Os riscos por trás da retórica incendiária entre as Coreias
Julian Ryall
17 de outubro de 2024
Países colocam seus militares em estado de alerta. Analistas dizem que instabilidade em Pyongyang torna mais complicado prever as futuras ações de um regime que se encontra encorajado pela nova aliança com Moscou.
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Os eventos potencialmente incendiários na Península da Coreia nos últimos dias vêm aumentando as preocupações na região.
"Não há mudanças perceptíveis na vida cotidiana aqui em Seul, mas temos que estar cientes da situação que está emergindo na península", disse Kim Sang-woo, ex-membro do partido esquerdista Congresso Sul-Coreano para Novas Políticas e atual integrante do conselho da Fundação Kim Dae-jung para a Paz.
"Na verdade, não acredito que a Coreia do Norte queira ou esteja pronta para uma guerra", afirmou à DW, acrescentando que Pyongyang estaria praticando uma tática de provocação. "No entanto, temo que um choque acidental possa levar a outras consequências imprevisíveis e possa facilmente se transformar em um grande conflito."
Kim acredita que ambos os lados precisam tentar aliviar as tensões, mas ressalta que isso parece não estar acontecendo.
Em 11 de outubro, a Coreia do Norte acusou os militares do país vizinho de enviar drones sobre Pyongyang em três ocasiões e espalhar folhetos de propaganda.
Autoridades de Defesa em Seul negaram o envio de drones, mas se recusaram a dizer de onde eles poderiam ter partido, o que gerou especulações de que eles podem ter sido operados por grupos de dissidentes e desertores.
Ordens para abater drones
Impassível, o líder norte-coreano Kim Jong-un convocou uma reunião de suas lideranças militares. As unidades antiaéreas na fronteira teriam recebido ordens para abater quaisquer drones que fossem detectados.
A irmã do ditador, Kim Yo-jong, descreveu a Coreia do Sul como um "vira-latas" e alertou em uma declaração que "os provocadores terão que pagar um preço alto."
Seul reagiu colocando suas próprias unidades em alerta. O governador de uma província na fronteira identificou uma série de zonas de perigo que poderiam ser alvos de ataques de artilharia dos norte-coreanos.
O Ministério da Defesa em Seul alertou que Pyongyang testemunhará o "fim de seu regime" se algum cidadão sul-coreano acabar sendo ferido em qualquer confronto.
Nesta terça-feira, a Coreia do Norte escalou as tensões ao explodir estradas que levam à Zona Desmilitarizada (DMZ) na fronteira entre as duas nações, o que Seul avaliou como um gesto simbólico projetado para sublinhar o abismo que separa os dois países.
O povo sul-coreano vive há gerações à sombra de um vizinho agressivo, imprevisível e com armas nucleares. No momento, não há sinais aparentes de alarme nas ruas de Seul ou Busan.
Analistas, porém, apontam uma série de mudanças fundamentais recentemente adotadas na Coreia do Norte que parecem ter alterado sua dinâmica interna e externa, o que torna mais complicado prever suas ações futuras
O regime norte-coreano foi reforçado por uma nova aliança militar com a Rússia, o que pode estar dando coragem a Pyongyang. No entanto, está cada vez mais claro que a economia norte-coreana está enfraquecida e que as pessoas comuns lutam para sobreviver.
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Kim pretende "reunir o povo em torno de si"
"A Coreia do Norte atravessa dificuldades internas, e Kim está tentando reunir o povo em torno de si", disse Kim Sang-woo. "A situação econômica é tão ruim que está causando sérias tensões. Assim, ao dizer ao seu povo que a Coreia do Sul e os Estados Unidos pretendem destruir o seu país, Kim Jong-un espera ganhar a lealdade da população".
Junto com as dificuldades diárias que as pessoas comuns têm de enfrentar, mais e mais norte-coreanos tomam conhecimento sobre as vidas confortáveis das pessoas na Coreia do Sul por meio de pen drives que são contrabandeados pela fronteira.
Pyongyang enxerga nisso uma ameaça ao seu regime e está tentando eliminar essa prática com punições cada vez mais draconianas.
"As gerações mais jovens têm menos fé em Kim, o que deixa instável a situação", disse Lim Eun-jung, professora de estudos internacionais na Universidade Nacional de Kongju. Ela acredita que a Coreia do Norte "sente fadiga" em relação à propaganda do regime.
"Fazer ameaças à Coreia do Sul é mais barato do que disparar mais mísseis ou realizar outro teste nuclear, mas também é irônico que eles reclamem de drones lançando propaganda, porque a Coreia do Norte enviou milhares de balões carregando lixo para a Coreia do Sul nos últimos meses", afirmou à DW.
