Os motivos para a alta de casos de sarampo na Alemanha
Elizabeth Schumacher
27 de novembro de 2024
Doenças fatais como sarampo e hepatite B se disseminam no país, apesar das vacinas acessíveis. Médicos atribuem tendência à força dos ativistas antivacina nas redes sociais, a casos importados e à pandemia de covid.
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De acordo com o principal centro de controle de doenças do país, o Instituto Robert Koch (RKI, na sigla em alemão), "o sarampo voltou à Alemanha". O ano de 2024 registrou um aumento dramático no número de casos da doença, especialmente comum em crianças pequenas e que pode ser fatal. Cerca de 614 casos foram contabilizados até agora.
Em 2023, foram apenas 79 infecções e em 2022 foram contabilizados apenas 15 casos da doença. Entretanto, em anos anteriores já foram registrados números bem maiores, como em 2015 (2.470) e 2013 (1.770).
O sarampo é uma doença transmitida pelo ar que comumente causa erupções cutâneas e febre alta, sendo extremamente perigosa para crianças pequenas e que provocou a morte de 107,5 mil em todo o mundo em 2023.
Outras doenças que podem ser prevenidas por vacinas, como hepatite B e coqueluche, também estão em alta na Alemanha. Os motivos por trás disso são multifacetados e complexos, de acordo com os especialistas, indo da imigração à covid-19, passando pelo crescente ceticismo sobre vacinas e campanhas antivacina disseminadas nas mídias sociais.
Efeitos da pandemia da covid-19
"Quase todas as taxas de doenças infecciosas diminuíram durante a pandemia", diz o pediatra Axel Gerschlauer, de Bonn, atribuindo isso às medidas sanitárias da covid-19, como distanciamento social e uso de máscaras. Os efeitos colaterais ainda podem ser vistos em uma "hesitação em ir ao médico, exceto nos casos mais necessários, por medo do risco de infecção" dentro de um consultório.
Casos importados também são um problema. A médica Karella Easwaran, de Colônia, disse à emissora pública ARD que "hoje, há muitas pessoas viajando. Muitas pessoas imigrando para cá. Muitas crianças de zonas de guerra", onde as vacinas não estão disponíveis e cujos pais podem não estar cientes da necessidade da imunização quando chegam à Alemanha.
O mito da vacina com chip magnético
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Ceticismo sobre vacina
Depois, há a questão da hesitação em relação à vacina e do movimento antivacina. Gerschlauer alerta que os dois devem ser vistos como fenômenos separados.
"Com pais céticos, preocupações e medos podem frequentemente ser amenizados com explicações e estatísticas. Muitas vezes, um simples folheto informativo ou uma breve conversa é o suficiente", diz. No entanto, "com oponentes radicais da vacina, nossas mãos estão atadas. Eles vivem em sua própria bolha, que não podemos mais penetrar de fora."
De acordo com um estudo publicado no início de novembro pela empresa de pesquisa Statista, o ceticismo em relação à vacina tem aumentado constantemente na Alemanha, de 22% dos adultos em 2022 para 25% em 2024.
Já o movimento antivacina "hardcore" tem uma longa história na Alemanha, que remonta aos anos 1800, promovido por pessoas com várias agendas – de precursores antissemitas dos nazistas, que viam os avanços médicos vindos de médicos judeus com ceticismo, a grupos de médicos preocupados com a segurança de como as primeiras vacinas eram administradas.
De acordo com o Centro Federal de Educação em Saúde (BzgA, na sigla em alemão), o número daqueles que se dizem completamente antivacinas aumentou apenas ligeiramente nas últimas décadas, de 4% em 2004 para 6% em 2020. Seus números podem parecer maiores, no entanto, por meio da sua prevalência nas mídias sociais e do número de manifestações antivacinas que ocorreram na Alemanha em resposta à pandemia de covid-19.
Por isso, alguns médicos veem a obrigatoriedade de vacinas como medidas contraproducentes, que "adicionam combustível ao fogo antivacina" e podem ser tachadas como restrição às liberdades individuais.
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Pensamento esotérico
Estudos mostraram outros indicadores significativos de sentimento antivacina. Um relatório recente de médicos da Universidade de Freiburg, no sul da Alemanha, mostrou uma conexão entre o que eles chamaram de "pensamento esotérico" e hesitação e recusa à vacina.
Por exemplo, pessoas que eventualmente acreditam em homeopatia ou passaram por formas alternativas de educação, como escolas Waldorf, são mais propensas a ver as vacinas de forma crítica.
Outro estudo realizado pelo governo estadual da Saxônia em 2021 encontrou uma correlação entre apoiadores do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e ceticismo em relação à vacina.
O pediatra Axel Gerschlauer acredita que políticos e grupos de médicos poderiam ajudar a resolver o problema por meio de campanhas de informação.
