Desde que foi anunciado, o "acordo do século" é tema de debate feroz em Israel. Político acha que força do plano está justamente em não ter sido discutido com palestinos. Para outros, paz está cada vez mais longe.
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Talvez o jeito não convencional de Donald Trump traga resultados? Oded Revivi, prefeito do assentamento de Efrat, na Cisjordânia, não descarta essa possibilidade. Ele escreveu no jornal Jerusalem Post que não está excluído que Trump, com seu modo atabalhoado, seja capaz de resolver um conflito em 13 presidentes americanos fracassaram até agora.
Será então que o plano de Trump é a solução de que o conflito no Oriente Médio – o aparentemente interminável confronto entre israelenses e palestinos – precisa tão urgentemente para, por fim, ser encerrado?
Oded Revivi, também presidente das comunidades judaicas nas regiões autônomas, está confiante: a força do plano de Trump está precisamente em não ter falado com os palestinos, afirma em seu ensaio para o Jerusalem Post.
"Qualquer plano apresentado sem impor condições aos palestinos, sem o reconhecimento do direito de Israel à existência e sem a desmilitarização [do lado palestino] está condenado ao fracasso", sublinhou. Para Revivi, as tentativas que falharam até agora sofreram com o fato de que a paz não pode ser negociada com quem visa a destruição de Israel.
Essa tese é rebatida pelo cientista político Jason D. Greenblatt, membro da equipe internacional de negociação do governo Trump, e Bishara A. Bahbah, ex-membro da delegação palestina nas negociações de paz multinacionais. Num artigo conjunto, também para o Jerusalem Post, ambos dizem não ser surpreendente se os palestinos rejeitarem inteiramente as propostas de Trump.
No entanto eles estão convencidos de que, em última análise, faria bem os palestinos se envolverem nas negociações. Só o fato de participarem já seria um sinal positivo, a ser seguido por uma aproximação e uma discussão produtiva sobre pontos polêmicos.
Última chance?
Os dois diplomatas argumentam que, após muitas negociações infrutíferas, uma nova oportunidade está se abrindo, possivelmente no longo prazo. "Os palestinos podem continuar esperando por um acordo político melhor. Mas, com toda probabilidade, tal acordo nunca chegará."
Com toda a probabilidade, Trump será reeleito, e os palestinos estariam diante de mais cinco anos sem qualquer avanço. Portanto Greenblatt e Bahbah sugerem que a população dos territórios autônomos esteja atenta ao desenvolvimento econômico. Eles creem que, "dentro de uma década, os palestinos possam ter sucesso econômico, praticar livre comércio e garantir investimentos. Não há razão para os palestinos não se tornarem mais uma 'sociedade start-up'."
Mas será que esse cenário é realista? O geoestrategista Shany Mor é cético. Se o plano fosse implementado, as áreas de assentamentos israelenses seriam territórios isolados dentro de um Estado estrangeiro. "Para que serve a soberania de Israel sobre uma dúzia de enclaves isolados no território de um Estado hostil e (provavelmente) fracassado? Como seria a situação militar no dia seguinte a um ataque terrorista inevitável?", pergunta Mor no jornal Times of Israel.
Ele está convencido de que os assentamentos espalhados por um futuro Estado palestino são tudo, menos propícios à segurança nacional. "Um plano que coloca um sorriso no rosto do movimento de assentamentos messianista pós-sionista não é necessariamente o que corresponde aos interesses nacionais de Israel. Via de regra, o oposto é verdade."
"Estado de apartheid entre Jordânia e o Mediterrâneo"
É semelhante a opinião do jornalista Nahum Barnea, do jornal Yedith Ahronoth: ele parte do princípio que o plano não será executado e que, sob as condições atuais, israelenses e palestinos não se aproximarão. E culpa seu próprio país por tudo isso: "Seja com ou sem o plano de Trump, Israel luta por uma solução de um Estado, um Estado de apartheid entre a Jordânia e o Mediterrâneo."
Gideon Levy, colunista do jornal Haaretz, também tem pouco a ganhar com o plano de paz de Trump. Os palestinos dificilmente aceitarão o acordo, pois ele contém apenas uma "caricatura de um Estado, e isso só depois de muitos anos – se é que ele existe".
E mesmo um tal Estado teria um grande preço, pois se baseia no fato de que os palestinos "concordaram com uma série de condições degradantes de submissão com nem mesmo o parceiro mais baixo na hierarquia jamais concordaria". Levy está convencido de que não haverá paz com esse plano: "Qualquer pessoa com um mínimo de senso moral deveria estar perplexa diante dessa terrível paz dos vencedores, que terminará bem para Israel, porém nunca para os israelenses."
Triunfo ou catástrofe? Para os judeus, o dia 14 de maio de 1948 marca o nascimento de um Estado próprio. Fundação do país também é origem de conflitos com populações vizinhas, que se estendem por décadas.
