seus aspectos reprimidos, inconscientes e suas narrativas mitológicas", explica Peleg.
Artistas como Ines Doujak, Pierre Huyghe e Klaus Weber examinam de forma crítica a imagem de macacos sua relação com seres humanos através de diversos formatos, como o documentário etimológico, instalação, escultura, pintura e fotografia.
Multifacetada e marginal
A exposição está dividida em duas partes: trabalhos artísticos de um lado e documentos científicos, jornalísticos e textos da curadoria de outro.
Essa divisão é espacial, criando ambientes onde se pode aprender sobre os primatas, assim como as origens e a história da primatologia, a ciência que estuda a ordem dos primatas.
Além do material científico, jornalístico e artístico, a mostra também apresenta performances e palestras que aprofundam os temas discutidos por artistas, cientistas e primatologistas em obras e estudos.
Muita coisa em comum
O artista britânico Marcus Coates criou sua instalação Degreecoordinates em colaboração com o antropólogo Volker Sommer. As questões da instalação sobre a convergência de comportamento entre humanos e primatas são expostas em uma performance.
Em uma entrevista gravada com Sommer, o artista confronta questões levantadas em sua instalação. "Não devemos ter medo de admitir que temos muito em comum com os primatas e que constantemente imitamos seus comportamento", diz Coates durante a performance.
Ape Culture está em cartaz na Casa das Culturas do Mundo em Berlim até dia 6 julho.
Homens e macacos aos olhos da arte
Cientificamente, distância entre seres humanos e macacos é mínima. Seria a cultura a fronteira de ouro? Exposição "Ape Culture" em Berlim apresenta interpretações artísticas e científicas sobre a questão.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
O macaco humano
O mundo da arte adora mostrar macacos filosofando sobre a condição humana. Os primatas se tornaram monumentos literários na obra de escritores como E.T.A Hoffmann, Wilhelm Hauff e Franz Kafka. Na foto, Koko, a gorila falante, se tornou mundialmente famosa nos anos 1970. Um documentário de Barbet Schroeder (1978) mostra o treinamento de Koko, que mais parecia uma lavagem cerebral.
Foto: Les Films du Losange (Detail)
A bela e a fera
A Casa das Culturas do Mundo em Berlim faz um apanhado sobre os primatas na arte. Aqui, o chimpanzé torna-se amante da mulher de um diplomata na comédia "Max, meu amor" (1986). O diretor japonês Nagisa Oshima (1932-2013) ironiza as mudanças na condição social das mulheres. Considerado "o maior romance primata do cinema desde King Kong", Max satiriza a cultura extraconjugal da elite parisiense.
Foto: 2015 STUDIOCANAL GmbH, Berlin
O pensador
As ciências naturais e a cultura popular ilustram como a nossa percepção em relação aos macacos mudou radicalmente com o passar do tempo. O artista Klaus Weber lança um olhar crítico sobre a imagem dos macacos. Em sua colagem fotográfica "Beulen" (2008) cabeças de pessoas ilustres brotam como balões de quadrinhos do corpo de um primata de plástico que posa como pensador.
Foto: Klaus Weber
Realidade reinterpretada
O projeto "Flota Nfumu" (2009), de Filip Van Dingenen, foi inspirado no gorila albino "Floco de neve", o mais famoso residente do zoológico de Barcelona entre 1966 e 2003. Suas expressões faciais incrivelmente humanas o transformaram em um ícone pop. A instalação de Van Dingenen é composta por retratos que crianças fizeram de Nfumu, nome verdadeiro do macaco.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
Macacos e o poder
O deus macaco Hanuman é uma importante figura na cultura javanesa. No teatro de rua ele se comporta como mestre e senhor que ensina aos espectadores normas sociais. Em seu filme parcialmente surrealista "Macaco mascarado" (2014), os cineastas Anja Dornieden e Juan David González Monroy questionam as condições de trabalho e as relações de poder entre os macacos javaneses e seus donos.
Foto: Anja Dornieden & Juan David González Monroy (Detail)
Máscara humana
O curta-metragem do artista francês Pierre Huyghe foi inspirado em um vídeo do YouTube. O filme intitulado "Macaco Fuku-chan de peruca e máscara trabalha num restaurante" (2014) mostra um macaco em um restaurante de Tóquio com uma fantasia que o faz parecer uma menina. No filme de 19 minutos, o macaco usa uma máscara humana e imita os movimentos do clássico Teatro Nô japonês.
Foto: Marian Goodman Gallery, New York; Hauser & Wirth, London; Esther Schipper, Berlin; Anna Lena Films, Paris (Detail)
Visões de uma primata
A partir de 1968, os filmes da série "Planeta dos macacos" criaram um novo mundo de fantasia, cujas imagens se estabeleceram como parte da cultura pop, especialmente nos Estados Unidos. O vídeo de Coco Fusco "TED Etologia: Visões Primatas da Mente Humana" (2015) mostra uma palestra da pesquisadora Dr. Zira, chimpanzé feminista do filme.
Foto: Coco Fusco, TED Ethnology
O macaco em mim
Em sua obra, Erik Steinbrecher trabalha com imagens de camadas múltiplas e trocadilhos de palavras. A instalação "AFFE" (2015) é constituída de materiais naturais e inorgânicos. A escultura dá espaço para o espectador olhar sua própria imagem com outro significado. </br></br> A exposição "Ape Culture" está em cartaz na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, até 6 julho.