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Os social-democratas e o otimismo da era Willy Brandt

Jeanette Seiffert (ca)21 de maio de 2013

Início do primeiro governo sob a liderança do SPD, a partir de 1969, foi considerado por muitos como um novo "marco zero" na História da Alemanha. Mas o otimismo foi rapidamente seguido por desilusão.

Foto: picture-alliance/akg-images

"Nós começamos com uma premissa: agora vamos remodelar tudo", disse o então chefe de gabinete da Chancelaria Federal, Horst Ehmke, sobre o início do mandato após as eleições parlamentares de 1969. "Nós mal podíamos andar com tanta energia. Esse sentimento de que é possível refazer tudo possui algo mágico."

As expectativas eram enormes, principalmente entre a geração mais jovem, que havia sido politizada nos anos anteriores pelo movimento estudantil e pela chamada Oposição Extraparlamentar (APO, na sigla em alemão): a "geração de 1968".

Em auditórios e nas ruas, eles protestaram contra a Guerra do Vietnã, as leis de emergência e pelo resgate e discussão do passado nazista. Sentiam-se parte de um movimento mundial de emancipação e democracia, e a chegada ao poder do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) foi considerada por muitos como a consequência lógica de uma mudança de consciência numa sociedade que exigia mais abertura e liberalismo.

O "Kennedy alemão"

"Queremos mais democracia." Foi com esta frase central, de sua primeira declaração como novo chanceler federal, que Willy Brandt atingiu em cheio a geração rebelde. Quando ele aceitou a sugestão de Erhard Eppler, ministro da Cooperação Econômica já na época da "grande coalizão" (1966-1969), Brandt tinha exatamente a "geração 68" em vista.

"Na ocasião, eles não paravam de falar: 'Nós estamos numa situação idêntica ao ano de 1932, a democracia está dando seus últimos suspiros'. Eu queria que Brandt rebatesse a posição deles, e lhe aconselhei então o enunciado: 'Nossa democracia não está no final, nós só começamos'. E ele incorporou a formulação", declarou Eppler.

Protesto contra o 'mofo de mil anos' nas universidades alemãsFoto: picture-alliance/dpa

Por outro lado, Horst Ehmke já advertia na ocasião sobre o outro lado da moeda. "Assim nós certamente despertamos um horizonte de expectativas simplesmente elevadas demais."

No entanto, o início da coalizão entre social-democratas e liberais foi marcada por um entusiasmo sem precedentes para fazer reformas. Se as primeiras décadas após a Segunda Guerra lançaram um enorme dinamismo econômico, em nível social os resquícios negativos da era Konrad Adenauer (chanceler federal entre 1949 a 1963) ainda pairavam sobre o país.

"Não se deve esquecer que a Alemanha ainda era um país autoritário, mesmo depois da Segunda Guerra", diz Jo Leinen, que, como tantos outros jovens estudantes, havia ingressado no SPD e hoje representa o partido no Parlamento Europeu. "No final da década de 1960, no início dos anos 1970, houve o rompimento: primeiramente nas universidades, e mais tarde também nas empresas."

A homossexualidade, que ainda era passível de punição judicial, foi legalizada, da mesma forma que o sexo antes do casamento e o adultério; a maioridade e a idade eleitoral foram rebaixadas de 21 para 18 anos; fundaram-se escolas e faculdades integradas; e foi introduzida uma maior participação nas empresas: em poucos meses, a recém-eleita coalizão social-liberal promoveu um número considerável de reformas.

Especialmente com sua nova política para o Leste – simbolizada pelo ato histórico de se ajoelhar em Varsóvia, em dezembro de 1970 – Willy Brandt também estabeleceu marcos na política externa. Por meio de uma política de aproximação com a antiga República Democrática Alemã (RDA), conseguiu aliviar, por exemplo, a situação de muitas pessoas no conflito Ocidente-Oriente.

Willy Brandt e John F. Kennedy, em BerlimFoto: picture-alliance/dpa Fotografen

Linhas de batalha

O que para alguns já tinha ido longe demais, para outros ainda não era suficiente: uma parte da ala esquerdista do SPD, sobretudo os chamados Jovens Socialistas, exigiam não somente reformas sociais, como também a derrubada do capitalismo.

