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Os temores de uma nova corrida nuclear

Marcel Fürstenau | Silke Diettrich rk
6 de dezembro de 2017

Não é só a Coreia do Norte. Também outros países, como Índia e Paquistão, alimentam o medo de um conflito nuclear, enquanto EUA e Rússia se afastam da política de desarmamento.

Mísseis balísticos são exibidos durante uma parada militar na Coreia do NorteFoto: picture-alliance/AP Photo

O mundo vê com apreensão os lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais pela Coreia do Norte e os testes nucleares do país liderado por Kim Jong-un, mas outros países também alimentam temores de um conflito nuclear, especialmente num momento em que Rússia e Estados Unidos parecem questionar acordos internacionais de desarmamento.

Há 30 anos, no dia 8 de dezembro de 1987, os EUA e a União Soviética assinaram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), que prevê a eliminação de mísseis balísticos e de cruzeiro – nucleares ou não – com alcance entre 500 e 5.500 quilômetros. Até junho de 1991, 2.692 foram destruídos.

Para especialistas, a continuidade do acordo está em risco, assim como as bases da confiança que levaram Ronald Reagan, então presidente dos EUA, e o presidente soviético na época, Mikhail Gorbatchov, a fecharem um acordo que também inclui a permissão para inspeções militares mútuas.

Leia também: Coreia do Norte, o medo dos mísseis e a diplomacia

Como herdeira da União Soviética, a Rússia provavelmente tem pouco interesse em prolongar o tratado. O motivo: mísseis de médio alcance estacionados na China, na Índia e no Paquistão. Para Bernd Greiner, diretor do Centro Berlinense de Estudos sobre a Guerra Fria, os Estados Unidos também cogitam deixar o acordo. Diante disso, Greiner se diz preocupado com a segurança global. "O debate sobre a ameaça ao tratado está muito aquém do que deveria estar."

O especialista Oliver Meier, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, não vê uma percepção das lideranças americana e russa de abrir mão de armas nucleares ou químicas por causa de políticas de segurança. Essa seria a principal diferença entre as abordagens política de então e de hoje. Para Meier, chama a atenção que as lideranças políticas em Moscou e Washington ignoram esse tipo de raciocínio.

Ronald Reagan (e.) e Mikhail Gorbachov (d.) assinaram Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário em 1987Foto: picture-alliance/dpa/AFP

Novo significado das armas nucleares

A vice-encarregada do governo alemão para questões de desarmamento e controle de armas, Susanne Baumann, é reticente diante da possibilidade de o mundo estar diante de uma nova espiral de armamento nuclear. Porém, ela acha que alguns países dão um significado totalmente novo às armas nucleares. O exemplo mais gritante é a Coreia do Norte, "que tenta cavar um espaço no mundo por meio de um programa nuclear".

As bombas atômicas também teriam ganhado mais importância na retórica russa nos últimos anos. Mas, na opinião de Baumann, não se pode falar em "renuclearização".

Na Coreia do Norte, ato reúne multidão para comemorar míssil

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Já Andreas Wirsching, do Instituto de História Contemporânea de Munique, considera que as armas nucleares significam "prestígio e interesses de segurança – objetivos ou [apenas] assim percebidos". Para ele, a Coreia do Norte é apenas a ponta do iceberg, pois há vários países que possuem armas nucleares uma realidade que altera a situação global de segurança e atualiza a antiga oposição entre Oriente e Ocidente.

Para Wirsching, a palavra-chave para os dias atuais é confiança – e esta se perdeu "completamente" por motivos como o fracasso do Ocidente de incluir a Rússia num "sistema coletivo de segurança" após 1990, ou com a expansão da Otan para o Leste Europeu. Por outro lado, o Ocidente fez várias ofertas à Rússia para modificar o status quo. "[Mas, depois da anexação da Crimeia pela Rússia], é muito difícil reconquistar a confiança", diz Wirsching.

Índia e Paquistão

Um exemplo do belicismo crescente entre nações são os arquirrivais Índia e Paquistão. Com o objetivo de exibir poderio ao inimigo e obter assim um efeito de dissuasão, os dois países expandem continuamente seus arsenais.

A Índia se comprometeu a não ser a primeira a usar armas nucleares, mas continua planejando a construção de novas unidades para enriquecer plutônio e urânio. Em dimensão semelhante à da Índia, o Paquistão também aumentou seu número de ogivas, de no máximo 130 em 2016 para até 140 em 2017. As duas nações estão entre os cinco países não signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). Os demais são Israel, Coreia do Norte e Sudão do Sul.

O Exército paquistanês detonou sua primeira bomba atômica em 28 de maio de 1998, causando consternação internacional. Dezessete dias antes, o então ex-presidente indiano Abdul Kalam anunciara que seu país havia realizado testes nucleares. "O que quer que estejamos fazendo aqui serve à segurança nacional", declarou, na época. Kalam ficou conhecido como "Homem dos Mísseis" por sua colaboração para o progresso do programa nuclear do país.

Do lado paquistanês, o propulsor do programa de desenvolvimento nuclear foi o cientista Abdul Cadir Khan. "As pessoas no Paquistão me amam por isso, porque eu salvei o país da Índia e de outros inimigos. Eu lhes dei uma arma de defesa que ninguém no mundo é capaz de destruir", afirmou o cientista. Ele ficou conhecido como "o homem mais perigoso do mundo" por ter tentado vender seus conhecimentos nucleares a países como Irã, Líbia e Coreia do Norte.

A corrida armamentista entre Índia e Paquistão é acirrada desde o início. Mal um país anunciava o sucesso de um lançamento de míssil balístico e logo ela era seguido pelo outro. Em 2002, ambos estiveram à beira de uma guerra nuclear depois que terroristas atacaram o Parlamento em Nova Déli.

O programa nuclear da Índia, porém, também visa o equilíbrio de forças com a China. Já o Paquistão tem argumentos parecidos em relação à Índia. "É óbvio que o Paquistão nunca vai conseguir alcançar o nível de desenvolvimento militar da Índia. Mas precisa continuar desenvolvendo seus mísseis para obter um mecanismo de dissuasão eficaz e que possa ser levado a sério", diz o ex-general Talat Masood.

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Marcel Fürstenau Autor e repórter de política e história contemporânea, com foco na Alemanha.
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