Retórica afiada, posição enfraquecida
O governo sul-coreano estima que mais de 6 mil balões norte-coreanos carregando lixo cruzaram a fronteira nos últimos quatro meses, sendo que alguns causaram danos a edifícios e veículos e outros provocaram incêndios.
"A Rússia vem apoiando Pyongyang e recentemente criticou Seul por enviar um drone para a Coreia do Norte. Moscou, porém, nada disse sobre os balões que invadem nosso espaço aéreo", observou Lim.
Ela disse que Kim Jong-un pode ter a sensação der que seu regime estaria protegido por sua aliança com o presidente russo, Vladimir Putin, mas esse pacto estaria em um "período de lua de mel" que deve fracassar rapidamente quando a Coreia do Norte não tiver mais nada do que a Rússia precisa.
Kim Sang-woo acredita fortemente que, apesar de toda a grandiloquência, a Coreia do Norte não sairia vencedora de uma guerra contra a Coreia do Sul e seus aliados. "Não é que eles não estariam dispostos a ir para a guerra, mas sim, que eles não são capazes, porque suas forças convencionais não sobreviveriam", afirmou.
Ele concorda que as armas nucleares continuam sendo o "coringa" do regime norte-coreano, mas diz duvidar que o próprio Kim ou seus generais estariam dispostos a utilizá-las, sabendo que as consequências significariam o fim do país.
O mês de outubro em imagens
O mês de outubro em imagens
Foto: Tomer Neuberg/Xinhua/dpa/picture alliance
Israel confirma ter matado o chefe do Hamas
Yahya Sinwar foi mentor dos ataques de 7 de outubro. Ele assumiu a liderança do grupo extremista em julho, ao suceder Ismail Haniyeh, morto no Irã em ataque atribuído a Israel. Netanyahu diz que "guerra não acabou", mas líderes mundiais veem marco no conflito e pedem liberação de reféns. (17/10)
Foto: MAHMUD HAMS/AFP/Getty Images
Quando um desenho resulta em dois anos de prisão
Em abril de 2022, a russa Masha Moskaleva, de 12 anos, fez na escola um desenho em oposição à guerra na Ucrânia. Isso alertou as autoridades contra seu pai solo. Nas redes sociais, ele teria "desacreditado" o Exército, sendo levado a julgamento. Agora Alexei Moskalyov finalmente saiu da cruel colônia penal onde passou 22 meses. Ativistas acusam repressão como na época soviética. (16/10)
Foto: Maria Moskaleva
Coreia do Norte explode estradas que conectam a Seul
Segundo informações divulgadas pelo Exército sul-coreano, Pyongyang "detonou partes das estradas de Gyeongui e Donghae ao norte da Linha de Demarcação Militar". Seul reagiu com o disparo de tiros de advertência. Essas estradas são consideradas simbólicas na ligação de dois países separados desde a Guerra da Coreia, no início dos anos 50. (15/10)
Foto: Lee Sang-hoon/Matrix Images/picture alliance
Nobel de Economia premia estudo sobre prosperidade de nações
A Real Academia Sueca de Ciências em Estocolmo concedeu o Prêmio Nobel de Economia de 2024 a um trio de pesquisadores baseados nos Estados Unidos. O turco-americano Daron Acemoglu e os britânico-americanos Simon Johnson e James A. Robinson foram escolhidos por suas pesquisas sobre as diferenças de prosperidade entre as nações. (14/10)
Foto: Christine Olsson/TT/picture alliance
Tanques israelenses invadem base da Unifil no Líbano
Missão de paz da ONU no Líbano relatou que dois tanques israelenses destruíram o portão principal e forçaram a entrada em uma base no sul do país. Secretário-geral da ONU diz que tais instalações "jamais devem ser alvos". "Ataques contra forças de paz são uma violação das leis internacionais e podem constituir crimes de guerra", criticou António Guterres. (13/10)
Foto: Thaier Al-Sudani/REUTERS
China anuncia novo pacote de estímulo à economia
China anuncia novo pacote de estímulo à economia com base em um aumento considerável em sua emissão de dívida pública, no intuito de apoiar governos regionais, cidadãos de baixa renda, mercado imobiliário e bancos estatais.A segunda maior economia do mundo enfrenta grandes pressões deflacionárias devido a uma forte desaceleração no mercado imobiliário e à queda na confiança do consumidor. (12/09)
Foto: Alex Plavevski/EPA
Organização antinuclear japonesa ganha Prêmio Nobel da Paz
