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Os Mann: à sombra do pai

(sv)14 de dezembro de 2005

A 'felicidade problemática' de ter Thomas Mann como pai sempre os colocou no centro das atenções. Agora a Casa da Literatura de Munique expõe em mais de 200 documentos a trajetória dos seis filhos do escritor.

Thomas e Katia Mann com os seis filhosFoto: Monacensia München
A proposta dos organizadores da mostra Os filhos de Thomas Mann – Visões de uma família é, além de expor detalhes da biografia de cada um dos seis descendentes diretos do escritor, traçar paralelamente um panorama cultural do século 20.

"Um período que vai desde os primórdios da história da família, com a infância em Munique, passando pelos anos 'selvagens' da República de Weimar, pela emigração a partir de 1933, as dificuldades no pós-guerra até ao passado recente", explicam os curadores.

Ou seja, ao retratar a família Mann, a exposição toca em assuntos extremamente atuais como emigração, exílio forçado e adoção de novos códigos culturais.

O fantasma do pai

'Os filhos dos Mann'Foto: Monacensia München

O interesse que desperta o sobrenome Mann sempre acompanhou os filhos do escritor. Seis personalidades: Erika (1905), Klaus (1906), Golo (1909), Monika (1910) , Elisabeth (1918) e Michael (1919).

Todos, mais cedo ou mais tarde, se voltaram de alguma forma para a literatura. Apesar dos inegáveis proveitos da "herança Mann" – como a rica infância em Munique e uma proximidade constante da arte e literatura – paira sobre a história do clã a dificuldade em obter o reconhecimento de um pai extremamente exigente.

"Uma pessoa como eu não deveria ter filhos"

A gravidade de viver à sombra do nome de Thomas Mann se contrapõe às palavras do próprio escritor registradas em seu diário: "Uma pessoa como eu não deveria nunca ter filhos".

Também a predileção de Thomas Mann pelas duas filhas Erika e Elisabeth, principalmente por esta última, permeia a exposição. Num contexto que praticamente excluiu o caçula da família, Michael, indesejado pelos pais mesmo antes de seu nascimento, como se pode ler nos diários de Thomas Mann.

Biografias extraordinárias

Thomas Mann e o filho MichaelFoto: Monacensia München

Michael viria a morrer em conseqüência de uma superdose de álcool e barbitúricos em 1976. O mesmo caminho que havia levado à morte de Klaus, em 1949. Já a segunda do clã, Monika, era considerada "inútil" pelos pais. Embora tenha publicado romances e críticas literárias nos 30 anos em que viveu em Capri, na Itália, seus pais ignoraram em vida suas ambições literárias por completo.

Enquanto Golo era considerado o mais parecido com o pai, Monika era sempre vista como a mais distante do "espírito de Mann". Michael, o único homem heterossexual da família, viveu nos Estados Unidos, tendo abandonado sua carreira de violinista para se tornar professor de Filologia Alemã na Universidade de Berkeley.

Diários completos

Além de expor a correspondência entre os irmãos e parte do acervo deixado por Elisabeth, a mostra na Casa da Literatura de Munique abre pela primeira vez uma versão completa dos diários de Klaus Mann a pesquisadores. Parte desse material não havia sido até hoje liberado pela família para acesso público.

Elisabeth, que se tornou uma oceanógrafa de renome, viveu na Itália e no Canadá até sua morte em 2002, como última sobrevivente entre os filhos de Thomas. Ao optar por uma carreira distante da literatura, Elisabeth é vista como a filha que melhor soube se distanciar da "felicidade problemática" (Golo) de ser filha de Thomas Mann.

A exposição – acompanhada pelo volume Os filhos dos Mann: Um álbum de família, (Ed. Rowohlt), de autoria dos também curadores Uwe Naumann e Astrid Roffmann – fica na Casa da Literatura de Munique até 26 de fevereiro de 2006.

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