O poder na República Federal da Alemanha – assim descreveu após uma convenção política, em 1971, o então líder dos Jovens Socialistas, Karsten Voigt, na típica linguagem incompreensível de ex-universitários treinados sob a filosofia marxista – ainda está nas mãos do capital.

"E, portanto, não se pode falar de uma predominância das forças do movimento trabalhista, mas pode-se falar do desenvolvimento de um poder de reação contra a hegemonia existente do capital", disse então.

Limitar o investimento empresarial, oferecer transporte público gratuito e proibir salários acima de 5 mil marcos: para os "jovens selvagens" não existia exigência radical que não pudesse ser divulgada publicamente. Algumas dessas exigências desempenham ainda hoje certo papel em discussões públicas como, por exemplo, a limitação dos salários dos executivos.

De qualquer forma, as lideranças partidárias se deixaram provocar por tais reivindicações – e o ponto alto de uma verdadeira onda disciplinar foi a expulsão partidária do então líder dos Jovens Socialistas, Klaus-Uwe Benneter, em 1977. Com ele, foram expulsos também milhares de jovens membros do SPD, em sua maioria acusados de uma estreita aproximação com grupos comunistas.

Pragmatismo

"Existiam grandes planos para a transformação da sociedade – mas pouco resultou disso", lembra Jo Leinen. "Muito do que os Jovens Socialistas e jovens universitários sonharam em termos de democracia econômica e justiça distributiva não saiu do lugar."

Karsten Voigt na convenção do SPDFoto: Ludwig Wegmann-sa

Isso se deveu em parte porque o cenário econômico ficou cada vez mais sombrio: a inflação subiu; o desemprego cresceu em taxas sem precedentes; e a escassez mundial de petróleo a partir de 1973 agravou o clima de crise. A euforia se transformou em desilusão em 1974, quando Willy Brandt deu lugar ao pragmático e defensor do liberalismo econômico Helmut Schmidt, após o escândalo de espionagem em torno de Günter Guillaume, assessor do chanceler.

Poucos meses depois de sua renúncia, Brandt destacou, em entrevista ainda na condição de presidente do partido, como era importante querer transformar a sociedade – mas, afirmou, o ritmo das reformas também depende das possibilidades financeiras: "Em períodos como o atual, quando o que importa é impor o mais alto padrão de estabilidade, é importante também ser acentuadamente contido nos gastos públicos."

A resistência contra o armamentismo e a proteção ambiental – esses eram temas que interessavam a parcelas cada vez maiores da sociedade. Helmut Schmidt, por outro lado, apostava na energia nuclear e na chamada "dupla decisão da Otan". A época em que os socialistas haviam se colocado no topo das mudanças sociais havia chegado ao fim. E para Jo Leinen, foi uma grande decepção:

Manifestação do Partido Verde em 1981Foto: ullstein bild - BPA

"Meu desejo era que os social-democratas tivessem encontrado mais rapidamente e mais cedo a unidade entre o mundo do trabalho e da economia, de um lado, e o mundo da ecologia, do outro", afirma Leinen. "E o preço foi a criação de um novo partido, o Partido Verde."

Um erro que o SPD viria a repetir 20 anos depois – e justo num momento em que os social-democratas tiveram, mais uma vez, a oportunidade de moldar ativamente a política. Com sua Agenda 2010 no primeiro governo de coalizão entre social-democratas e verdes, a partir de 1998, o terceiro chanceler federal social-democrata, Gerhard Schröder, impôs as chamadas "Reformas Hartz". Novamente, o SPD criava a própria concorrência em forma de um partido de união da esquerda alemã – A Esquerda –, que se posicionou contra o desmantelamento do Estado de bem-estar social.

O secretário-geral, que foi encarregado de defender as reformas trabalhistas diante da opinião pública, chamava-se nada menos que Klaus-Uwe Benner: o homem que, 20 anos atrás, havia sido expulso do partido devido à sua proximidade com os comunistas.

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