A organização japonesa Nihon Hidankyo, fundada nos anos 1950 por sobreviventes de bombas atômicas, recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2024 por sua atuação contra as armas nucleares. Segundo o comitê do Nobel, a entidade foi escolhida "por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de testemunhas, que essas armas nunca mais devem ser usadas". (11/10)
A escritora sul-coreana Han Kang foi laureada com o Prêmio Nobel de Literatura, anunciou a Academia Sueca, em Estocolmo. Segundo a instituição, Han foi escolhida "por sua prosa poética intensa que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana." (10/10)
Foto: Alastair Grant/AP/dpa/picture alliance
Preparativos para chegada da supertempestade
A Agência Federal de Gestão de Emergências (Fema, na sigla em inglês) advertiu que o furacão Milton será "catastrófico e mortal" e pediu que os moradores usem as últimas horas antes da chegada da tempestade para deixar a área e, para aqueles que não conseguirem, que "busquem refúgios seguros imediatamente". A expectativa é que o furacão se torne o "mais devastador em 100 anos". (09/10)
Foto: JOE RAEDLE/Getty Images/AFP
Moraes determina desbloqueio do X após rede social cumprir exigências
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou o desbloqueio da rede social X no Brasil, após o cumprimento de várias exigências relacionadas a um processo no qual a empresa era acusada de disseminação de desinformação e discurso de ódio. O X pagou multas de R$ 28 milhões determinadas pelo STF pelo descumprimento de ordens judiciais. (08/10)
Foto: Jorge Silva/REUTERS
Um ano dos ataques do Hamas em Israel
Data marca primeiro aniversário dos ataques terroristas do grupo radical Hamas em solo israelense, que resultaram em cerca de 1.200 mortes, além de mais de 250 reféns levados pelo grupo islâmico para a Faixa de Gaza. Reação de Israel gerou ampla destruição e grave crise humanitária no enclave palestino. (07/10)
Foto: Jim Urquhart/AP Photo/picture alliance
Brasil vai às urnas para eleições municipais
Eleitores de 5.569 municípios do Brasil foram às urnas para escolher os prefeitos e vereadores que os representarão pelos próximos quatro anos. Em todo o país, com exceção do Distrito Federal, 155.912.680 de eleitores estavam aptos a votar. (06/10)
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Trump faz novo comício em local onde sofreu atentado
Com segurança reforçada, o ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca Donald Trump voltou a Butler, no estado da Pensilvânia, para liderar novo comício no local onde sofreu uma tentativa de assassinato em julho. Trump discursou ao lado do emresário Elon Musk no mesmo palco onde, em 13 de julho foi atingido de raspão na orelha direita por um tiro de fuzil. (05/10)
Foto: Jasper Colt/USA TODAY Network/IMAGO
Elefantes ficam presos após enchente na Tailândia
As enchentes no norte da Tailândia inundaram a cidade de Chiang Mai e o Elephant Nature Park, que abriga cerca de 3 mil animais resgatados. Conservacionistas fizeram uma força-tarefa para resgatar os animais, mas um elefante morreu afogado e outros 30 ainda estão desaparecidos. Segundo as autoridades,o rio Ping Rive atingiu seu maior nível da história. (04/10)
Foto: Thapanee Eadsrichai/REUTERS
Morre Cid Moreira, ícone do telejornalismo brasileiro
O apresentador Cid Moreira morreu aos 97 anos. Ele se tornou o rosto mais marcante do Jornal Nacional, da Rede Globo, e da televisão brasileira. Cid apresentou o JN por mais de 25 anos, liderando aproximadamente 8 mil edições do telejornal. Dono de uma voz grave, a partir do início dos anos 1990 dedicou-se também a gravar salmos bíblicos (03/10)
Foto: Leandro Chemalle/TheNews2/IMAGO
Israel proíbe entrada de secretário-geral da ONU no país
Ministro israelense do Exterior declara António Guterres "persona non grata" por não ter condenado ataque iraniano "de forma inequívoca". Guterres emitiu declaração com alerta sobre escalada do conflito no Oriente Médio. (02/10)
Foto: Richard Drew/AP Photo/picture alliance
Irã ataca Israel com mísseis balísticos
O Irã disparou cerca de 180 mísseis contra Israel, em retaliação ao acirramento da campanha do Estado judeu contra alvos apoiados pelo regime iraniano, como o grupo radical palestino Hamas e o libanês Hezbollah. Israel e EUA afirmaram ter abatido a maior parte dos disparos. Os estilhaços deixaram duas pessoas feridas, mas as promessas de represália sinalizam agravamento do conflito. (01/10)