Foto: Imago/W. Rothermel
Triunfo da esperança
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion lê a Declaração de Independência de Israel perante o Moetzet HaAm (conselho do povo), em cerimônia tida como o ato de fundação do país. "Nunca perdeu a esperança", disse Ben-Gurion sobre o povo judeu. "Jamais cessou sua oração pelo regresso à casa e pela liberdade". Agora, os judeus estavam de volta à sua terra de origem - dispondo de seu próprio Estado.
Foto: picture-alliance/dpa
Novo tempo
A bandeira do novo Estado é logo içada em frente ao prédio das Nações Unidas, em Nova York. Para os israelenses, esse foi mais um passo em direção à segurança e à liberdade: eles finalmente conseguiam um Estado internacionalmente reconhecido.
Foto: Getty Images/AFP
Momento sombrio
O significado da fundação do Estado de Israel torna-se claro no contexto do Holocausto. Os nazistas assassinaram seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra. Nos campos de concentração, especialmente na Europa Central, eles mantiveram os judeus como trabalhadores forçados e os mataram em escala industrial. A imagem mostra os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz após a libertação.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
"Nakba" – a catástrofe
Os palestinos chamam a fundação de Israel como "nakba", a catástrofe. Cerca de 700 mil pessoas tiveram que deixar suas regiões para dar espaço aos cidadãos do novo Estado. Assim, a fundação de Israel é também o começo do chamado "conflito do Oriente Médio", que não foi resolvido nem mesmo após 70 anos, apesar de inúmeras iniciativas e tentativas de mediação.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Trabalhando pelo futuro
A Autoestrada 2 não apenas liga as cidades de Tel Aviv e Netanya, mas também documenta as aspirações do jovem Estado. A estrada foi aberta em 1950 pela então primeira-ministra israelense, Golda Meir, que colocou o país num rigoroso curso de modernização econômica e social.
Foto: Photo House Pri-Or, Tel Aviv
Infância no Kibutz
Os Kibutzim – plural de "kibutz" – eram assentamentos coletivos rurais espalhados por Israel, construídos principalmente nos primeiros anos após a fundação do Estado. Aqui, em sua maioria judeus seculares e socialistas realizam na prática suas ideias de comunidade.
Foto: G. Pickow/Three Lions/Hulton Archive/Getty Images
Estado defensivo
As tensões com os vizinhos árabes continuam. Em 1967, culminam na Guerra dos Seis Dias, durante a qual Israel derrotou os invasores de Egito, Jordânia e Síria. Ao mesmo tempo, Israel assume o controle, entre outras regiões, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia – motivos de novas tensões e guerras na região.
Foto: Keystone/ZUMA/IMAGO
Assentamentos na terra inimiga
A política israelense de assentamentos alimenta frequentemente o conflito com os palestinos. A Autoridade Palestina acusa Israel de impossibilitar um futuro Estado palestino com a construção contínua de assentamentos. As Nações Unidas também condenam a medida.
Foto: picture-alliance/newscom/D. Hill
Ódio e pedras
Em dezembro de 1987, os palestinos protestam contra a dominação israelense nos territórios ocupados. O protesto começa na cidade de Gaza e se espalha rapidamente para Jerusalém Oriental e Cisjordânia. A revolta dura anos e termina com a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993.
Foto: picture-alliance/AFP/E. Baitel
Enfim, a paz?
O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin (esq.), e o chefe da OLP, Yasser Arafat (dir.), realizam negociações de paz em 1993, mediadas pelo então presidente dos EUA Bill Clinton. Elas culminam no Acordo de Oslo I, em que ambos os lados se reconhecem oficialmente. O assassinato de Yitzhak Rabin, dois anos depois, praticamente enterra o tratado.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Cadeira vazia
O assassinato de Yitzhak Rabin provoca turbulência política na sociedade israelense. Moderados e radicais, judeus seculares e ultraortodoxos se afastam cada vez mais. Em uma manifestação em 4 de novembro de 1995, Rabin é morto a tiros por um estudante de direita radical. A imagem mostra o então primeiro-ministro Shimon Peres ao lado da cadeira vazia de seu antecessor.
Foto: Getty Images/AFP/J. Delay
Superando o passado
O genocídio dos judeus se reflete até hoje nas relações entre Alemanha e Israel. Em fevereiro de 2000, o então presidente alemão Johannes Rau faz um discurso no Parlamento israelense. Era mais um passo para superar o passado e reforçar a amizade entre os dois países.
Foto: picture-alliance/dpa
O muro israelense
A política israelense de assentamentos endurece as frentes do conflito com os palestinos. Em 2002, é construído um muro de 107 quilômetros na Cisjordânia. Embora tenha contribuído para suprimir a violência, a medida não resolve os problemas políticos do conflito entre os dois povos.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/S. Nackstrand
Reverência aos mortos
O novo ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, abraça resolutamente a tradição da reaproximação entre Alemanha e Israel. Sua primeira viagem ao exterior é ao Estado judaico. Em março de 2018, ele deposita uma coroa de flores em homenagem às vítimas do Shoa no Memorial Yad Vashem.