"Quando você vê quanto esforço foi feito para anunciar a vacinação contra o meningococo B nos últimos anos, mesmo que essa vacina na época nem fosse recomendada pela [comissão de vacinas da Alemanha] Stiko na época, e quantas pessoas foram alcançadas por essa campanha publicitária, então você desejaria que o mesmo esforço fosse feito para a vacinação contra o sarampo!"
Doenças prevenidas com vacinas
Vacinas protegem o corpo, criando resistência contra doenças. As vacinas são feitas com substâncias e microrganismos inativados ou atenuados que, quando introduzidos no organismo, estimulam a reação do sistema imune.
Foto: picture-alliance/imagebroker
Catapora
Também chamada de varicela, é uma doença infecciosa altamente contagiosa, causada pelo vírus Varicela-Zoster. Os principais sintomas são manchas vermelhas e bolhas no corpo, acompanhadas de muita coceira, mal-estar, dor de cabeça e febre. As bolhas costumam surgir primeiro no rosto, tronco e couro cabeludo e, depois, se espalham. Em alguns dias, elas começam a secar e cicatrizam.
Foto: Dan Race/Fotolia
Sarampo
É uma doença infecciosa grave, que pode ser fatal, causada por um vírus do gênero Morbilivirus, transmitida através de secreção oral ou nasal. É tão contagiosa que uma pessoa infectada pode transmitir a doença para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes. Os principais sintomas são: manchas avermelhadas na pele, febre, tosse, mal-estar, conjuntivite, coriza, otite, pneumonia e encefalite.
Foto: picture-alliance/dpa/KEYSTONE/U. Flueeler
Hepatite B
Um dos cinco tipos de hepatite existentes no Brasil, a B é causado por um vírus. A falta de sintomas na fase inicial dificulta o diagnóstico. Muitas vezes, é detectada décadas após a infecção, por sintomas como tontura, enjoo, vômito, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados. Hepatite B não tem cura, mas o tratamento pode reduzir o risco de complicações, como cirrose e câncer hepático.
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Caxumba
É uma infecção viral aguda e contagiosa, que na maioria das vezes afeta as glândulas parótidas, que produzem a saliva, ou as submandibulares e sublinguais, próximas ao ouvido. É causada por um vírus e transmitida através de gotículas de saliva. O sintoma mais característico é o aumento das glândulas salivares. O agravamento da doença pode levar à surdez ou esterilidade.
Foto: Imago Images
Rubéola
É uma doença viral aguda, altamente contagiosa. A forma congênita, transmitida da mãe para o filho durante a gestação, é a mais grave porque pode provocar, por exemplo, surdez e problemas visuais no bebê. A transmissão acontece por meio de secreções expelidas ao tossir, respirar ou falar. Os principais sintomas são dor de cabeça e no corpo, ínguas, febre e manchas avermelhadas.
Foto: picture-alliance/dpa/J.P. Müller
Difteria
É uma doença transmissível causada pela bactéria Corynebacterium diphtheriae, que atinge as amígdalas, faringe, laringe, nariz e, ocasionalmente, outras partes do corpo, como pele e mucosas. A transmissão ocorre por meio da tosse, espirro ou por lesões na pele. Entre os principais sintomas estão: membrana grossa e acinzentada cobrindo as amígdalas, gânglios inchados e dificuldade para respirar.
Foto: picture-alliance/OKAPIA KG/G. Gaugler
Tétano
Ao contrário da maioria das doenças evitadas com vacina, o tétano não é contagioso. É causado por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani, que, sob a forma de esporos, é encontrada em fezes, na terra, em plantas e em objetos e pode contaminar pessoas por meio de lesões na pele, como feridas, cortes ou mordidas de animais. Um dos sintomas é a rigidez muscular em todo o corpo.
Foto: Imago Images
Tuberculose
É uma doença infecciosa causada pelo Mycobacterium tuberculosis, também chamado bacilo de Koch. Afeta principalmente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos e sistemas. Tem como principais sintomas tosse por mais de duas semanas, produção de catarro, febre, sudorese, cansaço e dor no peito. A transmissão ocorre pela respiração, por espirros e pela tosse.
Foto: picture-alliance/BSIP/NIAID
Febre Amarela
É uma doença infecciosa febril aguda, causada por um vírus transmitido por mosquitos vetores. Não há transmissão direta de pessoa para pessoa. Os principais sintomas são início súbito de febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. No ciclo silvestre, os vetores são mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes e, no ciclo urbano, é o Aedes aegypti.
Foto: R. Richter
Coqueluche
É uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. Se não for tratada, pode levar à morte de bebês menores de seis meses. A transmissão ocorre, principalmente, pelo contato direto com gotículas eliminadas por tosse, espirro ou fala. No começo, os sintomas são parecidos com os de um resfriado, mas podem evoluir para tosse severa e descontrolada, comprometendo a respiração.
Foto: Imago Images/blickwinkel/McPhoto
Poliomielite
Também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Nos casos graves, acontecem paralisias musculares irreversíveis. Devido à intensa vacinação, com a famosa "gotinha", no Brasil não há circulação do vírus desde 1990.