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Os refugiados da cidade fantasma

Greta Hamann (ca)17 de setembro de 2015

Manheim é um vilarejo na Alemanha que deixará de existir em 2022, quando escavadeiras de uma mina de carvão vegetal passarem por ali. Até lá, as casas deixadas para trás vêm servindo de lar para 73 requerentes de asilo.

Foto: DW/G. Hamann

A primeira coisa a chamar a atenção são as persianas fechadas. Depois, olhando mais de perto, veem-se também caixas de correio lacradas. Na velha Manheim, no oeste da Alemanha, o tempo parou desde que foi decidida a construção de uma nova versão do vilarejo, cerca de seis quilômetros a sudeste – ali, onde o solo não possui nenhum carvão vegetal a ser explorado.

O pátio da escola está vazio, a pequena piscina coberta secou, os nomes nas placas de rua esvanecem. Somente as maçãs nas árvores da "Rua do Esperanto" continuam a crescer sem se importar com os planos da companhia energética RWE.

Um menino passa de bicicleta pela praça com uma bandeira da Alemanha pendurada na garupa. Vê-se um homem sentado numa parada de ônibus. Em frente se encontra uma filial do banco Sparkasse – aberta de segunda a sexta por somente três horas e meia.

Círculo de mentores ajuda refugiados

Em outra rua, a maioria das persianas também está fechada. Mas nem todos estão dormindo. Uma menininha corre atrás de um cachorro, tão grande quanto ela própria. Ao lado dela está Gabi Walluga, que pede que a menina repita: "Deixa cair, Pepe!" A garota repete o que escutou. Suas palavras soam um pouco diferente, mas o cachorro entende. A bola cai aos pés dela.

A menina se chama Sofia, tem quatro anos e, desde o fim de 2014, é a nova vizinha de Volker e Gabi Walluga. Sofia tinha de ser operada e recebeu ajuda na Alemanha.

Os Walluga fazem parte de um círculo de mentores, fundado no fim de 2014, que apoia os refugiados. O porão deles está cheio de roupas, móveis e outros objetos – doações para os solicitantes de refúgio. A campainha não para de tocar. Mas raramente porque alguém precisa de um par de sapatos ou de uma cadeira. São principalmente os filhos dos requerentes de asilo quem passam por ali. Às vezes vem Ramzi, da Sérvia, querendo passear com Pepe, ou outra criança atrás de escovar o cavalo dos Walluga

Máquina automática de cigarros é a única "loja"Foto: DW/G. Hamann

"De noite, algumas vezes eu mesma tenho de dizer: agora chega", explica Gabi Walluga. "Muitos têm uma compreensão diferente do tempo." Ela diz então que explica aos novos vizinhos que, na Alemanha, ninguém toca a campainha dos outros depois das 20h, como também não se escuta música alta até tarde da noite ou se usa a madeira de móveis velhos para fazer churrasco.

"Então é a maior confusão. Mas isso faz parte da integração", conta Gabi, que procura se fazer compreender pelos refugiados usando gestos.

"Manheim não é modelo "

Há uma semana, os 65 mil habitantes do município de Kerpen, onde está localizada Manheim, tiveram que acolher 350 novos refugiados. Eles vieram para a caserna que a prefeitura transformou em abrigo de emergência. Outros 400 refugiados vivem em diferentes bairros, em parte em apartamentos, em parte em habitações coletivas, como edifícios de escritórios readaptados.

Em comparação, o idílio rural de Manheim se parece mais com uma dádiva para os 73 iraquianos, sérvios, bósnios, armênios, kosovares e somalis, que foram alojados ali. Espaço não falta. As pequenas casas têm jardim, as crianças podem brincar por todo o vilarejo. No entanto, o alojamento na antiga Manheim não é "modelo de futuro", como diz a encarregada do setor de integração da prefeitura de Kerpen, Annette Seiche.

"Não existe nenhum lugar onde as pessoas podem se reunir, como também nenhuma infraestrutura", afirma.

A loja mais próxima fica a quatro quilômetros de distância, o ônibus passa uma vez a cada hora. Além disso, em breve, os poucos "nativos" remanescentes vão se mudar: "Quanto mais pessoas vão embora, menor a possibilidade de integração."

Seiche ainda tem que considerar as diretrizes legais. Nos alojamentos, ela não pode ultrapassar uma determinada área em metros quadrados: "Isso significa que eu tenho que alojar duas famílias numa única casa, onde existe somente uma cozinha e um banheiro."

De pouco em pouco

Para os mais jovens, o clube da juventude da cidade abre suas portas de segunda a sexta. Mas, cada vez mais, os pais também os acompanham. É o único lugar em que podem se encontrar. O círculo de mentores em torno do pastor Neuhöfer organiza uma vez por semana um curso de alemão no salão paroquial. E Gabi Walluga já está planejando a próxima atividade, uma creche para as crianças mais novas.

"Você sempre pode falar, falar, falar e ver isso na TV. Nós não entramos em desespero, mas fazemos o pouco que podemos fazer. Assim podemos ajudar", descreve Gabi. Ela e seu marido afirmam não querer ser vistos como voluntários. Eles são vizinhos, não mais nem menos, diz Volker.

Gabi Walluga, professora e terapeuta. Para ela e o marido, não se trata de refugiados, mas de vizinhosFoto: DW/G. Hamann

Ele afirma estar muito irritado com a nova política de refugiados da União Europeia e com o ideário de extrema direita. Já na época em que trabalhava numa instalação da RWE, ele discutia com seus colegas sobre a xenofobia e o medo de muitos alemães de ser privados de alguma coisa: "Quando ajudamos, damos às pessoas coisas que, de outra forma, iriam parar num contêiner ou num recipiente para a coleta de roupa velha."

Em Manheim, pode-se ver nas ruas o que normalmente acaba nos contêineres de lixo das famílias alemãs. Os objetos ficam em frente das casas das pessoas que estão de mudança, o que era o caso também naquele dia. Ao lado da porta, uma prateleira branca; na frente da casa, dois velhos refrigeradores. Eles estão no meio de um vilarejo que em breve vai desaparecer.

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