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Os notáveis resultados militares da Ucrânia no Mar Negro

Thomas Latschan
19 de fevereiro de 2024

Ucrânia diz ter afundado mais um navio de guerra russo. Se no front terrestre os ucranianos não têm resultados para festejar, no Mar Negro a situação é bem diferente.

Navio russo de desembarque Caesar Kunikov
O Caesar Kunikov, aqui em uso, foi afundado pela UcrâniaFoto: Sergey Pyatakov/Ria Novosti/dpa/picture alliance

O navio de desembarque russo Caesar Kunikov já havia passado por vários combates, como na Guerra da Geórgia, em 2008, e mais tarde na costa da Síria. Mas, na noite de quarta-feira passada (14/02), essa embarcação de mais de 112 metros de comprimento foi afundada pelas Forças Armadas ucranianas na península da Crimeia, comunicaram os militares ucranianos. Serviços secretos ucranianos divulgaram vídeos que mostram uma explosão seguida de um grande incêndio a bordo.

Essa não foi nem de longe a primeira vez que a Ucrânia relatou um sucesso militar no Mar Negro. Se as frentes em terra estão estagnadas há mais de um ano – sem progressos significativos de um lado ou de outro – no Mar Negro os militares ucranianos conseguiram quebrar o domínio da Marinha russa.

Isso contrasta fortemente com a situação nos primeiros dias da guerra iniciada pela Rússia. Numericamente, a frota russa no Mar Negro é muito superior à ucraniana. Logo após a eclosão da guerra, em fevereiro de 2022, os militares russos bloquearam os portos ucranianos e capturaram a estrategicamente importante Ilha das Serpentes, ao largo da costa romena. Além disso, espalharam inúmeras minas marítimas. A partir do sul, a Ucrânia parecia isolada do mundo.

Mas, pouco a pouco, os ucranianos conseguiram se libertar do cerco russo no mar. Já em abril de 2022, o exército ucraniano afundou o carro-chefe da frota russa no Mar Negro, o Moskva. Em junho, retomou a Ilha das Serpentes. Repetidamente atacou navios, portos e rotas de abastecimento russos. Em julho de 2023, danificou gravemente a ponte da Crimeia que liga a península anexada à Rússia continental.

Em outubro de 2023, a Marinha russa foi forçada a retirar a maior parte da sua frota de Sebastopol para a parte oriental do Mar Negro. Mas mesmo lá os seus navios de guerra nem sempre estão seguros. Mesmo no porto de Novorossiisk, a mais de 300 quilômetros ao leste de Sebastopol, a Ucrânia conseguiu danificar gravemente um navio de desembarque.

As ações ucranianas "mostram que os russos não conseguem se defender bem da artilharia naval e dos drones ucranianos", analisa o especialista em Eurásia Stephan Blank, do Instituto de Pesquisas em Política Externa, com sede em Washington. "Além disso, eles parecem não estar à altura da ameaça que a Ucrânia representa para eles."

A Rússia perdeu cerca de 40% de sua tonelagem de arqueação no Mar Negro desde fevereiro de 2022, afirmou o ex-coronel da Marinha dos EUA Mark Cancian, que é consultor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), num artigo para a revista Foreign Affairs.

Combinação incomum de armamentos

Segundo Cancian, a Ucrânia obteve esse resultado com uma combinação incomum de diferentes armas. Por um lado, ela contou com mísseis antinavios com alcance de até 200 quilômetros – em parte produzidos por ela mesma, em parte fornecidos por aliados ocidentais. Esses mísseis foram inicialmente projetados para serem disparados a partir do mar, mas os militares ucranianos os modificaram para que pudessem ser disparados de posições protegidas em terra, tornando-os menos vulneráveis a contra-ataques.

Um outro tipo de míssil de longo alcance fornecido pelos países ocidentais é, na verdade, projetado para atacar alvos estáticos em terra e não para disparos contra alvos móveis no mar. No entanto, a Ucrânia o utilizou de forma eficaz para atingir não apenas instalações portuárias, centros de logística e depósitos de suprimentos na Crimeia, como também navios de guerra ancorados em portos russos.

Kiev também está contando com drones navais – pequenas embarcações não tripuladas equipadas com explosivos que são difíceis de serem detectadas. Esses drones teriam um alcance de 800 quilômetros. Eles são controlados remotamente por uma câmera de vídeo, são muito flexíveis no uso, podem desviar de contra-ataques e também podem rapidamente mudar de alvo.

A Ucrânia fabrica a maioria desses drones navais, do tipo Magura V5. Ela os aprimorou continuamente ao longo da guerra e pode hoje produzi-los em série. Esses drones geralmente são usados em grupos, os chamados enxames de drones, o que dificulta ainda mais a defesa.

Com essa combinação incomum de armamentos, as Forças Armadas ucranianas já destruíram ou danificaram gravemente duas fragatas russas, cinco navios de desembarque e um submarino, além do Moskva, diz Cancian.

Resultados de importância estratégica

Esses resultados notáveis dos militares ucranianos proporcionaram um alívio notável em muitos aspectos. Principalmente no início da guerra havia o temor de manobras de desembarque russas na região de Odessa – hoje, a Ucrânia consegue majoritariamente manter os navios russos fora da parte ocidental do Mar Negro. "Isso também torna mais difícil para a Rússia manter as capacidades logísticas de suas Forças Armadas no sul da Ucrânia", analisa o especialista em Eurásia Stephan Blank. O Exército ucraniano, por sua vez, pôde deslocar para o front oriental muitos soldados que haviam sido enviados para proteger a costa sul da Ucrânia.

As consequências também puderam ser sentidas nas exportações de grãos da Ucrânia. Foi com muita dificuldade que a ONU conseguiu, em julho de 2022, intermediar um acordo de grãos que suspendeu o bloqueio naval russo e permitiu exportações ucranianas limitadas pelo Mar Negro, a partir dos portos na região de Odessa. No entanto, depois de apenas 12 meses, a Rússia se retirou do acordo e ameaçou atacar navios mercantes se eles continuassem a fazer escala na Ucrânia.

Essa ameaça nunca se concretizou. Apesar de, nesse meio tempo, a Ucrânia ter transferido parte de suas exportações de alimentos para o transporte ferroviário, ela também retomou as exportações pelo Mar Negro através dos portos de Constanta e Istambul – desde dezembro de 2023, essas exportações alcançam um volume até maior do que na época do acordo comercial da ONU.

A situação no Mar Negro, por si só, não levará a Ucrânia à vitória militar, pois o front em terra está estagnado. Mas, como analisa Cancian, os resultados navais dão à Ucrânia uma posição de negociação um pouco melhor se, em algum momento, houver negociações de paz com a Rússia.

Ucrânia caminha para guerra longa

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